MOSCOU, None (FOLHAPRESS) – Em Moscou para as celebrações russas dos 80 anos da rendição da Alemanha nazista na Segunda Guerra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem previsto na agenda uma reunião bilateral com Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia, uma das vozes dissonantes da União Europeia em relação a Vladimir Putin.

O encontro, marcado para o fim da tarde de sexta-feira (9), segundo assessores, deixa o presidente brasileiro ainda mais distante de Bruxelas. Fico, um veterano da política em seu país, voltou ao poder em 2023 emulando práticas populistas, consagradas no leste europeu pelo húngaro Viktor Orbán, que inclui ataques à imprensa, à Justiça e a entidades não governamentais.

Nos últimos meses, Fico tem subido o tom com a Ucrânia. Em janeiro, chegou a ameaçar cortar o fornecimento de energia ao país vizinho depois que Volodimir Zelenski interrompeu a passagem de gás russo para a Europa. É um dos poucos líderes europeus que mantém contato com Putin, com quem se encontrará pessoalmente pela segunda vez em cinco meses. Isso se chegar à capital russa.

A exemplo do que ocorreu com o avião da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, na semana passada, Fico teve pedido de uso de espaço aéreo negado pela Lituânia e por outros países da região do Báltico. Como o espaço aéreo ucraniano está inviável desde a eclosão da guerra, em 2022, a única alternativa é realizar percursos bem mais longos para alcançar Moscou, o que poderia atrasar ou mesmo inviabilizar sua presença na capital russa.

Fico reclamou das limitações em postagem no Facebook. O alvo da reclamação é Kaja Kallas, chanceler da União Europeia, que tinha ameaçado punir países membros e candidatos a aderir ao bloco que fossem à celebração de Putin. A semana de eventos relativos à Segunda Guerra em todo o continente elevou o tom dos discursos, com muitas críticas ao líder russo e à invasão que empreende na Ucrânia.

Lula, que chegou a Moscou na quarta-feira (7) e não enfrentou problemas em seu trajeto, defendeu em rede social sua presença no evento. “Já estou na Rússia para participar das comemorações dos 80 anos do Dia da Vitória, que marcou o fim da Segunda Guerra. O dia que define a vitória contra o nazismo. A vinda à Rússia reafirma nosso compromisso com o multilateralismo. Iremos assinar acordos de cooperação em ciência e tecnologia e buscar a ampliação das nossas parcerias comerciais”, escreveu.

O líder chinês Xi Jinping, que chamou Putin de velho amigo em encontro no Kremlin nesta quinta-feira (8), também usou o multilateralismo como argumento para comparecer à festa moscovita, com inegável contorno de propaganda política. A lista de convidados alcança líderes de 29 países, segundo o governo russo, e chama a atenção na Europa pela quantidade de ditadores e autocratas. Lula e Fico, aliás, são dos poucos políticos do grupo oriundos de regimes abertos e com eleições livres.

A agenda do presidente brasileiro em Moscou prevê um jantar e um concerto no Kremlin na noite desta quinta-feira (8). Na manhã seguinte, ele volta à Praça Vermelha para o desfile militar, a deposição de flores no túmulo do soldado desconhecido e almoço. À tarde, tem reunião bilateral com Putin, em que está prevista assinatura de acordo, antes do encontro com o primeiro-ministro eslovaco.

Lula deixa Moscou na manhã de sábado (10) e segue para Pequim, onde faz visita oficial de dois dias a partir de segunda-feira (12).