SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Primeiro cardeal na história da Suécia, Anders Arborelius, 75, representa uma opção de continuidade aos posicionamentos do papa Francisco em áreas consideradas sensíveis e que marcaram o pontificado do argentino, caso de ambiente e migração.

Mencionado em casas de apostas como um dos cardeais que têm alguma chance de ser eleito o próximo papa, embora não entre os mais favoritos, Arborelius sempre manifestou preocupação fervorosa com a defesa do ambiente, chegando ao ponto de apoiar uma lei internacional contra o que chamou de ecocídio. “O homem tem a obrigação de nutrir e preservar a natureza”, disse à imprensa sueca.

A exemplo de Francisco, ele é conhecido também pela defesa dos direitos de migrantes, inclusive de muçulmanos, e pede mais diálogo e integração, na contramão de políticas restritivas que ganharam força pelo mundo nos últimos anos.

Arborelius, ele próprio, é de certa forma um migrante. O cardeal nasceu em setembro de 1949 na cidade de Sorengo, na Suíça, e cresceu em Lund, na Suécia, país de maioria protestante e origem dos seus familiares. Converteu-se ao catolicismo em 1969 e, uma década depois, foi ordenado padre.

A maior parte dos católicos na Suécia é formada por imigrantes ou descendentes. Eles chegaram principalmente a partir da segunda metade do século 20, vindos de países da Europa Oriental, à época parte da União Soviética e, mais recentemente, do Oriente Médio. Muitos receberam o status de refugiados devido à perseguição aos cristãos no Iraque e à guerra civil na Síria, iniciada em 2011. Arborelius acredita que a presença da igreja em território sueco cresce justamente pelo acolhimento.

Moldado em um país no qual os católicos são minoria, Arborelius é descrito como um ouvinte atento e um cardeal paciente. Ele manteve a serenidade mesmo quando foi provocado por ateus em um programa televisivo, o que lhe rendeu respeito até de quem não é religioso.

“Arborelius não tem medo de nada. Ele conversa com todo mundo e não é contra ninguém, sempre buscando o lado positivo. Acredito que uma pessoa como ele pode indicar o caminho certo a ser seguido”, disse o papa Francisco em uma conversa com editores de revistas europeias, em 2022.

Ponto forte do cardeal é o fato de ele ser poliglota. Arborelius é mestre em línguas modernas pela Universidade Lund e fala de forma fluente inglês, espanhol, francês, alemão e holandês, além do sueco, segundo o site The College of Cardinals Report, criado pelo vaticanista Edward Pentin. Também estudou teologia e filosofia em Bruges e em Roma, onde obteve licenciatura em espiritualidade.

Sua trajetória eclesiástica é marcada por pioneirismos. O cardeal foi consagrado bispo de Estocolmo pelo papa João Paulo 2º em 1998 e se tornou o primeiro sueco a ocupar o cargo desde a Reforma Protestante, iniciada no século 16. Em 2017, tornou-se o primeiro cardeal da Suécia e de toda a Escandinávia por escolha de Francisco.

Um ano antes, em 2016, ele havia ajudado a organizar a viagem do papa à Suécia que teve como objetivo consolidar a reconciliação da igreja com protestantes. Na ocasião, o pontífice argentino manifestou pesar pelos massacres e prejuízos ocasionados pelo cisma entre cristãos.

Mas o tom diplomático e o desejo de evitar conflitos a todo custo, ao mesmo tempo, são vistos como seu calcanhar de Aquiles. Durante sua atuação como bispo, foi criticado por clérigos devido a sensação de um vácuo de poder, ainda segundo o The College of Cardinals Report.

Apontado como um cardeal progressista por seus posicionamentos sobre migração e ambiente, Arborelius se esquiva da temática e enfatiza rejeitar rótulos, uma tendência que, segundo ele, é muito perigosa e reflete a politização da religião.

Seu posicionamento sobre a bênção a casais do mesmo sexo é considerado uma incógnita, e o cardeal foi receptivo à mudanças implementadas por Francisco, incluindo possibilidade de comunhão para casados pela segunda vez e divorciados.

Por outro lado, ele já defendeu o celibato sacerdotal e se opôs à ordenação de mulheres. Caso ele seja eleito papa, portanto, os fiéis não devem esperar mudanças radicais na Igreja Católica, a exemplo do que ocorreu com o pontífice argentino. Assim como Francisco, Arborelius é visto como uma figura de equilíbrio.

Com frequência Arborelius é apontado como o católico mais proeminente da Suécia. Em junho de 2022, ele recebeu uma medalha do rei sueco por suas contribuições significativas à vida da igreja. Também é autor de vários livros com foco em espiritualidade e biografias de figuras religiosas notáveis.

Sua escolha representaria a abrangência da igreja, mostrando que, mesmo em nações onde os católicos são minoria, a fé pode se desenvolver e formar líderes de alcance mundial.