SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Índia e Paquistão acusaram-se mutuamente de lançar novos ataques militares na sexta-feira (9), o terceiro dia de conflito entre as duas potências nucleares desde que a crise na disputada região da Caxemira recomeçou, no início da semana.

A tensão explodiu na quarta (7), quando Nova Déli atacou o Paquistão sob a justificativa de que os alvos seriam supostos campos terroristas ligados a um ataque realizado na Caxemira indiana, no mês passado, contra turistas hindus. O Paquistão nega envolvimento no atentado.

A despeito da guerra de versões, ambos os países trocaram fogo transfronteiriço e bombardeios desde então, além de enviarem drones e mísseis para o espaço aéreo adversário. O pior confronto entre os vizinhos sul-asiáticos em mais de 20 anos já deixou mais de 40 mortos, segundo dados das autoridades locais.

O conflito já causa deslocamento e afeta serviços e eventos na região. Moradores de ambos os países fugiram das áreas de fronteira, onde há alertas de ataques aéreos, e aqueles que ficam estocam itens essenciais e enfrentam apagões. Na quinta (8), a Índia decidiu suspender o Indian Premier League T20, seu prestigioso torneio de críquete, como forma de precaução.

Os confrontos são os mais mortais entre os dois países desde 1999, quando as nações se enfrentaram na região de Kargil, também na Caxemira. Na época, a Índia atacou cidades em províncias paquistanesas, fora da região em disputa, pela primeira vez desde a guerra de 1971.

A Caxemira é uma região de maioria muçulmana dividida entre a Índia e o Paquistão, que disputam o local desde que eles conquistaram a independência do Reino Unido, em 1947. Desde 1989, o local é palco de uma insurgência daqueles que buscam independência ou anexação ao Paquistão e que, segundo Nova Déli, têm o apoio do país vizinho.

Nesta sexta, a Índia disse ter repelido uma série de drones e disparos de artilharia lançados durante a noite pelo Paquistão e que teriam violado as fronteiras determinadas entre os países na Caxemira —a região é dividida entre eles, mas reivindicada integralmente por ambos.

“Os ataques de drones foram efetivamente repelidos e uma resposta adequada foi dada às violações do cessar-fogo”, disse o Exército indiano. O Ministro da Informação do Paquistão, Attaullah Tarar, por sua vez, disse que a declaração era “infundada e enganosa”, e que seu país não havia realizado ações dentro da Caxemira indiana.

Além disso, autoridades paquistanesas disseram que bombardeios vindos do outro lado da fronteira mataram cinco civis, incluindo um bebê, e feriram 29 nas primeiras horas desta sexta —acusações que o Ministério da Defesa da Índia não respondeu imediatamente.

A crise atual teve início no último dia 22, quando um atentado terrorista cometido por um grupo armado que luta pela independência da Caxemira indiana matou 26 pessoas, a maioria hindus. A Índia culpou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão, embora ninguém tenha assumido a autoria do ataque. A organização, designada como terrorista pela ONU, é suspeita de realizar ataques em Mumbai que deixaram 166 mortos em 2008.

Parte das supostas violações teria ocorrido na região de Samba, na Caxemira indiana, na noite de quinta, segundo a Força de Segurança de Fronteira do país. Nesta sexta, intensos bombardeios de artilharia persistiram na área de Uri, também na Caxemira indiana, de acordo com um funcionário que não quis ser identificado.

O turismo também vem sendo afetado pelo conflito. Sirenes soaram por mais de duas horas nesta sexta na cidade indiana de Amritsar, que abriga o Templo Dourado —construção reverenciada pelos seguidores do Siquismo, religião originada no Himalaia. Hotéis relataram uma queda acentuada na ocupação após turistas fugirem da cidade pela estrada, já que o aeroporto estava fechado.

Há ainda relatos de fechamento de escolas e centros de treinamento, e a Diretoria Geral de Navegação da Índia orientou todos os portos, terminais e estaleiros a aumentarem a segurança.

Potências mundiais, dos Estados Unidos à China, pediram moderação aos dois países, e o vice-presidente americano, J.D. Vance, reiterou o apelo nesta quinta. “Queremos que isso desescale o mais rápido possível. No entanto, não podemos controlar esses países”, disse ele em uma entrevista à Fox News.

O ministro de Estado para assuntos estrangeiros da Arábia Saudita, Adel Al-Jubeir, deve visitar o Paquistão nesta sexta, disse um funcionário de alto escalão paquistanês. A autoridade esteve na Índia na quinta e se reuniu com o ministro das Relações Exteriores indiano, Subrahmanyam Jaishankar.