NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O julgamento do rapper Sean “Diddy” Combs por tráfico sexual e extorsão começou nesta segunda-feira (12) após a escolha do júri ter sido adiada na sexta, e deve se estender por até oito semanas —o dobro da duração prevista quando as acusações foram reveladas, em setembro do ano passado.

A promotora federal Emily Johnson, nos argumentos iniciais, descreveu em detalhes as orgias, maratonas sexuais que o próprio rapper batizou de “freak offs”, em que ele recrutava e gravava mulheres forçadas a participar de atos sexuais com estranhos contratados por serviços de prostituição. Johnson explicou que não cabia aos jurados examinar as preferências sexuais do réu, mas sua carreira de 20 anos de criminoso serial, aterrorizando mulheres e subordinados.

Os argumentos da defesa também foram abertos por uma mulher, a advogada Teri Geragos, que admitiu atos de violência doméstica cometidos por Combs como “um problema sério”. Mas Geragos descreveu as testemunhas citadas pela acusação como mulheres independentes que tiveram relacionamento de anos com o rapper e, portanto, não são vítimas, apenas participantes que aderiram a preferências sexuais incomuns.

No fim, após um processo que se estendeu ao longo da última semana, foi escolhido um júri com oito homens e quatro mulheres —uma proporção que não favorece a acusação, num caso em que as três principais testemunhas são supostas vítimas e mulheres. Os promotores perderam contato com uma quarta vítima, cujo depoimento era esperado, e não conseguem encontrar seu advogado.

Num momento de crescente violência contra figuras públicas americanas, em que senadores, deputados federais e juízes da Suprema Corte hoje enfrentam uma rotina de ameaças de morte —facilitadas por acesso a informação digital—, a identidade dos jurados deve ser objeto de proteção especial.

A primeira testemunha a falar pode ser a cantora e ex-namorada Cassie Ventura, cuja decisão de processar Combs, no final de 2023, abriu o caminho para a investigação federal que resultou na acusação por cinco crimes. Ela foi vista em Nova York durante o fim de semana e está no terceiro trimestre de gravidez.

O vídeo de 2016, gravado no corredor de um hotel, em que Combs aparece espancando e chutando a cantora, vai ser admitido como prova de acusação no tribunal. O vídeo faz parte de uma extensa coleção digital de provas obtidas em batidas policiais nas duas mansões do rapper, em Miami e Los Angeles, onde ele instalou dezenas de câmeras usadas para gravar festas e orgias regadas a drogas.

Este arquivo servia também como instrumento chantagem para prevenir que envolvidos fizessem denúncias. Assistindo às cenas gráficas de sexo e violência exibidas no tribunal, estarão a mãe do rapper, Janice Combs, e seis dos sete filhos do músico.

Além do processo criminal federal que pode por Sean Combs na cadeia pelo resto da vida, o rapper é alvo de mais de 60 ações civis de supostas vítimas, incluindo ex-empregados. As cinco acusações federais descrevem transporte para se engajar em prostituição, tráfico sexual e extorsão. O crime federal de extorsão foi definido, em 1970, para combater a infiltração da máfia e outras organizações de crime organizado em negócios legítimos.

O fato de Sean Combs estar sozinho no banco dos réus não significa que outros indivíduos não foram arrolados na investigação. Espera-se que antigos empregados e parceiros de negócios tenham sido intimados a depor e podem ter feito acordos de leniência em troca de seu testemunho.

Uma pessoa possivelmente incluída neste grupo seria Kristina Khorram, detentora do pomposo cargo de chefe de gabinete de Combs, cujas tarefas alegadamente incluíam manter o estoque de drogas ilegais à disposição do chefe.