SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “A gente quer consertar esse barco e ir para Gaza o quanto antes”, diz o brasileiro Thiago Ávila, um dos coordenadores da Flotilha da Liberdade para Gaza. Ávila seria um dos 80 integrantes da missão do barco Conscience (consciência), que levaria ajuda humanitária para os habitantes do território palestino, sob bloqueio total das forças de Israel desde o dia 2 de março.
Mas a viagem, que contaria também com a participação da ativista ambiental sueca Greta Thunberg, teve de ser adiada. Ávila e outros ativistas acusam Israel de ter atacado o Conscience com dois drones na madrugada de 1º de maio. O governo israelense, procurado por agências de notícias, não se manifestou.
Ávila não esmoreceu por causa do adiamento. Agora, o comunicador brasiliense de 38 anos afirma que as prioridades são ter uma inspeção independente sobre o que aconteceu, com representantes da ONU ou outros órgãos, e consertar a embarcação.
A guerra em Gaza começou após os terroristas do Hamas matarem 1.200 pessoas e levarem 251 reféns de Israel para Gaza em 7 de outubro de 2023. Desde então, a reação israelense matou mais de 52 mil pessoas, de acordo com autoridades da facção palestina.
Desde 2 de março, Israel bloqueou completamente a entrada de alimentos e medicamentos para os 2,3 milhões de residentes em Gaza. Os alimentos estocados durante um cessar-fogo no início do ano praticamente acabaram, segundo agências de ajuda internacionais.
O Conscience seria o 36º barco em missão da Flotilha da Liberdade. A última vez em que a flotilha conseguiu chegar a Gaza foi em 2008, ano em que foram realizadas cinco viagens bem-sucedidas com envio de alimentos, medicamentos e ajuda médica.
As tentativas subsequentes fracassaram -a maioria dos barcos foi interceptada pelas forças israelenses, e muitas vezes os ocupantes foram detidos. Outras embarcações tiveram problemas burocráticos para sair dos portos, pois Israel pressiona países a retirarem suas bandeiras e, apátridas, os barcos não podem atracar. Aconteceu de novo com o Conscience -Palau, pequena nação insular localizada no oceano Pacífico, retirou sua bandeira.
Em 2010, uma flotilha de sete embarcações, incluindo o turco Mavi Marmara, foi atacada por Israel -nove pessoas morreram e 50 ficaram feridas.
O Conscience levaria uma delegação de 80 pessoas de 21 países, entre eles, quatro brasileiros. Havia jornalistas, médicos, professores, comunicadores. Segundo relatos e vídeos de membros da Flotilha, o barco foi atingido por dois drones. O primeiro teria feito um buraco no convés dianteiro do navio. O segundo acertou o gerador de emergência e a base do sistema elétrico. Havia 18 pessoas a bordo.
A embarcação estava próxima à costa de Malta, em águas internacionais. “Condenamos nos termos mais fortes este ataque a um navio civil”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Turquia, observando que havia “acusações de que o navio foi alvo de drones israelenses”.
Veículos de mídia e fontes do governo israelense afirmaram que o barco era ligado ao Hamas e estava levando armamentos para Gaza. Após inspecionar a embarcação, o governo de Malta disse que não havia armamentos e que vai ajudar a consertar a embarcação.
A ativista ambiental Greta Thunberg estava em Malta, pronta para embarcar. “Greta ia até o final, ela é extremamente corajosa”, diz Ávila.
A mídia maltesa relatou que o governo de Israel teria exigido que Malta não deixasse o barco zarpar. O chanceler maltês, Ian Borg, disse que não comentaria o caso devido a sua sensibilidade.
Segundo Ávila, o plano era chegar a Gaza, entregar ajuda e estabelecer um corredor humanitário. “Sabemos que a chance de chegar em Gaza não era grande. Mas o processo de ação direta não violenta requer persistência”, disse à reportagem por videoconferência, de Malta. Ele diz ter planos de voltar ao Brasil para passar o Dia das Mães com sua esposa e com a filha de 1 ano e três meses, enquanto a embarcação passa por reparos.
Ávila rechaça acusações do governo israelense de que a flotilha tenha ligação com o Hamas. Ele diz que se trata de ação pacífica, de envio de ajuda humanitária e protesto contra o bloqueio e os ataques israelenses a Gaza.
“A Flotilha não se relaciona diretamente com nenhuma organização específica da Palestina, mas apoia o povo palestino como um todo. Não aceitamos na missão ninguém que tenha relação orgânica com qualquer organização, seja o Hamas, o Fatah, a Frente Popular de Libertação na Palestina.”
Ele afirma ainda que a coalizão compra os barcos que usa nas missões a partir de doações que o grupo recebe no mundo, especialmente nos países nórdicos. “A gente tem recursos limitados, então, normalmente, nossos barcos são muito pequenos, velhos e vivem dando problema.”