Zebras, girafas, gnus e macacos gigantes invadiram ruas de cidades na África e na Europa, mas não se trata de uma fuga da vida selvagem. É o The Herds, um projeto artístico de grande escala que utiliza bonecos, fantoches, em tamanho real para criar conexões emocionais com a crise climática.

Essa jornada de 20.800 quilômetros teve início em 10 de abril, em Kinshasa, na República Democrática do Congo, e encerrará no Círculo Polar Ártico, em agosto. Ao longo de quatro meses, o grupo passará por 20 cidades, incluindo Lagos, Dacar, Casablanca, Paris e Oslo.

O objetivo é mostrar às pessoas que existe uma emergência — não por meio de dados científicos, mas por meio da emoção”, explica Sarah Desbois, produtora do The Herds no Senegal.

Do sucesso de Little Amal aos fantoches

Essa é a segunda grande empreitada da The Walk Productions, organização sem fins lucrativos sediada em Londres. A primeira foi Little Amal, um boneco de 3,6 metros que representa uma menina síria de 10 anos, em situação de refúgio, e se tornou símbolo global dos direitos humanos e do deslocamento forçado. Desde 2021, Little Amal já percorreu 166 cidades em 17 países, sendo recebida por dois milhões de pessoas nas ruas e dezenas de milhões nas redes.

Agora, com The Herds, a proposta é ampliar esse legado, combinando arte, consciência ambiental e engajamento comunitário. “É como se estivéssemos migrando com um rebanhoque cresce e se transforma continuamente”, afirma Amir Nizar Zuabi, cofundador e diretor artístico do projeto. “É uma resposta artística urgente à crise do clima — um apelo vibrante por ação.”

Foto: Kashope Faje | 88 Life Studios[/caption]

Clima, arte e deslocamento

O projeto traça uma ligação intensa entre a crise ambiental e os fluxos migratórios — uma conexão que já estava presente nas histórias contadas ao longo da jornada de Little Amal. Para Zuabi e seus parceiros, as mudanças climáticas não são apenas uma ameaça futura, mas uma realidade que já força populações ao deslocamento em diversas partes do mundo.

Por meio da arte construída coletivamente, The Herds propõe uma alternativa às narrativas tradicionais sobre o clima, frequentemente centradas em estatísticas e debates políticos. A iniciativa cria espaço para vínculos emocionais, protagonismo local e expressão artística.

Uma caminhada rumo à transformação

Após as apresentações no Marrocos, o projeto seguirá rumo à Europa, com paradas na Espanha, França, Itália, Inglaterra, Dinamarca, Suécia e, por fim, Noruega — onde os bonecos chegarão ao Círculo Polar Ártico no início de agosto.

“Com a beleza e a força dessas criaturas em escala real, queremos provocar reflexão, estimular o diálogo, mobilizar o público e inspirar mudanças reais”, declarou Zuabi em comunicado à imprensa.

À medida que avançam para o norte, os fantoches levam consigo as vozes, histórias e esperanças das comunidades por onde passaram, transformando calçadas em palcos e ruas em espaços de mobilização e mudança.

Fonte: Ciclo Vivo