SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Uma saudação a todos aqueles e de modo particular à minha querida diocese de Chiclayo, no Peru”, desejou o papa Leão 14 em seu primeiro discurso após eleito em espanhol, quebrando a tradição de usar somente italiano e latim. O novo pontífice referencia mais do que os cerca de 600 mil habitantes da cidade: ele fala, acima disso, a uma população de quase 30 milhões de católicos do país em que exerceu seu ministério.
A incursão da Igreja apostólica romana no país andino iniciada séculos atrás com a colonização espanhola foi uma das mais exitosas na América Latina. Até a década de 1990, quando o então cardeal Robert Prevost já atuava no território, ao menos nove em cada dez peruanos se declaravam católicos.
Em números totais, eram mais de 15 milhões de pessoas acima dos 12 anos que afirmavam seguir o Vaticano. O patamar atual, mesmo com o decréscimo na proporção apostólica romana no país, atinge 82,6% da população, segundo dados da World Christian Database.
A quase homogeneidade religiosa do país parece incongruente com o histórico Império Inca que, até meados do século 16, evoluiu e propagou a cultura da região. Foi durante a expansão colonizatória europeia que, sobre a cultura pré-colombiana, impôs-se o catolicismo romano.
Séculos depois, a religião segue predominante no território hoje são cerca de 29 milhões de fiéis. Junto aos vizinhos, o país figura entre as cinco maiores populações apostólicas da mais católica das regiões. Na América Latina, segundo as estimativas mais recentes, o montante peruano fica atrás somente de Brasil, México, Colômbia e Argentina.
Após chegar em seu ápice na década de 1950 com 95,1% da população seguindo a Santa Sé, no entanto, a força católica tem diminuído. Desde 1970, a representação religiosa do Vaticano cai lentamente.
O último censo nacional, realizado em 2017, apontou para 76% da população autodeclarada católica. Considerando a mesma taxa média de variação dos últimos levantamentos, essa parcela deve, atualmente, estar próxima dos 71,6%, segundo estimativas.
Essa narrativa do cenário religioso é bem próxima a do cenário global: crescem os redutos católicos, mas a níveis menores que a população geral. Não há, com isso, um crescimento real do grupo e, portanto, diminui a sua parcela no panorama geral.
Na outra faixa dessa estrada aparece o evangelicalismo. Se há pouco mais de 30 anos os protestantes não chegavam a 7%, hoje já devem representar algo como 16,4% é também uma tendência similar à dos vizinhos, inclusive o Brasil.
As outras religiões muitas alinhadas, inclusive, às tradições indígenas pré-colombianas seguem um crescimento mais tímido. Em 1993, eram 2,6% e, pela projeção, devem chegar a 5,6% neste ano. Números próximos, mas com crescimento timidamente mais acentuado, são dos sem religião no mesmo período, saltaram de 1,4% a 6,4%.
O cenário não representa algo exatamente ameaçador à Santa Sé. A base fiel é ainda esmagadora maioria do país e assim deve permanecer por alguns anos, mesmo que permaneça a tendência atual. Leão 14, em sua primeira fala, sinaliza a importância do país a nível pessoal e, indiretamente, reforça a valia da região ao Vaticano.
A atual Constituição do país, promulgada em 1993, é também prova disso. Ela garante a existência de um Estado laico e com liberdade religiosa irrestrita e igualitária a quaisquer manifestações. Ressalta e valoriza, no entanto, a Igreja Católica com um status especial: “um importante elemento no desenvolvimento histórico, cultural e moral da nação, e [o Estado] lhe presta sua colaboração”.