SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, afirmou que o governo norte-americano não intervirá no conflito entre a Índia e o Paquistão, que já deixou dezenas de mortos nos dois países desde o mês passado.

Vance afirmou que a briga entre as duas potências nucleares “não é problema” dos EUA. A declaração foi dada em entrevista ao canal norte-americano Fox News nesta quinta-feira (08) à noite. O vice-presidente ponderou que o governo norte-americano tentaria apaziguar o conflito, mas que não poderia forçar nenhum lado a “depor suas armas”.

O que nós podemos fazer é tentar encorajá-los a desescalar [o conflito] um pouquinho, mas não vamos nos envolver no meio de uma guerra que, fundamentalmente, não é problema nosso e não tem nada a ver com a capacidade dos EUA de controlá-la. JD Vance, vice-presidente norte-americano, à Fox News.

Vice acrescentou que o governo continuaria acompanhando o assunto por meio de “canais diplomáticos”. Vance ressaltou esperar que confronto não se torne um conflito nuclear.

“Nossa esperança e expectativa é que isso não vire uma guerra regional mais ampla ou, Deus nos livre, um conflito nuclear. (…) Neste momento, não achamos que isso vai acontecer”, disse JD Vance.

A declaração de Vance condiz com a política externa de Trump, guiada pelo jargão: ‘América em primeiro lugar’. O republicano defende um recuo do papel dos EUA como mediador em conflitos estrangeiros. Tanto Trump como Vance já afirmaram, por exemplo, que o governo norte-americano está disposto a se distanciar da intermediação de um cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia se os dois lados não concordarem em manter um diálogo direto.

ESCALADA DO CONFLITO ASIÁTICO

Índia acusa forças Armadas do Paquistão de lançar, desta quinta-feira (08) para nesta sexta-feira (09), múltiplos ataques com drones e outras munições ao longo de toda a fronteira ocidental indiana. Nova Delhi disse ainda que tropas paquistanesas recorreram a “numerosas violações do cessar-fogo” ao longo da fronteira dos países na Caxemira, uma região dividida entre os países, mas reivindicada integralmente por ambos.

Ainda não houve resposta do Paquistão à acusação indiana mais recente. Islamabad havia negado anteriormente atacar a cidade de Pathankot no estado indiano de Punjab, Srinagar no vale da Caxemira, e Jaisalmer no estado de Rajastão, dizendo que as acusações eram “infundadas” e “politicamente motivadas”, segundo apuração da Folha de S.Paulo.

Inimigos antigos, países estão em confronto desde que a Índia atacou múltiplos locais no Paquistão, sob a alegação de que a região abrigava “campos terroristas”. O ataque indiano foi uma retaliação a uma ação mortal na disputada região da Caxemira no mês passado, cuja autoria foi atribuída ao governo paquistanês, que negou a acusação.

Quase 40 pessoas já foram mortas na fase mais recente do conflito. Ambos países têm trocado tiros e bombardeios nos territórios inimigos e enviado drones e mísseis ao espaço aéreo um do outro desde o fim de abril.

RIVAIS HISTÓRICOS E ‘GUERRA DA ÁGUA’

As tensões entre os países vêm escalando desde um atentado em 22 de abril. Homens armados mataram 26 turistas na Caxemira indiana. Nova Déli acusou Islamabad de estar por trás da ação, o que o país islâmico nega. O atentado não foi reivindicado até nesta sexta-feira (09).

Mais recentemente, a Índia vem retaliando e ameaçando o Paquistão com “cortes de água’. Os rios que abastecem o território paquistanês nascem na Índia. “A água que pertence à Índia e que até agora fluía para fora será retida para servir aos nossos interesses e será utilizada dentro do país”, declarou o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em um discurso público.

Paquistão advertiu que qualquer tentativa de modificar o fluxo desses rios será considerada “um ato de guerra”. Um tratado assinado em 1960 estabelecia que ambos os países compartilhassem o controle da bacia de seis rios da Caxemira, que se unem mais adiante formando o rio Indo, no território paquistanês.

Foram destruídos mesquitas, casas e posto de saúde. Trocas de fogo de artilharia pesada também ocorrem ao longo da fronteira, desencadeando imediatamente propostas de mediação por parte de Pequim e Londres.

ONU advertiu que “o mundo não pode permitir um confronto militar entre Índia e Paquistão”. O governo britânico disse estar “pronto” para intervir a fim de “acalmar” a situação entre a Índia e o Paquistão. Já a Turquia fez um alerta sobre o “risco de uma guerra total” entre Índia e Paquistão e condenou a “iniciativa provocadora” de Nova Déli ao atacar o país vizinho.