Lady Gaga levou à Praia de Copacabana, no sábado (3), um espetáculo que se destacou pela densidade estética dark e pelo forte apelo teatral. A apresentação, apesar de grandiosa, foi guiada por uma proposta mais introspectiva, com narrativa quase cinematográfica, marcada por seriedade e atenção aos detalhes. Sem recorrer ao entretenimento voltado diretamente para o público pular e cantar ou a participações especiais, a cantora preferiu seguir uma linha autoral, centrada em sua própria voz e conceito artístico.

A performance foi conduzida por Gaga com o apoio de uma banda completa, que ganhou visibilidade em diversos momentos do show. Embora tenha utilizado vocais pré-gravados em trechos específicos, a maior parte das músicas foi cantada ao vivo. A entrega física da artista ficou evidente especialmente após coreografias intensas, quando era possível ouvir sua respiração ofegante antes de retomar o canto.

O repertório foi baseado em três álbuns: o recém-lançado “Mayhem”, além de “The Fame” e “Born This Way”. A escolha formou uma narrativa sonora coerente, voltada ao dance pop com batidas cruas e sintetizadores marcantes. Em contrapartida, sucessos de outros trabalhos, como “Artpop”, “Million Reasons” e “Rain On Me”, ficaram de fora, o que reforçou a decisão da cantora de priorizar o conceito geral do show em detrimento de uma setlist de grandes hits.

A atmosfera do espetáculo foi construída com elementos visuais de forte carga simbólica, em sintonia com a proposta de uma “ópera gótica”. Figurinos, iluminação e cenografia seguiram esse tom mais escuro e dramático, criando um ambiente emocional que acompanhou a apresentação do início ao fim. Gaga ainda prestou homenagens ao público brasileiro por meio de trajes com referências à cultura nacional e à seleção de futebol. Em “Born This Way”, celebrou a diversidade LGBTQIA+ com um discurso lido ao vivo.

Em momentos pontuais, a cantora deixou a introspecção de lado para se aproximar da plateia. Chorou, improvisou falas e gestos de carinho, interagiu com fãs na grade e encerrou o show jogando um buquê de flores, como em um ritual simbólico. A conexão emocional foi percebida tanto por quem estava na areia quanto por quem acompanhava à distância, e reforçou a entrega da artista em um show que, apesar de contido em alguns aspectos, deixou uma marca significativa.

Com foco autoral, direção conceitual e presença intensa, Lady Gaga entregou uma apresentação que reforça sua identidade como performer e sua busca por inovação dentro do pop. O espetáculo em Copacabana se destacou não apenas pela estrutura técnica, mas pela convicção artística com que foi apresentado.