RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O Governo do Amapá afastou de suas funções os nove policiais militares envolvidos na morte de sete homens. Os agentes atiraram contra um carro durante uma abordagem, no domingo (4), em Macapá.

Os militares são do Patamo (Patrulhamento Tático Motorizado) e da COE (Companhia de Operações Especiais). Eles não tiveram as suas identidades reveladas. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Segundo a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), quatro dos homens baleados tinham ficha criminal por tráfico de drogas, roubo, porte ilegal de arma de fogo e associação criminosa.

Eles foram identificados como Erick Marlo Pimentel Ferreira (Billy), apontado como liderança de facção, Thiago Cardozo da Fonseca, Cleiton Ramon da Silva Pinheiro e Emanuel Braya Pimentel Ferreira (irmão do Billy).

A Sejusp informou, em nota, que “a ação policial foi motivada por denúncia de tráfico de drogas e presença de indivíduos armados”. De acordo com a PM, houve troca de tiros –essa versão é contestada pelas famílias das vítimas.

Entre os mortos está Wendel Cristian, jogador de futebol com passagens por diversos clubes profissionais amapaenses. Aos 21 anos, ele iria se formar em educação física no final deste ano e não tinha ficha criminal.

Wendel Cristian, jogador morto durante ação da PM em Macapá (AP) Arquivo Pessoal Um jogador de futebol está sorrindo enquanto segura um troféu em um campo. Ele está vestido com um uniforme azul e parece estar celebrando uma vitória. Ao fundo, há outras pessoas, algumas vestindo camisetas de diferentes cores, que também parecem estar comemorando. O ambiente é iluminado, possivelmente à noite, e o campo está coberto de grama. **** Além de Wendel, Wesley Jonatha Monteiro Ribeiro e o adolescente Max Ruan Dias Tolosa, 16, também não tinham envolvimento com o crime. O grupo estava voltando de um jogo de futebol quando ocorreu a abordagem.

Um vídeo que circula pelas redes sociais mostra o momento em que a PM atira várias vezes contra o carro. Todos os ocupantes morreram no local. O veículo ficou com marcas de balas na frente, atrás e nos lados.

A PM informou que apreendeu no carro uma espingarda, três pistolas e três revólveres, além de munição e drogas (maconha, cocaína e crack).

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) destacou, em um comunicado publicado nas redes sociais, que uma advogada das vítimas foi presa e encaminhada algemada para a delegacia. Segundo a entidade, a ação fere o estatuto da advocacia e configura abuso de poder.

“Todo e qualquer abuso contra advogados no exercício de sua profissão será fortemente combatido por esta seccional [OAB no Amapá], pois defender as prerrogativas da advocacia significa defender o direito da população à Justiça”, afirma trecho do texto.

A PM declara que advogada apresentou comportamento “hostil” e ameaçou policiais. Ela foi liberada após prestar esclarecimentos.

LETALIDADE POLICIAL

Amapá liderou por anos consecutivos a taxa de letalidade policial, proporcionalmente por população, comparado aos outros estados. Em 2023, foram registradas 186 pessoas mortas, um aumento de 44% em relação ao ano anterior. O crescimento ocorreu quando a média do país apresentou uma queda de 2,3%.

Os dados são do Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública), Fórum Brasileiro de Segurança Pública e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que foram analisados pelo observatório Fonte Segura.

Conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, também em 2023, o município de Santana, na região metropolitana de Macapá, tem o maior índice do Brasil de mortes violentas intencionais -correspondentes à soma de casos de homicídio doloso (crime com intenção), latrocínio (roubo seguido de morte), lesão corporal seguida de morte e intervenções policiais.

Foram 92,9 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes em Santana no ano de 2023, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que divulgou a análise feita a partir de dados fornecidos por órgãos ligados aos governos estadual e federal.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum, traz o ranking das dez cidades mais violentas do Brasil. Além de Santana no topo, o Amapá tem a capital Macapá em 9º lugar na lista que tinha reúne municípios de outros três estados.