SÃO PAULO, SP (FOLHARESS) – Em 26 de janeiro de 2009, Natalie Suleman entrou para a história da medicina ao dar à luz oito bebês vivos de uma só vez, concebidos por fertilização in vitro. Os óctuplos nasceram saudáveis, após 31 de semanas de gestação.

Então uma estudante solteira, que morava com os pais e já tinha outros seis filhos, Natalie foi apelidada de Octomãe e alçada ao posto de celebridade quase que instantaneamente. Durante anos, sofreu escrutínio público e foi acusada de usar os filhos para obter fama e benefícios sociais.

Na época, foi dito que ela se inseminou propositalmente com múltiplos embriões –o que agora, aos 49 anos, ela diz não ser bem verdade. No novo filme “A Octomãe”, que estreia dia 31 de maio no canal Lifetime, Natalie conta que nunca desejou a gravidez múltipla e afirma ter sido ludibriada pelo seu médico, Michael Kamrava, que teve a licença revogada dois anos após o nascimento dos óctuplos.

Em conversa com jornalistas, da qual o F5 participou, ela afirma que queria “só” sete filhos, e não 14, mas que foi mal compreendida e injustiçada pela mídia. “Fui vítima de desinformação. Nunca quis ter mais de sete filhos. Eu tinha seis e queria mais um, o que já é bastante para uma mãe solteira”, diz. “Eu fui feita de cobaia.”

Na cinebiografia, em que ela também aparece como produtora-executiva, Natalie é interpretada pela atriz Kristen Lee Gutoskie em cenas de dramatização, que são intercaladas com depoimentos dela e dos filhos.

CELIBATO

Natalie nunca se casou. Teve todos os 14 filhos pelas mãos do doutor Kamrava. Criou a prole junto com a mãe, Angela, que morreu em 2014, e com o pai, Eddie, morto em 2021. É cristã fervorosa e se define como “extremamente introvertida”. Questionada sobre sua vida amorosa durante todos esses anos, ela revelou ser assexual e celibatária.

“Vivo em celibato há mais de 25 anos e posso ser entendida como assexual. Minha vocação durante toda a vida foi ser mãe, nunca esposa. Sim, é solitário, mas nunca tive interesse em ter um par”, explica.

Durante a criação dos primeiros seis filhos, Natalie fez graduação e mestrado na área de educação. Após o nascimento dos óctuplos, porém, se rendeu ao assédio da mídia em troca de dinheiro. Vendeu entrevistas, fez reality shows e posou para ensaios sensuais.

“Eu estava no modo sobrevivência”, justifica. “Nunca quis a fama, nunca quis estar aos olhos do público. Sempre me escondi na universidade”, diz.

Ao longo dos anos, ela desenvolveu ansiedade social e transtorno de estresse pós-traumático, que trata até hoje. “Não sou a Octomãe. Meu verdadeiro caráter é a antítese total da caricatura fragmentada e desumanizada que inventaram de mim”, lamenta. “É fácil para o público projetar ódio em algo que não é humano ou que não se percebe como humano.”

COMO TUDO ACONTECEU

Diagnosticada com endometriose, Natalie começou cedo a tratar a infertilidade. Conheceu o doutor Kamrava, na época um especialista renomado de Beverly Hills. Em um dos procedimentos, o médico a inseminou com cinco embriões, resultando em apenas um bebê.

No ano seguinte, transferiu seis embriões. Nasceram gêmeos. Na próxima tentativa, ele implantou o número sem precedentes de 12 embriões, resultando nos óctuplos.

“Eu estava sob efeito de medicamentos quando ele me perguntou se eu queria que transferisse o resto dos embriões. Meu útero estava se contraindo e ele pensava que eu poderia estar expulsando. Eu não estava lúcida e disse que sim. E ele transferiu outros seis”, afirma.

Em 2011, Kamrava foi expulso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e cumpriu cinco anos de prisão domiciliar. O caso de Natalie inspirou leis sobre FIV em todo o território americano. No Brasil, a prática médica é implantar apenas dois embriões por vez.

“Me arrependo de não tê-lo processado”, diz Natalie. “Praticamente me atirei debaixo do ônibus para protegê-lo. Se não fosse pelo seu procedimento inovador, eu não teria minha família e, por isso, meu coração não me deixou processá-lo”, explica. “Ele cometeu uma negligência grave e eu o acobertei durante anos.”

“A Octomãe” estreia dia 31 de maio às 22h no canal pago Lifetime.