SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após uma semana de crise para o governo federal, com a recusa de um ministério por um quadro do União Brasil e uma operação da Polícia Federal sobre fraudes no INSS, setores da esquerda têm poupado o presidente Lula (PT) de críticas mesmo após ele decidir não comparecer às celebrações de 1º de Maio promovidas pelas centrais sindicais em São Paulo.

Será a primeira ausência de Lula dos atos desde que assumiu o terceiro mandato, em 2023, em meio a cobranças pelo fim da escala 6×1. Apesar disso, com a alta da reprovação ao governo, grupos à esquerda mais críticos ao presidente optaram por blindá-lo de ataques internos para resguardar sua imagem para a eleição de 2026.

Sindicalistas que já haviam manifestado descontentamento com o governo Lula anteriormente minimizaram a ausência do presidente nos atos de 1º de Maio, mesmo se tratando de uma data histórica para o PT. À reportagem líderes alinhados ao governo declararam, sob reserva, que o petista ao menos cumpriu o papel de receber representantes em Brasília na terça (29) e ouvir demandas dos setores.

Um deles observou que o petista receia encontrar um ato esvaziado na manhã de quinta (1º), na zona norte de São Paulo, assim como ocorreu no ano passado, em Itaquera, na zona leste. Ele também ponderou que o presidente não quer ser associado aos sorteios de carros prometidos pelas centrais sindicais ao público, motivo alegado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) para não organizar os eventos deste ano.

Segundo aliados, o sorteio de veículos em um evento com a presença do petista poderia gerar novos desgastes para a imagem de Lula e mais um episódio que poderia ser explorado por parlamentares midiáticos de oposição.

No ano passado, o evento do Dia do Trabalho em São Paulo foi marcado pelo pequeno público. Lula disse em discurso: “O ato está mal convocado, nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar”.

À reportagem o deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), que já presidiu a CUT em São Paulo, disse que “não é bom pegar uma figura do tamanho do presidente e levá-lo a um ato esvaziado”.

Presidente nacional do PT, o senador Humberto Costa (PE) admitiu que a dificuldade de mobilização tem preocupado a esquerda e que possivelmente o evento em São Paulo também será esvaziado nesta quinta.

“Os atos de maior peso ocorreram aqui em Brasília [no dia 29], a mobilização foi boa. O presidente recebeu as centrais e a plataforma que está de acordo com a plataforma do governo. A gente sabe que as centrais sindicais estão vivendo dificuldade de mobilização e teremos dificuldades, neste 1º de Maio”, afirmou.

Já o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder do governo na Câmara, observou que, no pronunciamento em rede nacional na noite desta quarta (30), Lula listaria ações como a isenção do Imposto de Renda para contribuintes que recebem até R$ 5.000.

“Mais importante do que ir aos atos são os compromissos que ele tem seguido com a classe trabalhadora”, declarou Lopes.

Chinaglia acrescentou que o pronunciamento “supre eventuais considerações de que ele não estaria atento ao 1º de Maio.”

LEGISLATIVO

A preocupação em não gerar novos ruídos é reforçada pela recusa do Ministério das Comunicações pelo deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA) 12 dias após ter sido publicamente anunciado no cargo.

A crítica recaiu mais ao União Brasil e ao momento de repaginação do partido, que oficializou a federação com o PP, do que ao governo federal e à ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT). Além disso, a tolerância com a turbulência partidária alheia é vista como fruto da necessidade de Lula de contar com o centrão nas votações do governo.

Os partidos do mesmo centrão, apesar de manterem cargos no governo, não devem apoiar o presidente em sua tentativa de se reeleger em 2026, mais um motivo pelo qual os grupos de esquerda optaram por suavizar as críticas ao petista ao longo da semana.

No entanto, a líder do PSOL na Câmara, Talíria Petrone (RJ), negou que Lula tenha sido poupado: “Não é sobre a próxima eleição apenas, é sobre a reconstrução do Brasil e sobre estar junto ao lado daqueles que combatem a extrema direita, que se tornou um grande perigo em nível planetário”.

Na visão de um parlamentar do PT, outro episódio que desgasta ainda mais o governo é a operação deflagrada pela PF sobre as fraudes no INSS, que implicaram o envolvimento de aliados do ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT). Segundo o parlamentar, Lula está “entre a cruz e a espada” para definir o futuro do pedetista.

A cúpula do PDT, que antes pleiteava um ministério a mais na gestão, já alertou ao entorno do presidente que, caso Lupi seja demitido, o partido deixará o governo. Eles têm lembrado aos petistas que, num momento no qual Lula tem contado votos no Congresso, não seria prudente perder o apoio de 17 deputados e três senadores.