SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa Datafolha mostrou que 54% dos brasileiros confiam na prescrição de medicamentos por farmacêuticos e que 64% dos entrevistados diz acreditar que isso pode reduzir as chances de automedicação.
O levantamento foi encomendado pelo ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade) e ouviu 2.009 brasileiros de todas as regiões com idades entre 16 anos ou mais e foi realizado de 1 a 7 de abril deste ano. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Dentre os participantes que responderam confiar na prescrição de farmacêuticos, 64% têm idades entre 16 e 24 anos e 57% são mulheres.
Já a ideia de que a prescrição de medicamentos por farmacêuticos reduziria as chances de alguém se automedicar foi vista em mais da metade de todos os grupos entrevistados, com 67% daqueles que possuem ensino médio e 57% das mulheres.
“Diante da dificuldade de acesso ao sistema público de saúde, o brasileiro procura a farmácia em busca de orientação”, afirma Walter Jorge João, presidente do CFF (Conselho Federal de Farmácia).
No começo de abril, a Justiça acatou o pedido do CFM (Conselho Federal de Medicina) e anulou a resolução que permitia com que farmacêuticos receitassem medicamentos. O CFF, no entanto, diz ter recorrido das decisões e afirma que seguirá defendendo o direito dos farmacêuticos de contribuir com o cuidado à saúde da população.
Procurado pela Folha de S.Paulo, o CFM não respondeu até a publicação desta reportagem.
Farmacêutico e diretor do ICTQ, Ismael Rosa diz que o dado é extremamente significativo para os profissionais da farmácia. “A confiança da sociedade demonstra que o paciente reconhece o conhecimento técnico e o papel clínico do farmacêutico, especialmente no contexto da atenção primária”, completa.
O especialista defende que a prescrição de medicamentos por farmacêuticos diminui as chances de automedicação. “Quando o paciente recebe uma orientação segura, respaldada por protocolos clínicos e pela atuação de um profissional qualificado, ele deixa de recorrer a práticas arriscadas e passa a usar medicamentos com mais consciência”, diz Rosa.
Já para o presidente do CFF, a confiabilidade do paciente no profissional farmacêutico representa o reconhecimento de um vínculo histórico. “Em muitos municípios e situações, a farmácia é o local de atenção primária à saúde”, completa João.
Segundo a pesquisa, a confiança na prescrição de medicamentos por farmacêuticos é de 56% entre os entrevistados moradores de cidades do interior e 57% entre aqueles que moram na região Norte.
Desde 2017, competências como anamnese, solicitação e interpretação de exames e prescrição passaram a integrar a grade curricular de estudantes de farmácia, de acordo com o CFF. O diretor do ICTQ diz ainda que a prescrição farmacêutica faz parte de uma evolução natural da atuação clínica do farmacêutico e não da substituição do médico e a pauta é cada vez mais presente nas diretrizes curriculares e nas disciplinas de atenção farmacêutica.
O CFF afirma que a prescrição farmacêutica substitui a indicação informal por uma prática segura e que o objetivo não é sobrepor outras profissões, mas somar para uma saúde integral. “Além disso, ao passar por uma consulta farmacêutica, ele será orientado a procurar um serviço de saúde sempre que a situação exigir”, completa João.
De acordo com o conselho, países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos já adotam a prática de prescrição de medicamentos por farmacêuticos.