BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A amazônia e o cerrado apresentaram aumento nos alertas de desmatamento em abril, às vésperas do início da temporada de maior índice de destruição da floresta em razão do aumento em incêndios. O começo do período de fogo vai de maio a julho.
No acumulado dos últimos meses, no entanto, ainda houve queda, em ambos os biomas, segundo dados do Deter, o sistema de satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), divulgados nesta quinta-feira (8).
Segundo integrantes do Ministério do Meio Ambiente, este cenário aponta que, apesar do desmatamento seguir diminuindo, a curva de queda desacelerou e pode estagnar, o que liga um sinal de alerta na ala do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comandada pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Em abril de 2024, foram 174 km² de degradação na amazônia, contra 270 km² no mês em 2025, um crescimento de 55%.
O crescimento de março a abril é esperado, em razão da chegada da seca, mas agora ele foi maior que na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior. Em 2024, houve aumento de apenas 12 km², ou 7,5%, enquanto em 2025 o índice foi bem maior, de 128 km², ou 90%.
No acumulado de 2024 a 2025 (que contabiliza de agosto a abril), porém, houve uma queda de 5% com relação ao período anterior, que já havia apresentado uma redução histórica.
Marina Silva afirmou que os dados mostram uma estabilização em um processo de queda que vinha sendo registrado até aqui.
“Temos compromisso de fazer uma queda constante e estruturada do desmatamento, por isso os ajustes vão sendo feitos ao longo de todo o processo”, afirmou ela a jornalistas após a reunião interministerial do comitê de combate ao fogo.
“Como teve uma tendência de alta, a gente fez questão de vir aqui exatamente para poder fazer o devido ajuste, colocar para a sociedade brasileira o quanto o governo está comprometido a tomar todas as medidas necessárias”, completou.
Integrantes da ala ambiental do governo ponderam que o número ainda não é preocupante, pois o desmatamento vinha em uma quantidade muito baixa e este crescimento não é muito alarmante. Afirmam também que, em abril deste ano, houve bem menos nuvens no céu do que no ano passado (24% contra 14%), o que inflaciona os índices registrados via satélite.
Marina Silva minimizou a importância deste fator.
“Não importa. O importante é que quando você soma os primeiros meses, você verifica que chegamos a uma situação de estabilização, então nosso compromisso não é ter uma versão positiva para apresentar, nosso compromisso é ter uma queda consistente e duradoura”, disse.
Movimento semelhante, mas menos acentuado, foi registrado no cerrado: crescimento de 547 km² para 690 km² de alertas de desmatamento na comparação de abril de 2024 com o de 2025.
O crescimento entre março e o mês seguinte no último ano foi de 23 km², mas de 202 km² no atual.
O Deter também mostrou que, pela primeira vez desde que se iniciou o monitoramento do pantanal, em 2024, o mês de abril não registrou nenhuma cicatriz de incêndio.
“Identificamos uma possível reversão na queda de desmatamento, e o mês de abril chamou atenção, porque houve aumento significativo com relação à série que vínhamos tendo”, afirmou o secretário-executivo do ministério, João Paulo Capobianco.
A série histórica do Deter contabiliza os períodos de agosto de um ano a julho do outro. Nesta perspectiva, destaca Capobianco, os índices seguem mais baixos em 2024/2025 que no período anterior.
“O desmatamento está em queda”, afirmou. “O objetivo é chegar em julho [ainda] com desmatamento em queda”, completou.
A equipe do ministério e do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) afirmou que tem movido ações contra desmatadores ilegais e também contra os incêndios criminosos que foram recorde em 2024.
Nesta quinta, o ministério também anunciou que finalizou os planos para proteção e controle do desmatamento dos biomas caatinga, mata atlântica e pampa.
O PPCDAm (o plano para a amazônia) foi uma estratégia pioneira criada por Marina em sua primeira passagem pelo ministério, no início dos anos 2000, e que levou a uma drástica queda da destruição da floresta neste local. Depois, foi criado também o do cerrado.
Estes planos foram paralisados pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e retomados com o retorno dela à pasta.
Após sua volta ao ministério, em 2023, Marina anunciou a criação do plano de controle do desmatamento no pantanal e agora o faz para os outros três biomas brasileiros que faltavam.
A variação na destruição na amazônia vem após fevereiro registrar o nível mais baixo de desmatamento da série histórica para o mês. Os satélites do Inpe detectaram alertas de desmate em 80,95 km².
O número representou uma queda de 64% em relação a fevereiro de 2024 e é o dado mais baixo desde a criação do sistema, em 2016.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já deu declarações se comprometendo a erradicar o desmatamento ilegal até 2030. Em novembro deste ano, o Brasil sediará a COP30, cúpula climática das Nações Unidas, em Belém.
Destinado principalmente a abrir espaço para a pecuária e a agricultura, o desmatamento no Brasil foi significativamente reduzido desde a chegada de Lula ao poder em 2023, após disparar durante o mandato de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).
Participaram do anúncio, o secretário-executivo do Ministério do Ambiente, João Paulo Capobianco, o coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia e Demais Biomas Brasileiros do Inpe, Cláudio Almeida, o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA, André Lima, o presidente substituto do ICMBio, Marcelo Marcelino, e o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Jair Schmitt.