SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O líder religioso da minoria drusa da Síria denunciou, nesta quinta-feira (1º), uma “campanha genocida” contra sua comunidade e criticou o presidente Ahmed al-Sharaa após confrontos deixarem mais de 100 mortos em dois dias, de acordo com uma ONG.

A acusação mostra o nível de instabilidade que se mantém no país, sob novo governo desde a queda de Bashar al-Assad, em dezembro do ano passado.

Na época, a comunidade internacional viu com bons olhos a deposição do líder, responsável por começar uma sangrenta guerra civil que já dura mais de 14 anos, mas também desconfiou de Sharaa, um ex-jihadista que chegou a ter ligações com a Al Qaeda.

O xeque Hikmat al-Hajri, líder dessa comunidade que tem seguidores em Israel, Síria e Líbano, afirma que há uma “campanha genocida injustificada” contra civis e pede “intervenção imediata das forças internacionais” devido à falta de confiança no governo.

“Um governo não mata seu povo usando suas próprias milícias extremistas, apenas para dizer depois dos massacres que a culpa é de elementos descontrolados”, declarou o líder religioso. “Um governo protege seu povo.”

Os combates desta semana teriam começado na noite de segunda-feira (28) com um ataque de grupos armados pró-governo em Jaramana, no sul do país. A motivação do ataque teria sido a divulgação nas rede sociais de uma mensagem de áudio atribuída a um druso, considerada uma blasfêmia contra o profeta Maomé. A agência de notícias AFP não conseguiu verificar a autenticidade da mensagem em questão.

Na terça (29) e na quarta (30), o conflito teria chegado aos arredores de Damasco, onde 30 membros das forças de segurança e combatentes aliados foram mortos, assim como 21 combatentes da minoria drusa e 10 civis, de acordo com o OSDH (Observatório Sírio para os Direitos Humanos), uma ONG sediada no Reino Unido.

Na província de Sueida, no sul, um reduto da comunidade drusa, outros 40 combatentes dessa minoria morreram na quarta, sendo que 35 foram vítimas de uma emboscada, segundo a mesma organização.

Esses locais reviveram o pesadelo dos massacres que, no início de março, deixaram 1.700 mortos no oeste do país, a grande maioria deles membros da minoria alauíta, ramo minoritário do islamismo ao qual Assad pertencia. A violência nessa área costeira e montanhosa teria começado após ataques de homens filiados ao clã do ex-ditador contra as forças de segurança.

Também na quarta, Israel afirmou ter realizado um ataque contra o que classificou de um grupo extremista na Síria sob a justificativa de proteger a comunidade drusa —a primeira ofensiva militar de Tel Aviv em apoio ao grupo desde a queda de Assad, o que reflete a desconfiança do Estado judeu sobre os islâmicos sunitas que estão no poder.

Os drusos são numerosos nas Colinas de Golã, que Israel tomou da Síria na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e ocupa desde então.

Uma fonte do Ministério do Interior da Síria disse à agência de notícias Reuters que os ataques de Israel foram feitos com drones e tiveram como alvo forças de segurança do governo. A ofensiva matou um de seus membros, na cidade predominantemente drusa de Sahnaya, nos arredores de Damasco.

Em um comunicado, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmaram que o Exército israelense realizou “uma operação de alerta e atacou um grupo extremista” enquanto se preparava para continuar o ataque aos drusos em Sahnaya.

Um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Síria rejeitou “todas as formas de intervenção estrangeira” nos assuntos internos do país, sem mencionar Israel, e declarou o compromisso em proteger todos os grupos sírios, “incluindo a nobre seita drusa”.