SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – À beira da guerra apenas algumas horas atrás, Paquistão e Índia anunciaram um cessar-fogo neste sábado (10), após quatro dias de combates matarem 66 pessoas de ambos os lados, segundo informações dos adversários históricos. Relatos de violações, porém, põem o acordo em xeque.
Em uma coletiva de imprensa, o secretário de Relações Exteriores da Índia Vikram Misri acusou o governo paquistanês de quebrar o acordo, que fora firmado horas antes no sábado. “Nossas forças armadas estão dando uma resposta adequada e apropriada a essas violações”, afirmou.
Já segundo o ministro de Informação do Pasquistão Attaullah Tarar, em entrevista à emissora local Geo News, até agora não aconteceu nenhuma violação do cessar-fogo.
A confirmação do acordo inicial ocorreu depois de o presidente americano, Donald Trump, correr para anunciar a novidade em sua plataforma, a Truth Social. Segundo ele, a trégua foi alcançada após “uma longa noite de negociações mediadas pelos Estados Unidos”. “Parabéns a ambos os países por usarem o bom senso”, escreveu.
À Geo News, no entanto, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Muhammad Ishaq Dar, afirmou que dezenas de países estavam envolvidos no esforço diplomático, colocando a trégua na conta de Arábia Saudita e Turquia, por exemplo, além dos EUA.
O secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, por sua vez, disse que o acordo foi negociado entre o chefe de operações militares do Paquistão e seu correspondente indiano durante uma conversa telefônica. De acordo com ele, ambos se reunirão novamente na segunda-feira (12).
Para isso, a trégua precisa durar até lá. A notícia do cessar-fogo foi recebida com alívio em ambos os lados da fronteira, e o Paquistão afirmou que seu espaço aéreo havia sido totalmente reaberto. Horas depois, porém, moradores e testemunhas da agência de notícias Reuters relataram ter ouvido explosões e visto projéteis e clarões no céu de Srinagar e Jammu, principais cidades da Caxemira indiana. Porta-vozes militares dos países não se manifestaram imediatamente.
As violações não são exatamente ums surpresa, levando em conta o grau de tensão na região nas últimas semanas. Apenas algumas horas antes do acordo, uma trégua nos piores confrontos entres os dois países em mais de 20 anos parecia distante.
O conflito, que irrompeu na última quarta (7) com o bombardeio do que a Índia chama de “infraestruturas terroristas” no Paquistão, quase virou uma guerra aberta neste sábado, quando os países lançaram ataques contra as instalações militares um do outro. A tensão aumentou quando o Exército paquistanês anunciou que o órgão responsável por supervisionar armas nucleares se reuniria.
Posteriormente, o ministro da Defesa afirmou que essa reunião não estava agendada, mas o impasse continuava com ambos os países condicionando a interrupção dos bombardeios à mesma postura do adversário.
“Respondemos porque nossa paciência chegou ao limite. Se eles pararem aqui, também consideraremos parar”, disse mais cedo neste sábado o paquistanês Ishaq Dar, em entrevista à Geo News. Já a comandante indiana Vyomika Singh afirmou, em uma entrevista coletiva, que seu país também poderia diminuir a tensão, contanto “que o Paquistão retribuísse”.
Segundo ela, haviam sido registrados “vários ataques com mísseis de alta velocidade” contra bases aéreas nas horas anteriores, com danos limitados. Enquanto isso, o porta-voz do Exército paquistanês, Ahmed Sharif Chaudhry, também denunciava ataques de mísseis contra bases aéreas, embora todos tivessem sido interceptados, segundo ele. “Agora é só esperar a nossa resposta”, continuou.
Antes do amanhecer, as hostilidades quase chegaram à capital do Paquistão, Islamabad, e a Rawalpindi, cidade a cerca de dez quilômetros de distância que abriga o quartel-general do Exército. Autoridades da região da Caxemira administrada pelo Paquistão relataram que 11 civis morreram durante a noite em bombardeios indianos.
Em Jammu, a segunda maior cidade da Caxemira controlada pela Índia, os locais correram para embarcar em um trem para evacuação. “Ouvimos explosões a noite toda”, disse Karan Varma, um trabalhador de 41 anos, à agência de notícias AFP. “Não há escolha a não ser ir embora.”
A questão mobilizou a comunidade internacional, que solicitou moderação a ambas as partes nos últimos dias. O G7, por exemplo, grupo diplomático formado por EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão, divulgou uma nota na sexta (9) pedindo diálogo e “máxima contenção” de qualquer escalada militar.
Já no sábado, antes do anúncio de Trump, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, telefonou para o chefe do Exército do Paquistão, o general Asim Munir, e para o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, instando ambos a “restabelecer a comunicação direta para evitar erros de cálculo”.
A Caxemira é uma região de maioria muçulmana onde nascem rios essenciais para a Índia e o Paquistão, que disputam o local desde que eles conquistaram a independência do Reino Unido, em 1947. A partir de 1989, a região passou a ser palco de uma insurgência daqueles que buscam independência ou anexação ao Paquistão e que, segundo Nova Déli, têm o apoio do país vizinho.
A crise atual teve início no dia 22 de abril, após um ataque terrorista cometido por um grupo armado que pede a separação da Caxemira indiana matar 26 pessoas a maioria turistas hindus. A Índia culpou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão, e acusou Islamabad de envolvimento no ataque, o que o governo paquistanês nega.
No dia seguinte ao atentado, a Índia suspendeu o acordo que regulava o uso compartilhado dos rios entre as duas nações desde 1960 e que, portanto, sobreviveu a duas guerras entre os dois países. Agora, além de romper com o tratado pela primeira vez, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fechou a única passagem terrestre entre os países.
Apesar da trégua, dois funcionários do governo indiano disseram à Reuters que medidas como suspensão de comércio e cancelamento de vistos, tomadas por ambos os países, permaneceriam em vigor. Eles também afirmaram que o Tratado das Águas permaneceria em suspenso.