SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – À beira da guerra apenas algumas horas atrás, Paquistão e Índia anunciaram um cessar-fogo neste sábado (10), após quatro dias de combates deixarem mais de 50 mortes em ambos os lados, segundo informações dos dois adversários históricos.
A confirmação ocorreu depois de o presidente americano, Donald Trump, correr para anunciar a novidade em sua plataforma, a Truth Social. Segundo ele, o acordo foi alcançado após “uma longa noite de negociações mediadas pelos Estados Unidos”. “Parabéns a ambos os países por usarem o bom senso”, escreveu.
Em entrevista à emissora local Geo News, porém, o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Muhammad Ishaq Dar, afirmou que dezenas de países estavam envolvidos no esforço diplomático, colocando a trégua na conta de Arábia Saudita e Turquia, além dos EUA.
O secretário de Relações Exteriores da Índia, Vikram Misri, por sua vez, disse que o acordo foi negociado entre o chefe de operações militares do Paquistão e seu correspondente indiano durante uma conversa telefônica. De acordo com ele, ambos se reunirão novamente na segunda-feira (12).
Apenas algumas horas antes, uma trégua nos piores confrontos entres os dois países em mais de 20 anos parecia distante.
O conflito se aproximou de uma guerra aberta neste sábado, quando os países lançaram ataques contra as instalações militares um do outro. A tensão aumentou quando o Exército paquistanês anunciou que o órgão responsável por supervisionar armas nucleares se reuniria.
Posteriormente, o ministro da Defesa afirmou essa reunião não estava agendada, mas o impasse continuava com ambos os países condicionando a interrupção dos ataques à mesma postura do adversário.
“Respondemos porque nossa paciência chegou ao limite. Se eles pararem aqui, também consideraremos parar”, disse mais cedo neste sábado o paquistanês Ishaq Dar, em entrevista à Geo News. Já a comandante indiana Vyomika Singh afirmou, em uma entrevista coletiva, que seu país também poderia diminuir a tensão, contanto “que o Paquistão retribuísse”.
Segundo ela, haviam sido registrados “vários ataques com mísseis de alta velocidade” contra bases aéreas nas horas anteriores, com danos limitados. Enquanto isso, o porta-voz do Exército paquistanês, Ahmed Sharif Chaudhry, também denunciava ataques de mísseis contra bases aéreas, embora todos tivessem sido interceptados, segundo ele. “Agora é só esperar a nossa resposta”, continuou.
Antes do amanhecer, as hostilidades chegaram aos portões da capital do Paquistão, Islamabad, e a Rawalpindi, cidade a cerca de dez quilômetros de distância que abriga o quartel-general do Exército e dos serviços de inteligência. Autoridades da região da Caxemira administrada pelo Paquistão relataram que 11 civis morreram durante a noite em bombardeios indianos.
Em Jammu, a segunda maior cidade da Caxemira controlada pela Índia, moradores correram para embarcar em um trem especial de evacuação. “Ouvimos explosões a noite toda”, disse Karan Varma, um trabalhador de 41 anos, à agência de notícias AFP. “Não há escolha a não ser ir embora.”
A questão mobilizou a comunidade internacional, que solicitou moderação a ambas as partes nos últimos dias. O G7, por exemplo, grupo diplomático formado por EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão, divulgou uma nota na sexta pedindo diálogo e “máxima contenção” de qualquer escalada militar.
Já no sábado, antes do anúncio de Trump, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, telefonou para o chefe do Exército do Paquistão, o general Asim Munir, e para o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, instando ambos a “restabelecer a comunicação direta para evitar erros de cálculo”.
A Caxemira é uma região de maioria muçulmana onde nascem rios essenciais para a Índia e o Paquistão, que disputam o local desde que eles conquistaram a independência do Reino Unido, em 1947. Desde 1989, a região é palco de uma insurgência daqueles que buscam independência ou anexação ao Paquistão e que, segundo Nova Déli, têm o apoio do país vizinho.
A crise atual teve início no dia 22 de abril, após um ataque terrorista cometido por um grupo armado que pede a separação da Caxemira indiana matar 26 pessoas a maioria turistas hindus. A Índia culpou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão, e acusou Islamabad de envolvimento no ataque, o que o governo paquistanês nega. A organização, designada como terrorista pela ONU, é suspeita de realizar ataques em Mumbai que deixaram 166 mortos em 2008.
No dia seguinte ao atentado, a Índia suspendeu o acordo que regulava o uso compartilhado dos rios entre as duas nações desde 1960. O Tratado das Águas do Rio Indo sobreviveu a duas guerras entre os dois países. Agora, além de romper com o acordo pela primeira vez, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, fechou a única passagem terrestre entre os países.
A tensão entre os dois países vinha aumentando desde então, até que, na última quarta-feira (7), a Índia bombardeou o que classifica de “infraestruturas terroristas” no Paquistão.
O cessar-fogo não afasta completamente a possibilidade de conflito. O chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, escolheu fazer uma ressalva ao confirmar a trégua na rede social X. Segundo ele, seu país “tem mantido consistentemente uma postura firme e intransigente contra o terrorismo em todas as suas formas e manifestações” e “continuará a fazê-lo”. Além disso, o Tratado das Águas continua suspenso, disseram quatro funcionários do governo indiano à Reuters.