SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três anos após a megaoperação da Polícia Civil e da Prefeitura de São Paulo que desmontou barracas de venda de drogas e dispersou usuários que se aglomeravam na antiga praça (agora parque) Princesa Isabel, no centro da capital, o PCC (Primeiro Comando da Capital) ainda é o responsável pela venda de drogas na região.

A facção continua hegemônica no comércio de crack, cocaína e maconha no perímetro, segundo um delegado que acompanhou as investigações nos últimos anos e pediu para não ser identificado. Por outro lado, as drogas não tradicionais, como os sintéticos, podem ser vendidas por quem não faz parte da facção criminosa.

Do dia 11 de maio de 2022 para cá, houve uma redução da aglomeração de dependentes químicos em um único ponto, que chegou a ter mais de mil pessoas no entorno da praça Júlio Prestes. Hoje, a maior concentração está rua dos Protestantes, na Santa Ifigênia.

De acordo com estimativa da gestão Ricardo Nunes (MDB), naquela rua estiveram, na última terça-feira (6), 107 pessoas pela manhã e 103 no turno da tarde. Há um ano, a média era de 361 de dia e 347 usuários no período vespertino na mesma via. Em maio de 2023 a cracolândia estava na rua dos Gusmões. Ali foram registrados 262 dependentes, em média, de dia e 572 ao escurecer.

No entanto, hoje é possível ver grandes grupos com mais de 30 dependentes usando crack na alameda Barão de Piracicaba e na praça Marechal Deodoro. Na primeira via, moradores de um prédio residencial passaram a filmar a algazarra promovida pelos usuários como forma de chamar a atenção. Outras aglomerações menores pipocam por diversas esquinas no centro.

No quadrilátero formado pela praça Júlio Prestes e, posteriormente, na praça Princesa Isabel, barracas montadas para a venda de entorpecentes marcaram o cenário por anos. Essa geografia, com pensões e casas abandonadas, além da ausência de comércio e de pedestres, favorecia o tráfico, que formou uma espécie de território próprio. Os imóveis serviam de esconderijo para grandes quantidades de drogas.

Já a rua dos Protestantes, mesmo com alguns pensionatos no entorno, tem um perfil diferente, com diversos comércios na região da rua Santa Ifigênia e volume de pedestres. Para o delegado, as ações ajudaram, mas o principal fator para a redução na frequência de dependentes é o ponto onde estão.

A dispersão da cracolândia da praça Princesa Isabel fez parte da Operação Caronte. A ação, iniciada em junho de 2021, foi realizada em diversas fases pela Polícia Civil. Após a dispersão, em 2022, os usuários se tornaram nômades. Estiveram na rua Helvétia, na altura da avenida São João; na rua Doutor Frederico Steidel;na rua dos Gusmões; e na rua Vitória. As batidas policiais se tornaram frequentes.

O período pós-dispersão levou vizinhos à loucura. Saques, quebra-quebra, roubos e furtos se tornaram uma constante. No contra-ataque, lojistas e moradores realizaram diversos protestos, chegando a bloquear importantes vias como as avenidas Rio Branco e Duque de Caxias. O resultado foi um aumento expressivo de policiais militares e guardas-civis metropolitanos na área. Diante do caos, o poder público tentou levar a cracolândia para o entorno da marginal Tietê, no Bom Retiro, mas sem sucesso.

Temendo o pior, moradores se juntaram. Em janeiro de 2023 surgiu a Associação Geral do Centro de São Paulo, com objetivo de cobrar melhorias na segurança e limpeza da área da cracolândia.

“A pulverização é notória em vários pontos da cidade. Mas o comércio, depois de toda a repercussão negativa que teve, ainda não conseguiu se recuperar. Os moradores ainda continuam muito assustados. Muitos usuários em todas as esquinas. Muita violência. Muito assalto”, diz o presidente da entidade, Charles Resolve.

Atualmente os atos de vandalismo que eram vistos quase que diariamente minguaram. Os roubos no trimestre caíram –23% no 3º DP (Campos Elíseos) e 24% no 77º (Santa Cecília) em relação ao ano passado.

Os furtos subiram 17% no 3º DP e 19% no 77º DP no trimestre. Além da cracolândia, o Carnaval de rua pode ter interferido na estatística. Porém, o número de queixa atual é menor do que o registrado em 2023, quando a região sofreu os efeitos da dispersão.

“A situação atual é imensamente melhor do que enfrentamos de 2020/2022, no que diz respeito a número de dependentes químicos e, também, dos índices de furto, roubo e outros crimes praticados em decorrência da cracolândia e do consumo contínuo de drogas. É patente que a Operação Caronte mudou a situação antiga da cena aberta de venda e uso de drogas”, disse o delegado Roberto Monteiro, idealizador da ação.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) do estado disse acompanhar permanentemente a movimentação de usuários de drogas na capital e atuar de forma contínua na região central, com foco no enfrentamento ao tráfico de drogas, na prisão de procurados da Justiça, no combate a crimes patrimoniais e na proteção da população vulnerável. “A Polícia Civil realiza investigações constantes que têm resultado na apreensão de entorpecentes e na identificação de integrantes de organizações criminosas”, diz a pasta da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A pasta acrescentou ter apreendido 598,35 quilos de de drogas na região central no trimestre.

Por sua vez, a Prefeitura de São Paulo disse ter realizado mais de 1,3 milhão de atendimentos nos Caps AD, exclusivos para o atendimento de dependentes de álcool e outras drogas em 2024. “Somente na Cena Aberta de Uso foram feitas, em 2024, 137.041 abordagens, que resultaram em 15.318 encaminhamentos para serviços de saúde e assistência social municipais e 3.774 para hospitais municipais e a rede estadual de tratamento e acolhimento”, afirma a gestão Nunes.