BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em menos de um mês, o governo Lula (PT) sofreu oito reveses vindos de sua base formal de apoio, tendo como capítulos mais recentes o anúncio de rompimento pela bancada de deputados do PDT, na última terça-feira (6), e a aprovação pela Câmara, no dia seguinte, de projeto que visava suspender ação penal da trama golpista.
Repetindo um placar que não tem sido raro em Lula 3, o centrão se uniu à oposição e marcou 315 votos a 143 no caso relativo ao deputado Alexandre Ramagem (PL), deixando o PT e demais partidos da esquerda isolados.
Embora o recado nesse caso seja mais ao STF (Supremo Tribunal Federal) -segundo quem só eventuais crimes cometidos pelo deputado após a diplomação poderiam ser objeto da análise da Câmara-, não deixa de ser mais uma derrota do governo.
Em relação à troca de titulares no ministério do modesto PDT (Previdência), o tamanho da legenda de Carlos Lupi –17 deputados e três senadores– pode dar a impressão de importância menor à possível rebelião, mas significa o primeiro abalo à esquerda em uma base que à direita tem sido profícua em instabilidade, vide o caso Ramagem.
O mais recente inferno astral da grande base volúvel de Lula -folgada no papel, mas oscilante na prática- começou no dia 14 de abril, quando a oposição bolsonarista conseguiu protocolar um requerimento de urgência para a votação do projeto de anistia aos condenados pelo 8 de janeiro de 2023.
Na lista dos 185 deputados que colocaram sua assinatura, 81 eram de União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos, siglas de centro e de direita que comandam, ao todo, 11 ministérios de Lula.
Uma semana depois, no dia 22, o líder da bancada do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), recusou o convite para ser ministro das Comunicações dias após de ter aceito.
A ida do parlamentar para a vaga de Juscelino Filho, –denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) sob acusação de desviar emendas parlamentares– resultou em um motim interno no partido, rachado entre apoiadores de Lula e opositores.
Integrantes do Palácio do Planalto chegaram até a ventilar a ameaça de retirar espaço do partido, mas o governo não tem força para prescindir do apoio da sigla, uma das maiores da Câmara e do Senado.
Na última semana de abril, chegou do Congresso mais uma saraivada de notícias contrárias aos interesses palacianos.
No dia 29, uma terça-feira, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitou o recurso do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) contra a cassação do seu mandato.
O governo diz não ter posição sobre o tema, mas Glauber recebeu a visita de nove ministros quando estava fazendo greve de fome nas dependências da Câmara, entre eles Gleisi Hoffmann (PT), a chefe da articulação política do petista.
Naquela mesma terça-feira, União Brasil e PP anunciaram sua federação -compromisso de atuação conjunta pelos próximos quatro anos– no Congresso em clima de comício de oposição, apesar de eles comandarem quatro ministérios.
O governo Lula não foi citado nominalmente em nenhum momento, mas as críticas veladas e até explícitas nortearam o evento.
Os ministros do Esporte, André Fufuca (PP), e do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), estavam presentes, mas, em um atitude incomum nesse tipo de evento, não foram chamados para discursar.
Diferentemente disso, tiveram papel de destaque no evento figuras como o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Tereza Cristina (PP-MS), todos críticos a Lula.
No dia seguinte, 30 de abril, a oposição na Câmara conseguiu novamente reunir assinaturas necessárias para requerer outra dor de cabeça para o Palácio do Planalto, a CPI para investigar a suspeita de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Mais uma vez, o documento contou com o apoio de dezenas de deputados de União Brasil, PSD, MDB, Republicanos e PP.
No feriado de 1º de Maio -em que Lula deixou de comparecer aos atos das centrais sindicais devido ao receio de eventos esvaziados-, foi a vez de o presidente do PSD, Gilberto Kassab, reiterar suas projeções políticas em um tom muito mais de oposição do que de governo.
Crítico do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), Kassab dessa vez disse na Agrishow, principal feira agrícola do país, que, se Tarcísio de Freitas (Republicanos) se lançar à Presidência, a direita toda se unirá em torno dele.
Dizendo-se ainda convencido de que o governador de São Paulo e ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) vá tentar na verdade a reeleição, ele acrescentou não ver problema nesse caso, avaliando que toda a centro-direita deve lançar candidatos, mas que, no segundo turno, “todos se encontram”.
O segundo turno, no caso, seria contra Lula.
Kassab talvez seja o exemplo mais ilustrativo da base instável do governo. O ex-prefeito de São Paulo comanda um partido com três ministérios e, ao mesmo, tempo, é secretário de Governo de Tarcísio, apontado como possível rival do petista em 2026.
Dias depois, Kassab repetiu a promessa de lealdade a Tarcísio em visita ao Congresso, acrescentando não ver contradição em comandar um partido com ministérios no governo Lula e que defende outro nome para 2026.
Lula foi eleito por uma estreita margem em 2022 e, além disso, viu a maior parte das cadeiras de Câmara e Senado serem conquistadas pelos partidos de centro e de direita.
Com isso, ainda na transição firmou uma aliança com o centrão pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), então presidente da Câmara e que dias antes estava no palanque de Bolsonaro.
Apesar de distribuir nove ministérios a essas siglas e depois expandir o lote para 11, há um histórico recheado de traições desde 2023.
Diferentemente de outras épocas, em que os governos do PT contavam com maior popularidade e com mecanismos mais persuasivos de retaliação em caso de infidelidade, com um maior controle sobre o pagamento de emendas, desta vez Lula enfrenta não só a esquerda minoritária, mas popularidade preocupante e o empoderamento do Congresso por meio do volume e da execução impositiva das emendas.
AS DERROTAS EM SÉRIE DE LULA NO CONGRESSO
Anistia ao 8 de janeiro – Em 14 de abril, a oposição protocolou requerimento para que tramite com urgência proposta de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023. Na lista de 185 deputados, 81 eram de deputados do União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos, siglas que comandam 11 ministérios de Lula. O requerimento ainda não foi pautado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos)
O quase ministro – Em 22 de abril, o líder da bancada do União Brasil, Pedro Lucas Fernandes (MA), recusou o convite para ser ministro das Comunicações dias depois de ter aceito. O recuo se deu após motim interno no partido, rachado entre apoiadores de Lula e opositores.
Glauber Braga – No dia 29 de abril, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitou o recurso do deputado do PSOL contra a cassação do seu mandato. PT e governistas foram derrotados.
Comício da oposição – Nesse mesmo dia, União Brasil e PP anunciaram sua federação no Congresso em clima antigoverno e com holofotes sobre críticos de Lula.
INSS – No dia seguinte, 30 de abril, a oposição na Câmara conseguiu novamente apoio no centrão para reunir as assinaturas necessárias para requerer outra dor de cabeça para o Palácio do Planalto, a CPI para investigar a suspeita de descontos indevidos em benefícios de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Gilberto Kassab – O presidente do PSD, que controla três ministérios, repetiu em declarações no feriado de 1º de maio e no dia 8 a lealdade a Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), de quem é secretário, e a intenção de lançar candidatos para concorrer com Lula em 2026.
PDT – O partido na Câmara anunciou rompimento com Lula no último dia 6 após a queda de Carlos Lupi da Previdência, em meio ao escândalo do INSS.
Ramagem – A Câmara aprovou, no dia 7, por 315 a 143 votos, projeto que visa suspender toda a ação penal da trama golpista em que está o ex-presidente sob o argumento de que entre os réus há um deputado, Alexandre Ramagem (PL-RJ). O PT e governistas foram derrotados e a Primeira Turma do STF decidiu em julgamento virtual derrubar a medida dos parlamentares.