ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS) – Passava das 18h em Roma (13h em Brasília) quando dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, chegou ao portão do Pontifício Colégio Pio Brasileiro, na Via Aurelia. De chapéu e camisa pretos, carregava uma pequena sacola da mesma cor. Bem-humorado, cumprimentou os jornalistas brasileiros presentes e entrou apressado.
Eram os últimos preparativos para a estadia por tempo indeterminado na Casa Santa Marta, residência dos 133 cardeais votantes do conclave que começa nesta quarta-feira (7) no Vaticano.
Entre as compras de última hora dos cardeais brasileiros estavam despertadores analógicos. Como foi amplamente divulgado pela Santa Sé, celulares são proibidos até o final do conclave, por motivos óbvios. De qualquer forma, não haverá sinal de telefonia. Acordar a tempo dos escrutínios matinais torna-se um problema prático. “Encontramos [os despertadores] aqui no chinesinho”, contou o reitor do colégio, o padre Valdir Candido de Morais, referindo-se a um pequeno comércio das proximidades.
Desde a noite desta terça-feira (6), os sete cardeais brasileiros que votarão no conclave já estão reclusos na Casa Santa Marta. Até que haja papa, só sairão do alojamento para votar na Capela Sistina.
Dos sete eleitores brasileiros, seis estavam hospedados no Colégio Pio Brasileiro, instituição religiosa de ensino mantida em Roma pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Deixaram o local às 20h30 de Roma (15h30 de Brasília) em duas vans disponibilizadas pelo colégio.
Além de dom Odilo, são eles dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro; dom Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil; dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília; dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus; e dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da CNBB.
O sétimo eleitor brasileiro, dom João Braz de Aviz, mora em Roma e foi diretamente para a Casa Santa Marta. Ele é prefeito emérito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, departamento da Cúria Romana que cuida de ordens e congregações religiosas.
Antes de saírem nas vans, na frente do colégio, os cardeais entoaram hinos religiosos, como o “Regina Caeli” (“Rainha do Céu”), e rezaram o Credo, o Pai Nosso e a Ave Maria diante de um pequeno altar com a bandeira do Brasil e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Além dos seis, estava presente o arcebispo emérito de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, que não participa do conclave por ter 88 anos, oito a mais que a idade limite para ser eleitor, mas participou das congregações, as reuniões preparatórias entre os cardeais.
Dom Raymundo abençoou os cardeais brasileiros antes do embarque nas vans. “Que o Espírito Santo os ilumine nessa missão tão importante, esse acontecimento tão grande para a igreja do mundo e também para nós do Brasil, porque temos sete cardeais participando nesse conclave. Um número significativo, aliás; é o número da perfeição, né? Então, são os melhores cardeais que nós temos para o conclave”, disse.
O Colégio Pio Brasileiro é o pouso tradicional dos prelados brasileiros na capital italiana. Tem acomodações para hospedar mais de cem padres, e 24 quartos reservados para situações especiais como a atual.
O convívio entre os cardeais brasileiros, nos dias que antecederam o conclave, teve inevitáveis momentos de descontração. Muitas brincadeiras ocorreram na van, indo e voltando das reuniões dos cardeais.
Dom Sergio, um dos mais irreverentes do grupo, arrancou risos brincando com dom Raymundo, ao ver os elegantes hábitos de cor marrom dos Arautos do Evangelho, associação de fiéis criada no pontificado de João Paulo 2º: “Se o senhor botar uma roupa daquelas, dom Raymundo, vai ser o papa! E eu vou fazer campanha para o senhor!”
Em outra ocasião, a caminho de uma das congregações de cardeais, dom Sergio virou para o arcebispo de São Paulo e disse: “Dom Odilo, eu vou dizer lá que o meu discurso é o seu: ‘Eu estou de acordo ipsis litteris com o que o senhor falou.'”