MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – “Liguei para Putin e disse: ‘Putin, acho que está na hora de você voltar à política. Ponha um fim a isso. O mundo precisa de política, não de guerra. Você faz falta.”
Em entrevista a Jon Lee Anderson, levada ao ar pela New Yorker nesta quinta-feira (8), Luiz Inácio Lula da Silva revelou que pediu o fim da guerra da Ucrânia em uma conversa telefônica com Vladimir Putin. Horas depois da publicação da revista americana, o presidente brasileiro era recebido pelo líder russo para um jantar no Kremlin portando uma fita de São Jorge na lapela.
O símbolo, há 80 anos, era um sinal de apoio às tropas soviéticas, decisivas para a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra. Agora, dentro da elaborada iconografia da máquina de propaganda de Putin, significa apoio incondicional ao líder do país, o que está a mais tempo no poder desde Josef Stalin, e a seu maior empreendimento geopolítico, a guerra da Ucrânia, em curso desde a 2022.
“Todo o país, a sociedade e a população apoiam os participantes da operação militar especial”, afirmou Putin na manhã desta sexta-feira (9), em discurso na Praça Vermelha, no início do desfile militar, o ponto alto das comemorações do Dia da Vitória da Guerra Patriótica, a maneira com a qual os russos se referem à Segunda Guerra.
O símbolo estava nas lapelas dos 29 líderes, a maioria ditadores e autocratas, recebidos na sede do governo russo na véspera e na tribuna da parada, que celebrou o triunfo do Exército Vermelho, responsável por liberar Berlim uma semana depois do suicídio de Adolf Hitler. A narrativa de Putin busca não apenas criar um paralelo entre o evento histórico e o conflito atual, mas conferir um caráter de continuidade. Entre os veículos do desfile, inclusive, drones usados contra a Ucrânia foram exibidos, assim como blindados e tanques originais da Segunda Guerra.
Desde o início da invasão ao território vizinho, o líder russo afirma, entre outros argumentos, que invadiu a Ucrânia para liberar o país de tropas neonazistas.
Lula, já sem o adereço, foi recebido por Putin em um salão do Kremlin para encontro bilateral. No período de cerca de dez minutos acompanhado pelos jornalistas, a Ucrânia e as críticas europeias à celebração não foram citadas. As boas relações entre Brasil e Rússia se devem também às relações pessoais entre os presidentes, ambos afirmaram.
Na chegada a Moscou, o presidente brasileiro justificou sua presença na celebração como uma defesa da multilateralismo.