SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Fiéis de todo o mundo estão na praça São Pedro, no Vaticano, aguardando o momento em que Dominique Mamberti, 73, aparecerá na sacada da basílica para divulgar a identidade do novo papa.

É ele o responsável pelo ritual de anúncio do próximo líder católico, comunicado pela frase “Habemus Papam” (temos papa, em latim) seguida do nome de batismo do sucessor de Francisco e o nome pelo qual ele será chamado.

A tarefa recai sobre o francês por ele ser o protodiácono do Colégio Cardinalício —ou seja, o cardeal eleitor mais longevo na Ordem dos Diáconos, uma das três divisões do órgão.

Quando ele alcançou o posto, em julho de 2024, o cardeal Renato Martino, morto em outubro do ano passado, era o mais longevo da ordem. Aos 91 anos, porém, ele não podia mais votar em um conclave, direito daqueles que têm menos de 80.

Caso Mamberti não apareça na sacada da Basílica de São Pedro, saberemos que ele mesmo é o novo papa. Isso porque, caso seja o escolhido, a função de dar a notícia recairá sobre o também cardeal-diácono Mario Zenari, atualmente representante diplomático da Santa Sé na Síria.

A carreira diplomática, aliás, é comum a ambos.

Natural de Marrakech, no Marrocos, Mamberti cresceu na França, para onde seus pais voltaram logo após seu nascimento. Antes de ingressar no Pontifício Seminário Francês, em Roma, estudou direito e ciências políticas na Paris 2. Foi ordenado sacerdote na ilha francesa de Córsega aos 29 anos, em 1981.

Cinco anos depois, em 1986, o atual cardeal ingressou no serviço diplomático da Santa Sé, segundo o site do Vaticano. No mesmo ano, serviu na representação papal da Argélia, onde ficou até 1990 antes de seguir para Chile, Nações Unidas, em Nova York, e Líbano.

De 1999 a 2002, atuou na Seção para as Relações com os Estados, órgão da Cúria Romana que equivale a um Ministério das Relações Exteriores. Após sair da seção, foi consagrado bispo na Basílica de São Pedro e enviado ao Sudão para atuar como núncio apostólico, cargo correspondente ao de um embaixador.

Ele representou a Santa Sé também na Eritreia, outro país africano, antes de ser nomeado secretário na chancelaria do Vaticano pelo papa Bento 16, em 2006. Mamberti ficou no cargo até 2015, ano no qual se tornou cardeal, indicado por Francisco.

Servir como chanceler consolidou seu nome como especialista em temas internacionais. Ao longo desse período, a Rússia e o Vaticano estabeleceram relações diplomáticas plenas, em 2009, e a Igreja Católica mediou conversas entre o regime cubano e a oposição para liberar presos políticos, em 2010.

Especialista em direito canônico, Mamberti é um grande defensor da doutrina moral católica. Em uma entrevista divulgada em janeiro de 2013 pelo Vaticano, ele criticou o Tribunal Europeu de Direitos Humanos por decidir contra o uso da objeção de consciência a duas pessoas que se negaram a atender profissionalmente homossexuais —em um caso, a medida era em relação a celebração de união estável; no outro, aconselhamento conjugal.

“A Igreja busca defender as liberdades individuais de consciência e de religião em todas as circunstâncias, mesmo diante da ‘ditadura do relativismo'”, afirmou o cardeal na ocasião. “Em relação a temas moralmente controversos, como o aborto ou a homossexualidade, a liberdade de consciência deve ser respeitada. Em vez de ser um obstáculo ao estabelecimento de uma sociedade tolerante em seu pluralismo, o respeito à liberdade de consciência e de religião é uma condição para tal.”