WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Uma de cinco irmãs, Mildred Martínez nasceu em Chicago em 1912 e construiu sua vida num subúrbio ao sul da cidade. Lá, frequentou e ajudou a erguer a biblioteca da paróquia de Santa Maria da Assunção, que seria frequentada pelos seus três filhos.

A atuação na igreja seria a base para que o mais novo deles, Robert Francis Prevost, hoje com 69 anos, decidisse se dedicar ao ofício religioso -um ministério que chegou ao ápice nesta quinta-feira (8), quando ele foi escolhido pelo conclave e se tornou o papa Leão 14. Primeiro da ordem agostiniana a ocupar o mais alto cargo na Igreja Católica, o início da trilha de Prevost na vida religiosa é fruto de influência dos pais.

Mildred formou-se na escola católica Immaculata High School para meninas, em 1929, segundo os arquivos do jornal Chicago Tribune. Formou-se em biblioteconomia em 1947 e fez mestrado em educação em 1949. Casou-se com Louis Marius Prevost, que se formou em educação pelo Woodrow Wilson Junior College em 1940 -ele depois interrompeu a carreira acadêmica para servir como tenente da Marinha dos EUA no mediterrâneo durante a Segunda Guerra Mundial.

Seguindo uma onda da geração pós-guerra, Mildred e o marido compraram uma casa em Dolton, cidade vizinha a Chicago. Os dois envolveram-se profundamente na vida cotidiana da paróquia Santa Maria da Assunção.

“Ela era uma daquelas mulheres que chamávamos de ‘senhoras da igreja'”, contou Marianne Angarola, 69, ex-paroquiana entrevistada pelo jornal Chicago Sun. A família Prevost fazia de um tudo na paróquia: ia à missa todos os dias, limpava a igreja, os altares. A atuação de Mildred se destacava, enquanto o marido atuava de forma mais discreta, mas não menos ativa, segundo outra ex-paroquiana ouvida pelo jornal local.

“Lou [Louis] era muito firme, sempre ao lado de Millie. Mas ficava nos bastidores, porque era ela quem estava sempre envolvida nas atividades da paróquia”, contou Betty Lyons-Geary, 94, ao Chicago Sun. Quem atuou com a mãe do papa na paróquia a chamava de “doce Millie”.

Fora dos limites da igreja, a atuação também era intensa. O jornal de notícias católicas The Pillar relata que, na década de 1960, havia um fluxo intenso de padres que visitava a casa do hoje papa atraídos pelos pratos preparados por Mildred, conhecida como uma exímia cozinheira.

Segundo relatos do Chicago Tribune, ela era presidente do Clube de Mães da Mendel Catholic High School, que também tornou-se central na vida da família. Dois dos três filhos estudaram na escola, da ordem agostiniana, e hoje são parte da associação de ex-alunos. O único que não frequentou o colégio foi o próprio Robert, que decidiu fazer seminário em Michigan.

Mildred morreu em 1990, e no aviso de funeral publicado no jornal de Chicago pedia que, no lugar de flores, fossem feitas doações para a Missão Agostiniana no Peru, conduzida por seu filho, em registro do Chicago Tribune. Louis, por sua vez, faleceu em 1997 e foi enterrado ao lado de sua esposa.

A atividade religiosa dos pais teve influência ímpar na vida do filho mais novo. Em uma entrevista concedida à emissora pública italiana RAI, Robert Prevost falou sobre a importância do pai na sua decisão de se tornar padre.

“Meu pai, com sua experiência, me falava de quanto a intimidade entre ele e minha mãe era importante, mas também, na vida de uma vocação ao sacerdócio, o quanto era importante ter uma proximidade com Cristo, conhecer Jesus e conhecer realmente o amor de Deus por todos os cristãos.”

Os laços criados pela família na cidade permanecem. Embora não exista mais, a Mendel High School -que não foi frequentada pelo hoje papa, mas pelos seus dois irmãos, Louis e John- celebrou a nomeação do pontífice pela sua associação de ex-alunos.

“Notavelmente, sua mãe, Mildred Prevost, trabalhou como bibliotecária na Mendel entre 1969 e 1975, fortalecendo ainda mais os laços da família com o legado da escola -junto às contribuições de Louis e John, formados pela Mendel, que personificaram o espírito de serviço e comunidade da instituição”, diz trecho do texto publicado pela associação de alunos em homenagem à nomeação do papa.