SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em leve baixa nas primeiras negociações desta quinta-feira (8), mas intensificou queda e voltou ao patamar abaixo de R$ 5,70, após o anúncio de um acordo tarifário entre Estados Unidos e Reino Unido, e decisões sobre as taxas de juros do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e do BC (Banco Central do Brasil).
Às 13h22, a moeda norte-americana caía 1,09%, a R$ 5,681. Nesta quarta-feira (7), o dólar também abriu em baixa, mas inverteu o sinal e fechou com alta de 0,58%, cotado a R$ 5,743, seguindo a tendência de valorização da divisa dos EUA globalmente.
O recuo do dólar nesta sessão devolvia alguns ganhos depois das últimas três sessões, em que a divisa dos EUA acumulou uma elevação de 1,56%. No ano, porém, o dólar acumula baixa de 7,03%.
Já a Bolsa disparava 3,00%, a 137.388 pontos, no mesmo horário, tendo fechado com queda discreta de 0,08%, a 133.397 pontos, na véspera. O índice era endossado pelo viés externo positivo e com a temporada de balanços também sob os holofotes. As ações do Bradesco estavam entre os destaques, subindo mais de 15% após resultado melhor do que o esperado no primeiro trimestre de 2025.
Tanto o mercado de câmbio quando o mercado de ações se beneficiavam da decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC e do acordo tarifário entre EUA e Reino Unido.
Na cena doméstica, o mercado nacional reagia à decisão do Banco Central, que elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual no início da noite de quarta-feira, a 14,75% ano. É o maior nível registrado em 19 anos.
A autoridade monetária, porém, deixou em aberto seu próximo passo na reunião de junho. Economistas e analistas do mercado já aguardavam a alta e acreditam que o ciclo de elevação dos juros está perto do fim.
“O mercado de câmbio opera com viés de baixa nesta quinta-feira, refletindo a combinação de juros elevados no Brasil, ambiente externo misto e movimento técnico de correção”, diz Bruno Botelho, especialista em câmbio da One Investimentos.
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“O comunicado do Banco Central retirou o termo ‘ciclo’, indicando proximidade do fim do aperto monetário, o que suaviza parte do movimento, mas mantém o diferencial de juros em níveis historicamente altos”, afirma Botelho.
Paulo Silva, cofundador da Consultoria Advisory 360, afirmou que o comitê tomou a decisão acompanhada de um comunicado firme do Banco Central, reafirmando o compromisso de manter uma política monetária contracionista para controlar a inflação.
“Isso aumentou a confiança dos investidores, trazendo previsibilidade e reduzindo riscos”, diz Silva.
Com ele concorda Davi Lelis, especialista e sócio da Valor Investimentos.
“Como não foi nada fora do esperado e dentro do radar dos investidores, a Bolsa reage bem no dia seguinte”.
Na perspectiva de Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, o comunicado do BC sinaliza um arrefecimento na subida da Selic.
“Não significa que vai cair, mas pelo menos a gente deve ver manutenções da taxa daqui para frente muito provavelmente.”
Segundo Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos, tendo em vista a linha técnica que o presidente do BC Gabriel Galípolo tem adotado, a expectativa é de que a Selic seja mantida inalterada para as próximas reuniões.
“Tivemos uma decisão dentro do esperado, que foi unânime e isso é positivo. Agora estamos com uma das maiores taxas de juros real do planeta, o que é ruim. Mas é bom saber que Galípolo está comprometido com as questões técnicas.”
A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, ocorre nos dias 17 e 18 de junho.
Na véspera, os analistas também avaliaram a mais recente decisão do Fed, que manteve a taxa de juros inalterada, na faixa de 4,25% a 4,50% pela terceira vez consecutiva, e sinalizou que os membros observam riscos crescentes para o aumento da inflação e do desemprego em meio à incerteza sobre as tarifas.
Em coletiva de imprensa após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, reforçou que o banco central dos EUA está sem pressa para reduzir os juros novamente, enquanto analisa os impactos das políticas do governo Trump sobre a economia.
“Basicamente ele afirmou que ninguém sabe o que vai acontecer com a inflação. Então não tem como dar nenhum indicativo de próximas movimentações dos juros”, diz Correia, da Dom Investimentos.
Na cena internacional, os movimentos do real e da Bolsa nesta sessão também refletiam um cenário de maior apetite por risco no exterior, após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar um acordo tarifário com o Reino Unido, o primeiro desde que embarcou em uma série de negociações comerciais com seus parceiros.
Em publicação no Truth Social, ele afirmou que o acordo comercial criará uma zona de comércio para alumínio e aço e protegerá a cadeia de suprimentos farmacêuticos, enquanto o acordo era anunciado na Casa Branca.
“Isso tem favorecido as esperanças dos investidores de que talvez as tensões comerciais possam começar a ser reduzidas daqui para frente, com a possibilidade de acordos”, diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Além disso, o acordo tarifário com os EUA alivia os mercados e beneficia países emergentes como o Brasil, atraindo capital estrangeiro para a Bolsa em busca de melhores oportunidades.
“Esse acordo pode acabar beneficiando setores como automóveis, aço, tecnologia. Isso traz um otimismo global que reflete aqui na nossa Bolsa também”, diz Lelis, da Valor Investimentos.
“A instabilidade nos mercados desenvolvidos, a dependência da economia brasileira em commodities e a perspectiva de um ciclo de crescimento mais consistente atraíram investidores internacionais”, afirma Silva, da Advisory 360.
Os mercados financeiros têm sido abalados desde que Trump anunciou uma série de tarifas abrangentes em 2 de abril, no chamado “Dia da Libertação”. Uma semana depois, ele forneceu uma pausa de 90 dias para a maioria das taxas, mantendo, no entanto, as tarifas sobre Pequim.
A disparada da Bolsa também era impulsionada pelas ações do banco Bradesco, que registraram alta de mais de 15% após o lucro do banco subir para R$ 5,9 bilhões no 1º trimestre. A cifra representa um crescimento anual de 39,3% e trimestral, de 8,6%.
O resultado, divulgado pelo banco nesta quarta-feira (7), veio acima dos R$ 5,43 bilhões projetados por analistas consultados pela Bloomberg.
Por volta das 13h20, as ações ordinárias do Bradesco (BBDC3), que dão direito a voto, subiam 14,04%, a R$ 13,37. Já as ações preferenciais do banco (BBDC4), com prioridade no recebimento de dividendos, tinham alta de 15,56%, a R$ 15,07.