SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Enquanto durou a Segunda Guerra, entre 1939 e 1945, a então Tchecoslováquia foi ocupada pelas forças nazistas da Alemanha. Após o fim do conflito bélico, com os checos ávidos por celebrar a liberdade e a cultura local, foi criado em 1946 o Festival Internacional de Música da Primavera de Praga.

O evento também precisou sobreviver ao período da Guerra Fria e do controle soviético. Hoje, chega aos seus 80 anos de atividades ininterruptas como o principal festival de música clássica no país e um dos mais tradicionais na Europa —no ano de 2020, sem concertos presenciais, teve apresentações online, devido à pandemia de Covid.

A cada temporada, orquestras, quartetos, coros, solistas e intérpretes se apresentam na cidade, exaltando principalmente na programação nomes como os dos compositores checos Antonín Dvorák e Leos Janácek, em um evento que exalta a história, mas abre espaço para novos talentos.

Aquela primeira edição, em 1946, foi inaugurada com a Orquestra Filarmônica Tcheca, regida por Kresimir Baranovic. Mas outro nome acabou entrando para a história do festival, o de um jovem maestro norte-americano que fazia sua primeira apresentação no continente, aos 27 anos, Leonard Bernstein.

O maestro —que ganhou uma cinebiografia dirigida e protagonizada por Bradley Cooper— tem uma ligação estreita com o evento. Sua fama deixou de ser local e atravessou o Atlântico com a performance em Praga, fazendo com que o convite e a apresentação se repetissem já no ano seguinte, em 1947.

Em 1990, poucos meses antes de morrer, Bernstein voltou para uma terceira consagração, executando a famosa “Sinfonia nº 9”, de Beethoven —nenhuma dessas passagens foi para a tela em “Maestro”.

Também compositor, o americano será ouvido mais de uma vez ao longo do festival. Uma das homenagens será executada pelo jovem talento Jan Sedlácek, vencedor do Concurso de Regência da Orquestra Sinfônica de Karlovy Vary em 2024.

Sedlácek se apresenta no dia 28 de maio em uma das principais casas de concerto do país, a belíssima Sala Smetana Hall, dentro da Casa Municipal, uma construção em art noveau para 1.200 pessoas, com cúpula de vidro e ornada com obras de artistas, como o pintor e ilustrador Alfons Mucha.

À frente da Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga, e com solo da violinista Tsukushi Sasaki (vencedora do concurso de violinos do festival do ano passado), Sedlácek fará sua estreia na regência, com um programa que inclui obras de Dvorák, Prokofiev e o “Divertimento”, de Bernstein.

Até o dia 3 de junho, a programação se estende pelas principais casas de concerto de Praga, incluindo catedrais, o imponente Teatro Nacional e o Rudolfinum (sede da apresentação inaugural); e ganha ramificações em outras cidades vizinhas, como a universitária Brno —onde estudou Janácek, que também tem um memorial por lᗠe Nelahozeves, terra natal de Dvorák.

Além das apresentações de orquestras internacionais de renome, como as sinfônicas de Boston, de Londres e de Viena, o evento promove competições entre jovens para diferentes instrumentos e passou a abarcar outros gêneros musicais, como um Jazz Festival.

É nessa subdivisão que está agendada a performance da jazzista brasileira Luciana Souza, que sobe ao palco do Fórum Mercedes Praga no dia 21 de maio, ao lado do Trio Corrente. Juntos, eles mostram as faixas o álbum “Cometa”, indicado ao Grammy latino em 2024.

“O concerto em Praga inicia a turnê pela Europa. Será um prazer reencontrar o trio para essa série de shows”, diz Luciana, que mora nos Estados Unidos, e esteve no Sesc 24 de Maio em dezembro. “Vou ao Brasil com a New Youth Orchestra Jazz, do Carnegie Hall, sob a direção de Sean Jones, em julho”, indica a cantora, que se apresentará em São Paulo (Cultura Artística), Rio (Teatro Municipal) e Manaus (Teatro Amazonas).