MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – A escolha do cardeal Robert Francis Prevost, 69, como novo papa foi celebrada por ambientalistas. O recém-eleito Leão 14 já fez manifestações públicas pela preservação do meio ambiente, além de ter defendido iniciativas de sustentabilidade implementadas por seu antecessor, Francisco, que tinha a questão ambiental como um dos temas centrais de seu papado.
Embora ainda seja cedo para saber a dimensão concreta que o assunto terá na atuação de Leão 14, seu histórico indica que o religioso, nascido nos Estados Unidos e naturalizado peruano, tem apreço pela causa.
Em novembro, durante um seminário em Roma, o então prefeito do Dicastério para os Bispos departamento que faz parte da Cúria Romana, o órgão administrativo da Igreja Católica falou sobre a crise ambiental e a deterioração que o mundo enfrenta.
Prevost afirmou que era a hora de passar “das palavras à ação”, defendendo que a resposta a este desafio deve estar fundamentada na Doutrina Social da Igreja.
Além de alertar sobre as potenciais consequências nocivas do desenvolvimento tecnológico, o sacerdote destacou compromissos da Santa Sé com a questão ambiental, enumerando medidas recentes como a instalação de painéis solares e o uso de uma frota de veículos elétricos que inclui, desde dezembro, um papamóvel totalmente elétrico.
O histórico de Leão 14 nas questões ambientais foi bem recebido na organização da COP30, a 30ª conferência do clima da ONU, que acontece em novembro em Belém.
A diretora-executiva da cúpula, Ana Toni, disse que espera contar com a presença do pontífice no encontro. “Diante de uma crise climática em níveis sem precedentes, é extremamente encorajador saber que o novo papa Leão 14 parece alinhar-se de perto com o papa Francisco no que diz respeito às mudanças climáticas. O cardeal Robert Prevost nos convocou a passar das palavras à ação, que também é o lema da COP30”, disse.
“A Presidência da COP30 espera poder receber o papa Leão 14 em Belém, em novembro, para que possamos alcançar um acordo climático que represente um ponto de virada na criação de um futuro mais próspero, seguro, justo e sustentável.”
Ao parabenizar Prevost pelo cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desejou que o religioso desse continuidade ao legado do papa Francisco, “que teve como principais virtudes a busca incessante pela paz e pela justiça social, a defesa do meio ambiente, o diálogo com todos os povos e todas as religiões, e o respeito à diversidade dos seres humanos”.
Na última década, Prevost demonstrou apoio em várias ocasiões aos escritos do papa Francisco na encíclica “Laudato Si”. Publicada em junho de 2015, ela é considerada um marco na Igreja Católica ao colocar a crise ambiental como uma questão moral e ética que atinge sobretudo os mais pobres e vulneráveis.
Lançada pouco antes do Acordo de Paris, pacto firmado pela comunidade internacional em dezembro de 2015 para tentar frear o aquecimento global, a encíclica acabou tendo influência também na mobilização global pela assinatura do documento.
Na tradição católica, existe a ideia de que Deus concedeu aos seres humanos o “domínio sobre a natureza”. No passado, essa visão já foi usada como uma espécie de autorização ilimitada para a exploração de recursos. Francisco, que morreu em abril, defendia uma abordagem de que esse domínio era também um chamado à responsabilidade e ao cuidado com a natureza.
O papa Leão 14 indica estar alinhado com isso. Também no seminário de Roma em novembro, ele defendeu que o “domínio sobre a natureza” não pode se tornar tirânico, devendo ser uma “relação de reciprocidade” com o meio ambiente.
“O papa Francisco foi uma liderança fundamental na questão climática. Suas ações e ensinamentos tiveram um impacto muito positivo na nossa capacidade de negociar o Acordo de Paris em 2015. Mas os dez anos desde o lançamento da ‘Laudato Si também foram os dez anos mais quentes da história”, disse Laurence Tubiana, CEO da Fundação Europeia do Clima.
“Espero que o papa Leão 14 seja o líder inspirador pela paz e solidariedade que tanto precisamos nestes tempos difíceis, e que amplie os esforços da Igreja Católica para enfrentar a crise climática, mobilizando fiéis, governos e líderes em todo o mundo para proteger a vida em nosso maravilhoso planeta”, completou.
Líder global de clima e energia da organização não governamental WWF, Manuel Pulgar Vidal saudou o posicionamento do novo pontífice, destacando a conjuntura negativa atual para a defesa do ambiente.
“A eleição do papa Leão 14, ex-bispo de Chiclayo, com dupla nacionalidade, personalidade carismática e um sorriso que conecta o povo à Igreja, é uma excelente notícia em um momento difícil para o debate climático, especialmente com o avanço do negacionismo climático e medidas extremas contra o clima vindas dos EUA”, disse.
“A proximidade de Leão 14 com Francisco é evidente. Seu compromisso se estende não apenas à questão climática, mas também aos pobres e migrantes, o que é muito positivo não só para a Igreja, mas para toda a humanidade”, completou.
Embora Donald Trump tenha comemorado a eleição de um papa nascido no país, dizendo-se ansioso para conhecê-lo, Prevost tem uma série de declarações críticas ao republicano, tanto em sua gestão atual quanto no primeiro mandato. Em uma publicação na rede social X em 2017, Prevost chegou a compartilhar uma publicação, marcando o perfil de Trump, com um incentivo à leitura da encíclica “Laudato Si”.