SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em forte alta nesta quarta-feira (30), com investidores repercutindo dados econômicos dos Estados Unidos e do Brasil divulgados pela manhã.
Também seguem no radar a guerra tarifária do governo norte-americano e a formação da Ptax de fim de mês. Calculada pelo BC (Banco Central) com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros, e agentes financeiros tentam direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições.
Às 15h55, a moeda subia 0,59%, a R$ 5,664, interrompendo a sequência de oito quedas consecutivas. Já a Bolsa perdia 0,19%, a 134.824 pontos, seguindo a tendência de Wall Street.
O PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados Unidos recuou 0,3% na base anual durante o primeiro trimestre, captando a resposta das empresas americanas à guerra comercial de Donald Trump.
A queda contrasta com o crescimento de 2,4% registrada no último semestre de 2024. Trata-se do maior recuo desde o primeiro trimestre de 2022.
A diminuição no PIB para o período era esperada por alguns analistas, mas foi pior do que algumas previsões. Economistas ouvidos pelo The Wall Street Journal, por exemplo, esperavam um crescimento de 0,4%.
A queda foi em grande parte resultado da corrida das empresas americanas para acumular estoques antes das amplas tarifas de Trump, com dados do Censo dos EUA na terça mostrando que o déficit comercial de mercadorias atingiu um recorde histórico em março.
Trump pediu paciência após os resultados e culpou seu antecessor, Joe Biden, pelo desempenho da economia.
“Este é o mercado de ações de Biden. Só assumi em 20 de janeiro. As tarifas começarão a valer em breve, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país prosperará, mas precisamos nos livrar do ‘excesso’ de Biden”, escreveu ele na rede Truth Social.
“Isso levará um tempo, não tem NADA A VER COM TARIFAS, apenas que ele nos deixou com números ruins, mas quando o boom começar, será como nenhum outro. SEJAM PACIENTES!!!”
Os EUA também divulgaram dados de emprego nesta quarta. O relatório ADP indicou que o setor privado abriu 62 mil postos de trabalho em abril, abaixo dos 147 mil criados em março e bem aquém das expectativas de 115 mil vagas de economistas consultados pela Reuters.
Os resultados fomentam a percepção de que a maior economia do mundo está se enfraquecendo, e as tarifas a serem implementadas pelo governo Trump após os 90 dias de pausa poderão acelerar o movimento.
O pregão ainda reflete os números de março do PCE (índice de preços de gastos com consumo pessoal, na sigla em inglês), o medidor de inflação preferido do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
O índice ficou inalterado em março, depois de avançar 0,4% em fevereiro. No acumulado de 12 meses, subiu 2,3%, desacelerando em relação aos 2,7% em fevereiro.
Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o PCE também ficou inalterado na comparação mensal, contra alta de 0,5% em fevereiro. Nos 12 meses até março, o núcleo da inflação aumentou 2,6%, após um avanço de 3,0% em fevereiro.
Os dados, sobretudo do PIB, estão causando mais um dia de queda nos índices de Wall Street. O S&P500 caía 0,47%, seguido por Nasdaq Composite (0,96%) e Dow Jones (0,48%).
O mercado também repercute o recuo de Trump em relação às tarifas do setor automotivo. Na véspera, o presidente assinou um decreto que ameniza o impacto das sobretaxas sobre o segmento, segundo informou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em entrevista coletiva.
O recuo ocorreu depois que Ford, General Motors e outras empresas reclamaram que as sobretaxas prejudicariam o setor ao aumentar o custo de produção e reduzir seus lucros.
Com a alteração, montadoras que pagam uma tarifa de 25% sobre importações de automóveis não estarão sujeitas a outras tarifas, como aquelas sobre aço e alumínio, disseram autoridades do governo americano nesta terça.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse nesta terça que a incerteza tarifária é uma “estratégia nas negociações” de Trump, e afirmou que não prevê choques nas cadeia de oferta causados pelas tarifas de Trump.
“Eu não acho que teremos um choque nas cadeias de oferta. E acho que os varejistas gerenciaram seus estoques antes disso”, disse durante uma coletiva sobre a agenda econômica do governo Trump nos primeiros 100 dias.
Ainda segundo o secretário, a China pode perder 10 milhões de empregos rapidamente devido às tarifas e que Pequim perceberá com o tempo que as tarifas chinesas não são sustentáveis.
Já na ponta doméstica, o mercado repercute os dados de emprego da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).
A taxa de desemprego subiu a 7% no primeiro trimestre, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador estava em 6,2% nos três meses finais de 2024, que servem de base de comparação.
Apesar do avanço, a taxa de 7% é a menor para um primeiro trimestre na série histórica, iniciado em 2012. O dado ainda veio exatamente em linha com as expectativas de analistas ouvidos pela agência Bloomberg.
Além disso, a dívida pública bruta do país recuou em março para 75,9% do PIB, sob efeito do crescimento da economia brasileira e de um resgate líquido de títulos apesar de uma pressão nos gastos com juros. Os dados foram divulgados pelo BC. No mês anterior, estava em 76,1%.
O dia ainda guarda a formação da Ptax de fim de mês, o que promete volatilidade no câmbio. “Os agentes disputam a formação dessa taxa porque ela é muito usada em contratos de derivativos, o que traz muita oscilação para a moeda e dificulta a leitura do mercado”, diz Leonel Oliveira Matos, analista de inteligência de mercados da StoneX.