RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – O Botafogo fez cortes nos esportes olímpicos e algumas modalidades foram descontinuadas. No caso do remo, que é estatutário, houve protesto de atletas e a saída de Beatriz Tavares, que esteve nas Olimpíadas de Paris.

O QUE ACONTECEU

Remadores do clube fizeram um protesto há alguns dias. Uma faixa foi levada em um barco à Lagoa Rodrigo de Freitas com o dizer: “O remo alvinegro não pode morrer em silêncio”.

Nomes como Beatriz Tavares, Chloé Gorski e Kissya Calado deixaram o clube em meio à mudança de rumo. O Alvinegro enxerga as saídas como algo “natural” diante de propostas que possam ter sido avaliadas como mais vantajosas.

“Estamos enfrentando um período de ajustes, para equilibrar as nossas finanças. Vivemos, hoje, da contribuição dos sócios, das mensalidades das escolinhas e de algumas receitas patrimoniais: A conta não está fechando e tivemos de cortar despesas. Iremos buscar recursos fora do clube, através de projetos incentivados, mas esses recursos não entram da noite para o dia. Até lá, precisamos fazer um grande esforço para pagar os compromissos”, disse João Gualberto, vice-presidente de Remo.

Alexandre Fernandes, o Xoxô, coordenador técnico da modalidade, foi demitido. “Foi por critério financeiro. É um técnico de competência mais do que comprovada e muito querido por todo o Botafogo”, apontou Gualberto.

A cúpula indica um olhar mais atento às categorias inferiores do remo. “Estamos apostando na nossa base, com o consagrado treinador Paulo Vinícius, o Paulinho, e a prata da casa Lucas Tedesco, em quem depositamos muita confiança”.

O remador Lucas Verthein, ouro do Pan de Santiago-2023, permanece no Glorioso. Uncas Batista, que já foi bi mundial no sub-23, foi outro que ficou.

“Nesse primeiro momento, como praxe de qualquer nova gestão, estamos reavaliando e readequando algumas modalidades, e priorizando o equilíbrio do fluxo de caixa do clube. Importante ressaltar que temos um projeto de quatro anos, período este, que buscaremos oferecer todo conforto aos sócios do Botafogo, bem como qualificar nossas modalidades esportivas”, disse o CEO Gilnei Botrel.

O judô do Botafogo se desfez. O Alvinegro, que chegou a ser campeão sul-americano no ano passado, com a judoca Micaela Jardim, não conta mais com equipe. Comissão técnica e atletas, agora, integram o Projeção, projeto junto ao Idec, que é localizado no Campus da Unisuam.

O projeto do jiu-jítsu foi descontinuado. O clube publicou uma nota em abril avisando que “diante da proeminente necessidade de readequação da sua estrutura, do reposicionamento da sua marca e da priorização das atividades necessárias à sua plena manutenção”, houve a decisão de encerrar a parceria que tinha para a modalidade.

“As mudanças foram resultado de uma reavaliação estratégica das parcerias existentes e da definição de novas prioridades. Houve questões contratuais envolvidas, mas isso não significa um retrocesso, e sim um recomeço. Estamos trabalhando ativamente na construção de novas parcerias sólidas, com visão de futuro e potencial de conquistar resultados expressivos”, afirmou o CEO.

O futuro do basquete ainda é uma incógnita. O Alvinegro, que participou das últimas temporadas do NBB (Novo Basquete Brasil, principal liga da modalidade) e foi campeão da Liga Sul-Americana em 2019, avalia os novos passos.

“O Botafogo tem um histórico glorioso no basquete e reconhece a importância da modalidade para o clube. Nossa base continua forte, sendo referência nacional na formação de atletas. Em relação ao time profissional, estamos trabalhando ativamente para viabilizar que a modalidade seja autossustentável financeiramente”, indicou Gilnei Botrel.

João Paulo Magalhães foi eleito em pleito realizado em dezembro — ele teve o apoio do ex-presidente Durcesio Mello e nomes de peso da política alvinegra, como Carlos Augusto Montenegro. Na ocasião, ele prometeu aumento de investimento nas modalidades que dizem respeito ao clube associativo. “O Botafogo vive uma renovação nos projetos de Esportes Olímpicos, já mandou oito atletas para as últimas Olimpíadas [de Paris] e vamos continuar trabalhando para aumentar”, apontou.

O UOL questionou o CEO se as recentes tomadas de decisão estão na contramão do prometido pelo presidente. “Não, pelo contrário. Mantemos o compromisso com o desenvolvimento dos Esportes Olímpicos e estamos alinhados ao ciclo que se aproxima. Em um esforço importante, preservamos atletas com grande potencial competitivo, como Lucas Verthein e Ana Sátila [canoagem slalom]. Além disso, continuamos fortes no vôlei de praia, em parceria com o Sesc, e no skate, com Pedro Vita”.

Anunciada em fevereiro pelo próprio Alvinegro, a parceria com o Magé Futsal não se concretizou. Segundo Botrel, por “razão fora do controle” do clube.

“A parceria com o Magé não se consolidou por razões fora do nosso controle. No entanto, seguimos com um projeto próprio de futsal extremamente sólido e promissor. Nossa base já é referência nacional e está servindo inclusive como celeiro de talentos para a própria SAF. Temos plena convicção de que esse setor seguirá crescendo e agregando cada vez mais valor ao clube”.

O Botafogo associativo não tem ligação financeira com a SAF, que tem John Textor como dono. Os investimentos do empresário são feitos no futebol.

No começo da relação com o Alvinegro, o norte-americano chegou a marcar presença em eventos de remo, modalidade da qual se disse fã. “Somos uma comunidade esportiva e me alegra ver o desenvolvimento dos outros esportes, como o basquete, o futsal e o remo, que sou especial admirador”, disse, em abril de 2023. Textor ajudou na compra do barco usado por Lucas Verthein, e com o qual o brasileiro levou o ouro no Pan-2023.