WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O megainvestidor Warren Buffett, uma das pessoas mais ricas do mundo, defendeu que os Estados Unidos façam comércio com todo o mundo e que comércio não deve ser usado como arma, em uma crítica à política tarifária do presidente do país, Donald Trump.
Buffett não citou o nome do republicano, mas afirmou que usar as taxas como embate já gerou precedentes negativos. A declaração foi dada na 60ª reunião anual que o investidor promove em Omaha, Nebraska, e em resposta a um questionamento específico sobre o comércio exterior.
“Não há dúvida de que o comércio pode ser um ato de guerra. Acho que isso levou a coisas ruins. As atitudes que isso provocou nos Estados Unidos, quero dizer, deveríamos estar buscando comércio com o resto do mundo e deveríamos fazer o que fazemos melhor e eles deveriam fazer o que fazem melhor”, disse Buffett.
“É um grande erro, na minha opinião, quando você tem sete bilhões e meio de pessoas que não gostam muito de você e você tem 300 milhões se vangloriando de alguma forma sobre como eles se saíram bem. Não acho que seja certo e não acho que seja sábio”, continuou.
O empresário ainda defendeu que se o mundo se tornar mais próspero, assim se tornarão os EUA.
“Eu realmente acredito que quanto mais próspero o resto do mundo se tornar não será às nossas custas mais prósperos nos tornaremos e mais seguros nos sentiremos, e seus filhos se sentirão algum dia.”
“É difícil prever o que essas grandes mudanças vão provocar (…) mas as coisas serão diferentes do que a gente pensa”, afirmou Buffet à plateia em Omaha. Para ele, o correto são os EUA buscarem os países em busca de negociações.
Antes de o megainvestidor falar publicamente, a Berskhire Hathaway divulgou o balanço da empresa em que admite que as tarifas impostas por Trump são prejudiciais aos negócios e amplia as incertezas, mesmo sem citá-lo.
“É razoavelmente possível que haja consequências adversas na maioria, senão em todos os nossos negócios operacionais, bem como em nossos investimentos em títulos de capital, o que poderia afetar significativamente nossos resultados futuros”, diz o documento sobre a política comercial de Trump.
O balanço reforça o caráter de imprevisibilidade trazido pelas sobretaxas, o que também foi reforçado por Buffett em suas declarações.
“Não podemos prever com segurança o impacto potencial em nossos negócios, seja por meio de mudanças nos custos dos produtos, custos e eficiência da cadeia de suprimentos, e demanda dos clientes por nossos produtos e serviços”, afirma a empresa no relatório.
Em fevereiro, Trump anunciou a imposição de tarifas de 25% ao Canadá e ao México, além de 10% à China, alegando ser em retaliação à postura dos países no tráfico de fentanil.
Depois, em 2 de abril, no data que chamou de “Dia da Libertação”, o presidente americano anunciou tarifas “recíprocas” elevadas a cerca de 60 países, além de uma sobretaxa linear de 10% a todas as nações do mundo.
Mais tarde, em resposta à queda nas bolsas e à péssima resposta do mercado financeiro, Trump recuou nas altas tarifas e manteve a de 10% a todos os países, exceto a China. Os produtos chineses são taxados em 145%, sendo que alguns bens, como seringas, podem receber uma taxa de 245%.
Neste sábado, Buffett também minimizou a volatilidade do mercado de ações nos EUA nos últimos dias dizendo que não devem ser considerados “enormes”. “O que aconteceu nos últimos 30, 45 dias… não foi nada de mais,” afirmou o investidor. Segundo ele, as ações da Berkshire Hathaway caíram pela metade ao em três ocasiões nos últimos 60 anos.