Depois de meses de números animadores, os alertas de desmatamento na Amazônia voltaram a crescer — e em ritmo acelerado. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta quinta-feira (8) revelam que abril teve um salto de 55% nas notificações de supressão da floresta em comparação com o mesmo mês de 2024, segundo registros do sistema Deter, ferramenta de monitoramento em tempo real da plataforma TerraBrasilis.

Embora o acumulado entre agosto de 2024 e abril de 2025 ainda mostre queda de 5% no desmatamento, o novo aumento já acendeu o alerta entre autoridades federais. O governo federal corre para reagir antes que a tendência de redução registrada nos últimos dois anos perca força. “Abril quebrou a curva. Foi um aumento expressivo, fora da média recente, e por isso estamos reorganizando a atuação dos órgãos envolvidos”, explicou João Paulo Capobianco, secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Uma força-tarefa interministerial foi convocada para, em cerca de duas semanas, mapear os focos críticos, traçar causas e redefinir estratégias. O objetivo do governo é frear o avanço até julho, quando se encerra o ano-base do monitoramento oficial, e garantir que 2025 feche com nova redução no índice.

Amazônia: os estados mais afetados

O maior volume de alertas recentes se concentrou nos estados do Amazonas, Mato Grosso e Pará — regiões que historicamente lideram os rankings de devastação. E, mesmo com o cenário geral ainda positivo, a tendência de desaceleração já havia sido percebida no primeiro quadrimestre do ano, quando a redução do desmatamento ficou em apenas 1%.

Se comparado a 2022, no entanto, o desmatamento na Amazônia caiu quase pela metade: 45,7%. Ainda assim, a ministra Marina Silva reiterou que a missão do governo é manter uma queda contínua e sustentada. “Estamos diante de um momento crítico. Por isso, reforçamos o compromisso com um plano articulado entre 19 ministérios para agir imediatamente”, afirmou.

Cerrado e Pantanal: contrastes no cenário

Fora da Amazônia, o comportamento do desmatamento tem variado. O Cerrado, por exemplo, registrou aumento de 26% nos alertas em abril, mas mantém uma tendência de queda no acumulado desde agosto: -25%. Em 2024, esse bioma teve sua primeira redução em cinco anos, com recuo de 25,7%.

Já o Pantanal trouxe um dado promissor: abril terminou com 77% menos alertas de desmatamento e nenhum foco de incêndio registrado — um alívio depois de anos marcados por queimadas severas.

Expansão dos planos de combate

A ministra Marina Silva também anunciou a conclusão dos planos de prevenção e controle para os biomas Mata Atlântica e Pampa. Com isso, todos os biomas brasileiros passam a contar com estratégias oficiais para enfrentar o desmatamento.

Monitoramento em tempo real

O sistema Deter, utilizado pelo Inpe e por órgãos como o Ibama, é o principal radar do governo para detectar alterações rápidas na vegetação da Amazônia e do Cerrado. Apesar de não medir com precisão a área desmatada (função do sistema Prodes, divulgado anualmente), o Deter é fundamental para orientar ações emergenciais e operações de fiscalização.

A expectativa agora é que os dados de maio tragam uma reversão do pico de abril — ou, ao menos, um freio. Como destacou o secretário André Lima, “pode ser só uma oscilação, mas pode não ser. Precisamos agir antes de saber com certeza”.