PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A morte da turista goiana Amanda Borges da Silva, cujo corpo foi encontrado na semana passada num apartamento incendiado na cidade de Narita, no Japão, trouxe preocupação à comunidade brasileira no país, que reúne cerca de 210 mil pessoas.

Lilian Mishima, 41, que dirige há oito anos uma organização de apoio a mulheres, mães e vítimas de violência no Japão, diz que “o impacto da morte de Amanda foi muito maior do que os demais casos” acompanhados pelo grupo.

Ela afirma acreditar que isso se deve em parte ao fato de, dias antes, ter viralizado um vídeo de TikTok de uma turista ucraniana afirmando ter encontrado um homem sob sua cama, num hotel de Tóquio.

“As pessoas estão assustadas por envolver duas mulheres, em seguida a um aumento dos estrangeiros aqui no Japão”, diz Mishima, assistente social que mora no país desde 1994. A repercussão, segundo ela, se estende à comunidade estrangeira em geral.

Ela questiona a ausência de informações por parte da polícia e da própria mídia japonesa. “Só houve uma nota da [rede oficial] NHK e, mesmo assim, não foi a nacional, mas a NHK da região de Chiba”, diz, cobrando também a divulgação de comunicados sobre a investigação policial.

A notícia citava o incêndio, a morte de Amanda por asfixia com fumaça e a prisão de um desempregado de 31 anos natural de Sri Lanka, por suspeita de ter ateado o fogo. “O que tenho acompanhado, principalmente entre as mulheres, é uma insegurança muito grande. Será que não querem mostrar que o problema é maior?”, diz Mishima.

Na noite de terça (6), no metrô da capital japonesa, um homem com faca feriu uma mulher no pescoço e nas mãos, também com imagens que viralizaram.

Amanda, que morreu com 30 anos, morava em São Paulo, mas era natural de Caldazinha (GO). Em entrevista à TV Anhanguera, sua mãe, Valdenia, disse que a única filha havia descrito o Japão como “muito seguro” na véspera de sua morte, contando uma história.

“Ela foi comprar malas e esqueceu a mochila dentro do metrô, depois pediu a bolsa e eles conseguiram com tudo dentro, dinheiro, passaporte, tudo”, disse sua mãe. A história também foi relatada por Amanda no Instagram.

Natali Khomenko, a turista ucraniana, residente na Tailândia, falou na mesma linha em seu TikTok, de que havia viajado ao Japão porque “é um país muito seguro”. “Que é seguro a gente já sabe”, diz Mishima, cobrando mais informação sobre o que vem mudando, por exemplo, em violência doméstica.

Durante a recente visita de Estado de Lula a Tóquio, a assistente social e duas outras mulheres da comunidade brasileira se reuniram com a primeira-dama, Janja, em parte para expor sua preocupação.

Agora, diante das dificuldades enfrentadas pela família de Amanda para o retorno de seu corpo, acrescenta Mishima, “mandei uma mensagem [à equipe de Janja] pedindo se tem como dar uma força”.