Apesar de avanços nas últimas décadas, o Brasil ainda enfrenta grandes desigualdades no desenvolvimento de seus municípios. Um levantamento divulgado nesta quinta-feira (8) pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) revelou que 47,3% das cidades do país ainda possuem Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) considerado baixo ou crítico — um cenário que afeta cerca de 57 milhões de brasileiros.
O estudo, que analisa dados de 2023, mostra que 4,5% dos municípios estão em situação crítica (pontuação inferior a 0,400) e 42,8% apresentam desempenho baixo (entre 0,400 e 0,599). Apenas 4,6% alcançaram um IFDM alto (acima de 0,800), enquanto quase metade (48,1%) estão na faixa moderada.
O índice é calculado a partir de dados oficiais sobre emprego, renda, saúde e educação — com indicadores como taxa de pobreza, acesso à educação infantil, mortalidade infantil e cobertura vacinal. Embora não seja igual ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o IFDM segue uma lógica semelhante de medir a qualidade de vida municipal, com uma escala que vai de 0 a 1.
Avanço nos últimos 10 anos
Mesmo com os números preocupantes, o cenário é melhor do que há uma década. Em 2013, 77,4% dos municípios brasileiros tinham IFDM crítico ou baixo. Em 2023, esse percentual caiu para 47,3%. A média nacional passou de 0,4674 para 0,6067, uma alta de 29,8%.
A evolução mais significativa foi na educação, com crescimento de 52,1% no indicador. Municípios pequenos (com até 20 mil habitantes) apresentaram avanços mais acelerados que grandes cidades. Ainda assim, 55 municípios pioraram no índice ao longo dos dez anos.
Brasil dividido: dois extremos de desenvolvimento
A desigualdade regional é nítida. Norte e Nordeste concentram 87% dos municípios com IFDM baixo ou crítico. No Amapá, todos os municípios estão nessa situação. Maranhão (77,6%), Pará (72,4%) e Bahia (70,5%) também lideram a lista negativa.
Por outro lado, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam maior equilíbrio: menos de 20% de seus municípios têm IFDM baixo ou crítico. São Paulo, por exemplo, tem apenas 0,3% de municípios nessa situação. O Rio de Janeiro, no entanto, destoa das demais com 31,8%.
Desenvolvimento leva tempo — e muita desigualdade pela frente
O economista-chefe da Firjan, Jonathas Goulart, alerta que os municípios em situação crítica devem levar até 23 anos para alcançar o nível de desenvolvimento dos mais avançados, caso mantenham o ritmo atual. “Temos um país dividido em dois. Embora todos estejam sob a mesma Constituição, há realidades completamente distintas.”
Melhores e piores colocados
O município mais bem avaliado do Brasil é Águas de São Pedro (SP), com 0,8932, seguido por São Caetano do Sul (SP) e Curitiba (PR). Todos os dez municípios com maior IFDM estão em São Paulo ou no Paraná.
No extremo oposto, Ipixuna (AM) aparece na última colocação, com apenas 0,1485. Entre as capitais, Macapá, Boa Vista, Belém, Salvador e Manaus figuram entre as piores. Apenas Florianópolis piorou no índice entre 2013 e 2023; Fortaleza e Maceió foram as capitais que mais avançaram.