SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Popular a ponto de batizar diversos bairros, ruas, avenidas e escolas no Brasil, santo Agostinho tem grande peso dentro e fora do catolicismo. Por mais que, para outras denominações do cristianismo ele não tenha status de santo, um ponto é inegável: a importância do religioso como teólogo e fundamentador de bases teológicas.

Agostinho é o mentor religioso da comunidade agostiniana, da qual o novo Leão 14 faz parte. No entanto, ele não fundou diretamente a ordem religiosa.

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QUEM FOI SANTO AGOSTINHO

Santo Agostinho é um dos santos com vida mais “antiga”. Enquanto nomes como santo Antônio e santa Rita de Cássia viveram a partir do século 12, Agostinho viveu entre os séculos 4º e 5º — mais próximo de são Bento, que teria nascido por volta do ano 480 d.C..

Não há dúvidas de que santo Agostinho realmente existiu. Diferente de outros santos populares no cristianismo, como são Jorge, o religioso não tem sua existência questionada por historiadores.

“Santo Agostinho nunca teve a existência questionada. Há diversos testemunhos, notas de outros bispos e outros santos que utilizaram suas obras como fonte. Ele tem diversas obras publicadas que chegaram até nós. Sabemos o lugar do nascimento e falecimento, conhecemos um pouco da biografia, pois há um livro chamado ‘Confissões’ em que relata a vida e o processo de conversão”, disse Dayvid da Silva, professor e coordenador do curso de Teologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo

A história, então, revela que Agostinho teria nascido em Tagaste, atual Souk Ahras, na Argélia, no ano 354. Era filho da futura Santa Mônica e de um pagão que se converteu no leito de morte. A morte de santo Agostinho teria ocorrido em 28 de agosto na cidade de Hipona — atual Annaba —, também na Argélia. Daí vêm duas coisas: a data litúrgica do santo e o nome “Agostinho de Hipona”, pelo qual foi conhecido.

“Ele cresceu em um lar misto, mas com influência do pai, que era um homem honesto, mas não religioso, e em um modelo de educação que primou muito mais pela formação intelectual do que para se tornar um religioso”, disse Felipe Cosme Damião Sobrinho, padre e professor na faculdade de teologia da PUC-SP

CONVERSÃO TARDIA

A formação intelectual seria o destaque da vida do futuro santo. Agostinho estudou retórica, se tornou professor e adotou um estilo de vida hedonista. A conversão ao cristianismo só aconteceria mais tarde, por volta do ano 386.

“A conversão de santo Agostinho foi em um momento de crise existencial e um processo que levou anos. Ele tinha um ímpeto de buscar o sentido da vida, e, nessa busca, ele não havia encontrado até então. Buscou de forma hedonista, mas não conseguiu”, disse Felipe Cosme Damião Sobrinho.

De acordo com a história, a mãe de Agostinho, santa Mônica, pedia incessantemente a Deus pela conversão do filho. A festa dos dois santos está profundamente ligada. A data litúrgica de santa Mônica é 27 de agosto, um dia antes da festa de santo Agostinho.

MILAGRES X CONHECIMENTO

Após a conversão, Agostinho foi ordenado bispo em Hipona. E, a partir daí, iniciou um ministério com muitos sermões. Surgia, aí, um dos principais pensadores do cristianismo.

“Ele não ficou conhecido pelos milagres, mas sim pelo seu pensamento”, diz o professor Felipe Sobrinho. “Ele é conhecido também entre os protestantes, que estudaram Agostinho na Idade Média, é santo na igreja anglicana. Há um respeito intelectual.”

A relevância teológica é o motivo pelo qual santo Agostinho tem apelo popular, de acordo com os especialistas.

“O pensamento é extremamente estudado, seja na faculdade de Teologia, mas também em Filosofia, Psicologia? Ele é estudado em diversos aspectos. É o tipo de autor que não está represado no universo teológico. Antes de ser teólogo ele foi filósofo, retórico. Ele tem grandes contribuições para a filosofia. Mas, claro, na teologia, ele é o grande doutor, tanto que tem o título de Doutor da Igreja”, disse Dayvid da Silva.

Se destacam duas obras de autoria do santo. São elas: “Confissões”, livro autobiográfico redigido por volta do ano 400, e “A Cidade de Deus”, publicada mais próxima da morte do religioso.

OS AGOSTINIANOS

Santo Agostinho foi a inspiração para uma comunidade religiosa. Ela surgiu a partir do exemplo de vida e dos escritos de Santo Agostinho de Hipona, no século 4º, no norte da África. Após sua conversão, Agostinho fundou uma pequena comunidade monástica com amigos e discípulos, baseada na vida comum, na oração e no estudo.

Séculos depois, em 1244, o papa Inocêncio 4º unificou diversos grupos eremitas sob a Regra de Santo Agostinho. Nesse momento, surge a Ordem de Santo Agostinho, como ela é conhecida hoje. Esse momento marcou a institucionalização oficial da espiritualidade agostiniana na Igreja.

Os agostinianos unem espiritualidade profunda com compromisso intelectual e social. Da comunidade, saíram pessoas proeminentes, como Martinho Lutero, idealizador da Reforma Protestante, que dividiu a Igreja Católica a partir de 95 teses; e Gregor Mendel, conhecido como “o pai de genética”.

ORAÇÃO A SANTO AGOSTINHO

“Ó excelso doutor da graça, Santo Agostinho.

Tu que contaste as maravilhas do amor misericordioso operado em tua alma, ajuda-nos a confiar sempre e unicamente na ajuda divina.

Ajuda-nos, ó grande Santo Agostinho, a encontrar a Deus “eterna verdade. Verdadeira caridade, desejada eternidade”.

Ensina-nos a crer e viver na graça, superando nossos erros e angústias.

Acompanha-nos à vida eterna, para amar e louvar incessantemente ao Senhor.

Amém.”