SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Promotoria de Justiça do Consumidor instaurou inquérito civil para verificar as condições de segurança na linha 5-lilás do metrô de São Paulo. A informação foi divulgada na manhã desta quinta-feira (8).
A ViaMobilidade, concessionária que administra o ramal, foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
A medida foi tomada após a morte de um passageiro na manhã de terça-feira (6) após ficar preso entre o trem e a porta da plataforma da estação Campo Limpo, na zona sul.
Segundo a ViaMobilidade, Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, tentou entrar no trem “mesmo após todos os alarmes visuais e sonoros”. Um agente de segurança da empresa afirmou à polícia que, por volta das 8h10, ouviu barulhos vindos da plataforma. Ele e os outros seguranças foram ao local e viram a vítima caída nos trilhos, já sem sinais vitais.
Segundo o Metrô, este foi o primeiro caso de morte relacionada às portas de contenção.
Questionada, a concessionária afirmou que a linha lilás dispõe de um sistema, utilizado nacional e internacionalmente, de sensores de obstrução de portas para impedir que os trens partam com as portas abertas. No entanto, admitiu que no espaço entre as portas do trem e da plataforma, onde o passageiro ficou preso, não há sensor.
“No caso em questão, mesmo após os alarmes visuais e sonoros, ao tentar entrar no vagão, o passageiro acabou ficando no espaço entre o trem e a plataforma, onde não há sensores. Como tanto as portas de plataforma quanto as do vagão estavam fechadas, o trem partiu”, disse a concessionária, em nota.
A empresa lamentou o acidente e destacou que realiza regularmente campanhas para alertar os passageiros sobre a importância de não entrar nem sair do trem após os alarmes nem tentar segurar as portas.
Em nota, a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) lamentou a morte e disse apurar as “ações e providências adotadas pela concessionária responsável”. “Conforme previsto em contrato, um processo sancionatório deverá ser instaurado para investigar as circunstâncias do caso”, acrescentou.
O presidente da ViaMobilidade, Francisco Pierrini, afirmou que a concessionária vai instalar sensores de presença nas portas das plataformas até fevereiro do ano que vem. Ele disse que esse projeto já estava sendo tocado pelos engenheiros da empresa, mas que agora será antecipado em razão da morte.
Enquanto isso, será implantado até o fim do ano um sistema de barreiras físicas na parte interna das portas da plataforma. Segundo Pierrini, são hastes de metal que vão bloquear a presença de qualquer pessoa ou mala entre o trem e a porta da plataforma.
“Se existisse a barreira física na parte interna da porta de plataforma, quando ela fosse fechar essa estrutura se depararia com a pessoa. Como tem o sensor de esmagamento, a porta não se fecharia e se abriria novamente. É igual à porta do trem, que se tiver alguma coisa lá, ela se abre novamente. Se tiver uma mala ou uma pessoa ali dentro a porta não vai fechar”, explicou o dirigente em entrevista à Band, dando o prazo de seis meses para que as barreiras sejam instaladas.
Luis Kolle, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô, afirmou que mesmo que o passageiro tenha tido responsabilidade no acidente, houve falha no sistema.
“A atitude do passageiro foi indevida, mas a gente não pode culpar a vítima. Houve uma fatalidade, mas é preciso pensar na melhoria do sistema, porque se aconteceu de uma pessoa ficar presa, alguma coisa no sistema falhou”, afirmou.
De acordo com Kolle, em uma situação de risco o trem não deveria ter conseguido partir.
“Ali tem que ter um sensor, tem que detectar que tem uma pessoa ali. A porta de plataforma teria de abrir de novo. A porta do trem até poderia permanecer fechada, mas a porta de plataforma deveria abrir para a pessoa sair dali da zona de risco. Algum erro de procedimento, alguma falha aconteceu”, afirmou.