SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Metrô de São Paulo, sob a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), postergou a decisão de instalar barras de segurança que poderiam evitar acidentes nas portas das plataformas.
Na terça-feira (6), Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, morreu após ficar preso entre as portas do trem e da plataforma na estação Campo Limpo, da linha 5-lilás, na zona sul da capital paulista.
Documentos obtidos pela Rede Globo e confirmados pela Folha de S.Paulo mostram que a ViaMobilidade, concessionária responsável pela gestão da linha, ligada ao grupo CCR, cobrava desde 2023 a aprovação da instalação do equipamento de segurança.
Naquele ano, dois passageiros haviam ficado presos entre as portas do trem e da plataforma, nas estações Giovanni Gronchi e Campo Limpo. Em 2022, houve um acidente semelhante na estação Santa Cruz e, um ano antes, na Chácara Klabin. Ninguém morreu ou ficou gravemente ferido.
Em novembro do ano passado, a concessionária chegou a marcar uma reunião para apresentar uma solução a representantes da Secretaria de Parcerias e Investimentos e do Metrô, mas os representantes da companhia estatal não compareceram.
A solução proposta era a instalação de barras de borracha, que acionam um detector ao encontrar alguma barreira que impeça o fechamento da porta. O equipamento impossibilitaria que um passageiro fique preso entre as duas portas.
O Metrô alegou, em respostas à concessionária, que esperava a solução da empresa responsável pelo fornecimento de portas de plataforma e dos trens. O equipamento desenvolvido pelo fornecedor só seria recebido em junho deste ano e, após a aprovação, seria repassado para a concessionária. Em novo ofício, o prazo foi postergado para outubro.
Segundo um funcionário da área técnica do Metrô, as portas de plataforma foram uma inovação recente na rede da companhia, desenvolvidas para evitar suicídios, quedas acidentais ou que alguém jogue outro passageiro na linha. Esses acidentais eram fatais principalmente quando aconteciam no momento em que o trem estava chegando na estação.
Nas linhas 4 e 15, o projeto das estações já contemplava a instalação das portas de plataforma, diferentemente do que aconteceu em projetos mais antigos, como as linhas 1, 2, 3 e 5. Nestas, a instalação é feita com uma série de adaptações, para garantir o bom funcionamento do equipamento.
O funcionário afirma que, nas linhas administrada pelo Metrô, as portas já estão sendo instaladas com um detector, que impede o fechamento das duas portas caso alguém esteja entre elas e a movimentação do trem.
O detector em si, segundo ele, é um equipamento simples, como aquele usado para abrir portas em shoppings ou aeroportos. A instalação, no entanto, exige cuidados e o acompanhamento de profissionais que estejam na estação.
O principal temor é que o detector seja acionado sem necessidade, por um pingo de chuva ou alguma sujeira que grude no sensor, por exemplo. Uma ocorrência simples assim poderia causar um atraso em toda a linha. Outra preocupação é com o alinhamento entre os vagões e as portas de plataforma.
Em nota, o Metrô disse que “abriu uma sindicância para apurar todos os fatos relacionados ao acidente” e que “lamenta profundamente o acidente e manifesta sua solidariedade, comprometendo-se também a prestar todo o apoio necessário à família de Lourivaldo Nepomuceno”.
“Outra medida, pactuada com o fornecedor e com a operadora da Linha 5, é a instalação, em até 90 dias, de barreiras físicas do tipo gap filler [que fecham o vão] nas 17 estações da linha, com o objetivo de diminuir a distância entre as PSDs [portas de plataforma] e os trens”, acrescentou.
“Paralelamente, as barreiras definitivas, que contemplam soluções técnicas de engenharia, bem como a garantia do fornecedor das portas, estão em processo de fabricação e serão instaladas pela ViaMobilidade como complemento às ações emergenciais”, concluiu.
Já a concessionária afirmou que a linha lilás dispõe de um sistema, utilizado nacional e internacionalmente, de sensores de obstrução de portas para impedir que os trens partam com as portas abertas. No entanto, admitiu que no espaço entre as portas do trem e da plataforma, onde o passageiro ficou preso, realmente não há sensor.