SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A fumaça branca na chaminé no topo da Capela Sistina anunciou nesta quinta-feira (8) que a Igreja Católica tem um novo papa. Os colégio formado pelos 133 cardeais reunidos para o conclave elegeu o americano Robert Prevost, agora papa Leão 14, como o 267º pontífice à frente do Vaticano.

Prevost, que é membro da Ordem de Santo Agostinho, foi missionário no Peru nos anos 1980, e retornou aos Estados Unidos em 1998 para chefiar a organização agostiniana em Chicago, sua cidade natal. Dois anos depois, se envolveu em um escândalo por acolher um padre acusado de abuso sexual de crianças.

Ainda que tenha sido considerado um cardeal de perfil progressista moderado, o novo papa já demonstrou pouca abertura à comunidade LGBTQIA+ e citou explicitamente “o estilo de vida homossexual” ao criticar, em 2012, a simpatia da mídia ocidental por crenças e práticas que, segundo ele, vão contra o Evangelho.

Confira declarações e o que já disse o novo papa sobre X assuntos:

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MULHERES NO CLERO

Robert Francis Prevost, então prefeito do Dicastério para os Bispos da Santa Sé, afirmou durante Sínodo sobre Sinodalidade em outubro de 2023 que ordenar mulheres não resolveria os problemas da Igreja Católica. Em coletiva de imprensa na ocasião, o cardeal disse ainda que a instituição religiosa não é uma imagem espelhada da sociedade e, por isso, a existência de mulheres presidentes ou em diferentes papéis de liderança no mundo não criaria um paralelo imediato.

“Não é tão simples como dizer: ‘Sabe, nesta fase vamos mudar a tradição da Igreja depois de 2 mil anos em qualquer um desses pontos'”, acrescentou Prevost, que citou ainda a nomeação da irmã Simona Brambilla como secretária do Dicastério por decisão do papa Francisco.

COMUNIDADE LGBTQIA+

A respeito da participação da comunidade LGBTQIA+ e da abertura da Igreja, Robert Francis Prevost criticou a suposta simpatia da mídia ocidental por crenças e práticas que, segundo ele, vão contra o Evangelho.

A declaração aconteceu em 2012, antes mesmo de ser nomeado cardeal por Francisco. À época, ele citou explicitamente “o estilo de vida homossexual” e “famílias alternativas compostas por casais do mesmo sexo e seus filhos adotivos”.

Como bispo em Chiclayo, no Peru, Prevost também se opôs à inclusão de conteúdo sobre gênero nas escolas, afirmando que a chamada “ideologia de gênero” era confusa e criava “gêneros que não existem”.

Por sua vez, a respeito da Fiducia supplicans, ou seja, benção a casais em situações irregulares perante a Igreja, incluindo casais do mesmo sexo, o então cardeal defendeu a necessidade que as conferências episcopais nacionais possam interpretais as diretrizes em seus contextos locais, considerando as diferenças regionais.

CRISE CLIMÁTICA

Quanto à emergência climática Prevost esteve bastante alinhado com o papa Francisco. Enquanto cardeal, enfatizou que o catolicismo deve passar “das palavras à ação”, uma vez que, segundo ele, é preciso estar alerta contra as consequências prejudiciais do desenvolvimento tecnológico descontrolado e defender uma troca recíproca e não tirânica com o meio ambiente.

IMIGRANTES

Nascido em Chicago e poliglota, o novo papa é visto como um religioso que transcende fronteiras: viveu por duas décadas no Peru, onde se tornou bispo e cidadão naturalizado, liderou sua ordem religiosa internacional e ocupava um dos cargos mais influentes do Vaticano.

Com os diferentes setores da Igreja debatendo se devem seguir a agenda inclusiva do papa Francisco ou retornar a uma linha doutrinária conservadora, os apoiadores de Prevost o consideram o meio termo e muito elogiado por seu apoio a imigrantes venezuelanos e visitas a comunidades isoladas.

COMUNHÃO PARA DIVORCIADOS

Outro tema que pode ter continuidade com o novo papa se refere a casais divorciados ou casados pela segunda vez. Rober Prevost apoiou a mudança na prática pastoral proposta por Francisco na exortação apostólica “Amoris laetitia” (“A alegria do amor”), datada de 19 de março de 2016.

Na prática, o documenta aborda, entre outros temas, a situação dos católicos que vivem uma união conjugal classificada como irregular, o que inclui católicos divorciados e recasados no civil.

De modo geral, a Igreja considera que essas uniões não deveriam acontecer e correspondem a um pecado grave. Porém, Francisco argumentou que a situação concreta de cada casal é mais complicada e não se encaixa numa lógica binária, flexibilizando a permissão para que essas pessoas possam receber a Sagrada Comunhão.

No caso brasileiro, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) produziu um documento que deixou a possibilidade em aberto, em “casos limitados”, mas sem estabelecer critérios muito específicos. Bispos de outros locais, como do próprio EUA, por exemplo, adotaram uma interpretação mais rigorosa da doutrina e não oficializaram essa possibilidade.

ABUSO SEXUAL

Um dos temas mais controversos na biografia de Robert Prevost envolve acusações de ter acobertado um padre acusado de abuso sexual de crianças. Sobre o tema e as novas normas da Igreja para combater e responsabilizar os bispos, o cardeal disse que havia muito a aprender.

“É urgente e necessário que sejamos mais responsáveis e mais sensíveis a isso. As leis já existem. É mais difícil mudar uma mentalidade”, mencionou em entrevista em 2023. À época, ele também falou em diferenças culturais na forma de reagir às situações e citou o tema como um tabu a ser quebrado.

“De qualquer forma, o silêncio não é a resposta. O silêncio não é a solução. Devemos ser transparentes e honestos, devemos acompanhar e ajudar as vítimas, porque, caso contrário, suas feridas jamais cicatrizarão. Há uma grande responsabilidade nisso, para todos nós”, concluiu.