SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O serviço de inteligência da Alemanha, chamado de Escritório Federal de Proteção à Constituição, suspendeu a classificação de extremista que havia ratificado à AfD (Alternativa para Alemanha) na semana passada após pedido de um tribunal da cidade de Colônia, nesta quinta-feira (8).

A agência não se referirá publicamente à AfD como um “movimento extremista de direita”, como havia sido decidido anteriormente, até que a corte analise uma contestação movida pelo partido. Até decisão do tribunal, a sigla continuará sendo tratada como suspeita.

A classificação anunciada na semana passada não era apenas conceitual —ela permitia que a agência de espionagem, também sediada em Colônia, intensificasse o monitoramento da AfD, recrutando informantes e interceptando comunicações do partido.

O rótulo tem como base um relatório de 1.100 páginas escrito pelos especialistas da agência. O documento não foi divulgado na íntegra ao público, mas considerou a AfD uma organização racista e anti-muçulmana.

“A AfD considera os cidadãos alemães com histórico de migração de países muçulmanos, por exemplo, como não sendo membros iguais do povo alemão”, diz um trecho do relatório. “A concepção de povo baseada em etnia e ancestralidade que predomina no partido não é compatível com a ordem democrática livre”, explicou na ocasião o órgão.

A agência já havia rotulado o partido como extremista em 2021, com a ressalva de que o status ainda demandava mais investigações para ser ratificado.

Embora não seja uma reversão da decisão, a AfD recebeu com satisfação a decisão desta quinta.

“Estamos usando todos os meios legais para nos defender contra a atualização feita pelo Escritório Federal para a Proteção da Constituição”, disseram os líderes do partido, Tino Chrupalla e Alice Weidel, em um comunicado conjunto. “Este é um primeiro passo importante em direção à nossa efetiva exoneração e, assim, contra a acusação de extremismo de direita.”

A ofensiva para banir o partido habita há anos os corredores do Parlamento, mas não havia ganhado volume. A classificação reviveu a possibilidade em um momento de ascensão do partido.

Dona da segunda maior bancada do Parlamento, obtida nas eleições de fevereiro, resultado inédito no pós-guerra, a AfD buscava nas últimas semanas se consolidar como uma corrente legítima do processo político do país, buscando eleger um vice-presidente do órgão legislativo e a liderança de comissões parlamentares.

Outros partidos, no entanto, mantêm um cordão sanitário da legenda, que tem integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo. A AfD afirma que o “Brandmauer”, ou firewall, como o isolamento da sigla é conhecido, está sendo não só desautorizado pelas urnas como provando que os partidos de centro trabalham em cartel para comandar o país.

A classificação de extremista havia levantado críticas de aliados internacionais.

Marco Rubio, secretário de Estado americano, declarou no X que a decisão era uma “tirania disfarçada” e que a Alemanha deveria reverter seu curso. Já o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, comparou a decisão do serviço de inteligência ao Muro de Berlim. “O Ocidente derrubou o Muro de Berlim. E ele foi reconstruído, não pelos soviéticos nem pelos russos, mas sim pelo establishment alemão”, escreveu ele na mesma rede social.

A ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, afirmou na ocasião que o relatório “é um exame abrangente e neutro” e que está dissociado da eleição ou de pesquisas eleitorais.