RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A skatista Raicca Ventura, aos 18 anos, vem se acostumando ao pioneirismo. Após se tornar a primeira brasileira a ser campeã mundial no Park, a jovem conquistou a primeira edição da disputa feminina da mini rampa do STU, em Porto Alegre, e iniciou a temporada no alto do pódio.

“Antes, tinha apenas só o masculino. Fiquei muito feliz de ter sido campeã logo no primeiro [torneio] feminino. Agora, temos mais uma oportunidade para competir, o que é muito legal”, disse Raicca Ventura.

Integrante da seleção brasileira, Raicca, agora, se prepara para o Park World Skate Rome, que será realizado em junho. O local traz boas lembranças: foi na cidade italiana que ela se tornou a melhor do mundo de skate park, no ano passado.

“De lá para cá, mudou bastante coisa. Você saber que você é campeã mundial, que é a melhor do mundo… Fiquei muito feliz ao pensar que todo o esforço que eu fiz e o que me levou até aquele lugar.”

“Eu tinha imaginado [que poderia ser campeã mundial], mas não sabia que estava tão perto de acontecer. E nem sabia se iria acontecer. Eu tinha consciência que poderia, um dia, ser campeã, mas quando acontece…. Eu não estava esperando”, admite.

Ao lembrar o título conquistado, Raicca citou que ficou “impressionada” por ter conseguido “acertar tudo na volta mais difícil”. A atleta cita o trabalho fora das pistas para que possa manter a concentração nos momentos necessários das provas.

“O que passo com a minha psicóloga me ajuda muito nesses momentos, nessas horas em que estou andando de skate, para entender minha mente. Ajuda muito para, na hora que estou na pista, pensar nas coisas certinhas, no que vou fazer, e não desfocar. Eu só penso no que está acontecendo no momento, em cada manobra”, conta.

A jovem começou cedo no skate e faz parte de uma geração que cresceu sob os holofotes das grandes competições, mas não se incomoda.

A modalidade, inclusive, chamou a atenção nos últimos ciclos pela pouca idade das participantes olímpicas. Recentemente, porém, a World Skate informou o veto a atletas menores de 14 anos em competições a partir de 2028.

“Acho que isso acaba se tornando algo natural da vida. Tem um lado legal que ver as pessoas que te acompanham crescendo, tanto na idade quanto no nível de skate, essas coisas. Não é algo que eu acabei trabalhando para lidar porque foi normal”, disse.

A BICICLETA TROCADA QUE ‘VIROU’ TÍTULO MUNDIAL

Raicca iniciou no skate por influência familiar. O pai, Elber Bereta, e o tio, Vanderley Arame, são apaixonados pela modalidade desde a juventude, e passaram esse amor para a atleta. Ela, inclusive, conta ouvir os conselhos e levar para a pista um pouco do estilo que aprendeu.

“Meu pai sempre me disse para andar de skate me divertindo. E o meu tio é muito criativo nas manobras, sabe? Sempre via isso, desde pequena. Então, sempre que eu vou andar, eu tento ser mais criativa.”

Se adotar a teoria de “efeito borboleta”, pode-se até dizer que o título mundial de Raicca começou com uma troca de uma bicicleta por um skate.

“Tudo isso começou nele. Meu pai falou que, certa vez, minha avó comprou uma bicicleta para o meu tio e ele trocou a bicicleta novinha por um skate velho. Minha avó ficou muito bolada, disse que não acreditava que ele tinha feito aquilo. Mas foi aí que ele e meu pai começaram a andar de skate”, lembra.

Elber é professor de skate e se tornou treinador da filha, a acompanhando até hoje. “Meu pai, nesse STU de Porto Alegre, foi dar um rolezinho e quebrou o ombro, mas não foi nada muito grave”. Vanderley foi skatista profissional.

O QUE MAIS ELA FALOU?

Ciclo para Los Angeles-2028. “Nunca paro de treinar. Saiu de Paris e já estava treinando para Los Angeles. Mas ainda falta bastante, temos ainda um ciclo à frente”.

Mudanças no skate após se tornar olímpico. “Senti que muito mais pessoas passaram a se interessar. Também parou aquela visão de achar que o skate é coisa errada, para pessoas erradas. Depois das Olimpíadas, as pessoas passaram a enxergar como esporte”.

Participou de uma campanha publicitária com Bob Burnquist. “O Bob é meu ídolo desde quando eu era criança. Sempre achei muito maneiras as manobras, as coisas loucas que ele fazia. Para mim, era o skatista mais ‘da hora’. Já o encontrei algumas vezes e já fui à Mega Rampa dele. Fui a primeira menina a fazer o combo na Mega Rampa dele e sou patrocinada pela marca dele”.