SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Pela quarta vez, os amigos Ewan McGregor e Charley Boorman documentam sua viagem em duas rodas, que pode ser vista em “Long Way Home”, com os dois primeiros episódios disponíveis a partir de sexta (9), na Apple TV+.

“Queríamos que esta [temporada] fosse apenas divertida, sabe. Acho que tivemos experiências estressantes em algumas das viagens anteriores”, conta Ewan McGregor em entrevista à reportagem.

A nova temporada também celebra 20 anos de “Long Way Round” (2004), a primeira longa jornada da dupla, que foi de Londres a Nova York pelo leste, passando por países como Cazaquistão, Mongólia e o extremo leste da Rússia, antes de cruzar para o Alasca e descer pelas Américas.

McGregor e Boorman ainda exploraram o percurso da Escócia à Cidade do Cabo, na África do Sul (em “Long Way Down”); e de Ushuaia, na Argentina, a Los Angeles (em “Long Way Up”).

Desta vez, os amigos optaram por motos cinquentonas “temperamentais”, diz Boorman. “Com motos antigas você só tem 80% de chance de chegar aonde quer ir, acontecem panes. Mas essas panes e as coisas que dão errado são frequentemente as melhores partes da jornada, as coisas que você mais lembra”, completa.

Confira outros trechos da entrevista com a dupla a seguir.

PERGUNTA – O que foi melhor na viagem, a reunião, as paisagens em diferentes países ou pilotar motos antigas?

EWAN MCGREGOR – Tudo isso. Queríamos que esta [temporada] fosse apenas divertida, sabe. Acho que tivemos experiências estressantes em algumas das viagens anteriores, geralmente porque tínhamos que pegar um barco ou um trem ou algo assim em uma determinada data e isso causava estresse. Então tentamos eliminar isso e só queríamos nos divertir. Acho que esse era nosso plano, e as motos antigas ajudaram. A jornada era um grande circuito, então não havia grande importância onde estávamos. Mas as pessoas que conhecemos, os lugares que vimos foi incrível. É uma rota incrível por países que Charley e eu mal tínhamos visitado antes. Eu nunca tinha ido à Noruega, nunca tinha ido à Finlândia, nunca tinha ido à Estônia ou Letônia ou Lituânia, acho que nem mesmo à Áustria.

CHARLEY BOORMAN – E fazer isso em motos antigas desta vez, porque fizemos em motos elétricas da última vez, na América e até Los Angeles, e foi muito estressante. Estávamos usando tecnologia de ponta, mas muito inseguros se conseguiríamos chegar –foi um tipo diferente de estresse. Você tem tantos problemas quanto, você só tem 80% de chance de chegar aonde quer ir, acontecem panes. Mas porque as motos são antigas você tem mais chance de consertá-las, e por causa disso também você conhece muitas pessoas que podem ajudar a consertá-las, o que realmente aconteceu nesta viagem. Essas panes e as coisas que dão errado são frequentemente as melhores partes da jornada, as coisas que você mais lembra.

P – Vocês ainda acamparam na temporada, dormiram em florestas, mas desta vez parece que ficaram mais confortáveis. Esse era o plano, menos dificuldades e mais conforto?

EMG – Não, acho que foi provavelmente o mesmo equilíbrio. Talvez não tenhamos tido [um período] como na Rússia [em “Long Way Round”], onde tivemos cinco dias em que parecia que a paisagem não mudava, sabe? Estivemos mais em cidades, mais em centros urbanos, porque eles estavam mais próximos na Europa do que em algumas das outras jornadas que fizemos. Mas ainda tivemos nossas experiências de acampamento selvagem e, sim, tivemos airbnbs e coisas assim que talvez não pudéssemos ter antes…

CB – …e lugares engraçadinhos. Mas você lembra quando acampamos, acho que foi a primeira noite, na Suécia… acampamos naquela floresta? Eran um lugar deslumbrante. Chegamos lá e subimos por esta pequena estrada. Estávamos tentando, encontrar o lugar certo e encontramos o lugar perfeito, descemos das nossas motos e então vieram os mosquitos. Eles pareciam com aviões antigos gigantes voando lentamente na nossa direção. E assim que tiramos nossas barracas para armar tudo, começou a chover. Chovia tanto que ligamos um para o outro para conversar, porque sair da barraca não era um opção.

P – Vocês viram geleiras no Alasca, na Argentina e agora no Ártico. Alguma delas foi mais especial?

EM – Todas elas são lindas. Quero dizer, elas sempre são de tirar o fôlego, estar perto da borda de um fluxo de gelo assim é bastante especial. Esta talvez tenha sido única, por causa de onde ela estava. Estávamos bem ao norte em Svalbard, no Círculo Ártico. É tão ao norte que nunca ficava escuro.

Fomos até esta geleira por volta de 23h30, mas parecia meio-dia. Era totalmente dia claro, sabe. Acho que havia algo sobre o isolamento que era muito especial. É sempre muito deprimente quando você fala com pessoas que as estudam e te contam o quanto as geleiras estão recuando com o aquecimento global e a mudança climática. Foi realmente especial chegar perto dela.

CB – Foi engraçado quando, toda vez que você queria se aliviar, estávamos neste pequeno barraco, você saía do barraco e então tinha que ter alguém te acompanhando com um rifle ou uma pistola porque há tantos ursos. E então você está lá tentando fazer xixi e tentando fingir que não há alguém parado lá com uma arma e que não há um urso virando a esquina prestes a te comer, sabe, você tem que realmente se concentrar, sabe. Então isso, sim, eu lembro disso.

P – Quando viajam com a família, pensam, ‘hmmm, queria pegar minha moto para conhecer a região’?

EM – Sim, sempre. Quer dizer, já do aeroporto até onde quer que estejamos indo, eu olho pela janela e penso, ‘ah, queria estar de moto’. É muito mais fácil. É algo que já está tão enraizado em nós agora. Ver o mundo de cima de uma moto é uma ótima maneira de experimentá-lo. E sim, frequentemente fantasio sobre isso. Uma vez eu estava em Bali, ou talvez em algum lugar no México, e ouvi que havia um encontro de corrida de motos, um clube de corrida em algum lugar, mas bem longe. E eu disse: ‘pessoal, vocês se importam se eu, na quinta à tarde, der uma escapada por um tempo?’. Então peguei um táxi até esse lugar e fiquei sentado sozinho assistindo a pessoas correndo com motonetas em uma pista de kart. Foi perfeito.