SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fruto de imigração forçada, por muito tempo na vice-liderança e sem perspectivas de chegar ao topo. Agora pode parecer contraintuitivo, mas esses são começo, meio e projeção de futuro do catolicismo romano nos Estados Unidos. O inesperado desdobramento desta quinta-feira (8), com a eleição do novo papa Leão 14, adiciona camadas sem precedentes.

Pela primeira vez na história, um cardeal americano é eleito pontífice do Vaticano -antes dele, dentro das Américas, o único havia sido o argentino Francisco. Nos últimos dez anos, inclusive, que compreendem o período do último papado, o catolicismo dos EUA viveu um decréscimo de 0,32% -a título de comparação, durante o século 20, o crescimento total foi de 1,68%.

Os dados da World Christian Database apontam para um aumento progressivo no número de católicos americanos até 2015 -neste ápice, a base de fiéis chegou a 72,8 milhões de pessoas. O crescimento mais acentuado, desde 1900, aconteceu entre as décadas de 1950 e 1970 -em uma taxa média de 2,33% ao ano.

Mesmo com o alargamento do número de seguidores da Santa Sé, a tendência seguiu a do catolicismo mundial: desaceleração no ritmo do aumento e, portanto, sucessivos crescimentos nominais, e não reais -quando o montante sobe em menor taxa que a população geral.

Na prática, significa dizer que o catolicismo tem perdido espaço proporcional dentro do país. Desde 1970, quando os católicos eram 24,1% dos EUA -o mais alto nível até hoje-, a porcentagem de fiéis apresenta uma leve tendência de queda, com 22,3% e 22,4% em 2000 e 2015 e, em 2020, 20,5%.

À frente dos católicos desde o princípio estão os protestantes. A criação dos EUA, com imigrantes em busca de liberdade religiosa vindos de países europeus, calcou vertentes puritanas que florescem no primeiro lugar da classificação religiosa até hoje.

A religião apostólica romana nunca representou uma ameaça numérica real a este protestantismo; ao contrário, é ameaçada nesta e nas próximas décadas pela ascensão dos grupos sem religião no país. A vice-liderança do catolicismo, segundo projeções da Associação de Arquivos de Dados de Religião, parece ter seu fim próximo, até 2050.

Na mesma esteira decrescente está também o percentual de protestantes, é verdade: em 1900, eram 57,5% da população; um século depois, o número encolheu para 35,6% e, em 2050, deve chegar a 34,9%. A tendência de estabilidade observada desde 2000, no entanto, pode indicar que o número está próximo do piso, afirmam demógrafos -isto é, um patamar de platô que representaria a base fixa de fiéis.

Os não fiéis, por outro lado, que declaram não seguir religião alguma, lideram uma guinada histórica que não é exclusiva dos Estados Unidos. Há uma tendência global, inclusive no Brasil, de aumento no número de pessoas distantes da religiosidade -onda advinda, no geral, das gerações mais novas.

Em território americano, o número de pessoas que se declaram como tal multiplicou-se em mais de 15 vezes. No início do século 20 era 1,3% da população; há cinco anos, em 2020, o número chegou a quase um quinto da população e, pela projeção, deve ultrapassar 25% até 2050.

Mesmo com as projeções menos animadoras, o reduto católico americano está longe de uma possível falência. No ranking de países com as maiores populações seguidoras, agora, de Leão 14, os conterrâneos do novo papa aparecem em quarto lugar.

Pelos números da World Population Review -uma base de dados que leva em conta pesquisas da Pew Research, CIA Factbook e censos regionais mais recentes-, neste ano o número de católicos americanos ronda os 85,3 milhões.

As diferenças nos montantes apontados pelas diferentes fontes se deve às distinções metodológicas e às variações possíveis desde o último censo geral americano, realizado em 2020.

A eleição do papa Leão 14, em todo esse cenário, representa uma virada inesperada na narrativa católica descendente dos EUA. Mesmo com a tendência de queda, o país, junto com os vizinhos americanos também no ranking, México e Brasil, compõe quase um quarto de todos os católicos do mundo.

Considerando todas as Américas -do Sul, Central e do Norte-, com os números de 2025, são cerca de 589,2 milhões de católicos romanos. Na prática, isto constitui mais de 40% do catolicismo mundial e aponta para a descentralização da religião que, em detrimento do reduto europeu, expandiu as evangelizações ao redor do globo -em primeiro lugar pelos territórios americanos e, mais recentemente, nas regiões de África e Ásia.