SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um filme para mostrar as maravilhas naturais e a riqueza cultural do estado do Maranhão, localizado após a curva em que o Nordeste vai se avizinhar à região Norte. Não é só isso que diz a carta de divulgação de “Betânia” à imprensa, atração do 74º Festival de Berlim. Mas ao ver o filme fica a impressão de que poderia ser esse o único motivo para a sua realização. A maior preocupação, ao menos, parece ser essa.

Ninguém pode negar a beleza e a riqueza cultural do Maranhão, como de outros estados brasileiros, e não há nada que impeça que essas coisas sejam mostradas e mesmo que um filme se apoie nesses elementos. As paisagens são belas, às vezes belíssimas, e bem captadas. São facilitadas, é certo, pela paisagem natural e pela luz deslumbrante do Nordeste, um trunfo que não se pode ignorar.

Os Lençóis Maranhenses fazem o tipo de paisagem que deveria ser explorada por cineastas brasileiros do mesmo modo que John Ford se apropriou do Monument Valley em alguns de seus faroestes. A paisagem é uma personagem e, como tal, influencia outros personagens.

O diretor Marcelo Botta, com a ajuda de um elenco todo maranhense, bem que tenta extrair um drama forte nessa locação impressionante. Mas um filme não é feito só de cartões postais, por mais belos que sejam.

Além disso, ser selecionado para festivais, por maiores que sejam, não significa que o filme esteja livre de ser criticado com isenção. Muitos filmes bons passam ao largo dos principais festivais e muitos ruins são selecionados. O critério de qualidade artística, subjetividades diversas à parte, não é o único definidor dessas escolhas. Por vezes, aliás, é um critério ignorado.

Na trama, após perder o marido, a parteira Betânia, vivida por Diana Mattos, se muda para o vilarejo Betânia, no coração dos Lençóis Maranhenses, como diz a placa, onde reencontra familiares.

É ali que ela vai tentar se reconectar com a alegria de viver, perdida enquanto trazia novas vidas ao mundo, e se reconecta também com a natureza acolhedora do local, vulnerável às mudanças de estação, ora cheia de lagoas, ora dominada pelas imponentes dunas.

Seus familiares vivem em função dos turistas, que mesmo em período de seca insistem em querer conhecer as famosas lagoas entre as dunas. Tonhão, sobrinho de Betânia, é o principal guia para os passeios.

Num deles, turistas franceses insistem em sair da rota para um banho numa lagoa que avistaram a uma certa distância –“as distâncias aqui enganam”, alertou o guia. Não deu outra: eles se afastaram demais do planejado, não encontraram a rota de volta e mobilizaram uma equipe de resgate, ou seja, dos familiares e amigos de Tonhão.

A recompensa para os resgatados é um banquete de comida maranhense, preparado por Betânia para gáudio dos franceses. Esse momento é bom, mas é quase um curta-metragem inserido no longa.

“Betânia” mistura gêneros sem muito jeito. Parece um filme empenhado em conversar com o grande público, mas sem ideia de como fazer o diálogo. A montagem é bem equivocada em alguns trechos; a direção, por vezes, parece de vídeo publicitário e as atuações são bem desiguais.

É bem cansativa, por exemplo, a estratégia de interromper um momento de calmaria com uma explosão, como a que acontece quando Betânia repreende seu neto pela quantidade de sal que ele colocava na comida. É uma maneira um pouco canhestra de mostrar a dor da perda.

O filme tem vários momentos que denotam pouca habilidade para desenvolver uma narrativa convencional e incapacidade de promover uma ruptura convincente, como o cinema brasileiro sempre soube fazer. Fica num meio-termo desajeitado.

Um drama como o de Betânia necessita de um elenco afiado e de alguma precisão no posicionamento de câmera e nos cortes. Infelizmente, “Betânia” anda na corda bamba nesse sentido, sempre desequilibrado, prestes a sucumbir.

Betânia

Onde: Nos cinemas

Classificação: 12 anos

Elenco: Diana Mattos, Nádia D’Cássia, Caçula Rodrigues

Produção: Brasil, 2024

Direção: Marcelo Botta

Avaliação: *Regular*