SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foi na pequena Monte Belo do Sul que o norte-americano Michael Scott Carter decidiu iniciar sua jornada empreendedora pelo Brasil. Embora menos famosa que a vizinha Bento Gonçalves, a cidade também tem tradição na produção de vinhos.
Monte Belo faz parte da primeira denominação de origem de vinhos brasileira, a Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul. O município é montanhoso, com belas paisagens e poucas pessoas -apenas 2.530 habitantes.
É ali que o economista dos EUA, formado na Universidade de Buckingham, no Reino Unido, instalou as bases que criaram a sua vinícola. A chegada de um investidor norte-americano a um local com muitas empresas familiares e com produções artesanais levou um certo ar de novidade para a região.
Mas, de certa forma, a Michael Scott Carter Winery não está tão distante assim do conceito das vinícolas vizinhas. A empresa nasceu com uma produção pequena e inspirada em uma ligação familiar. A escolha pelo Brasil ocorreu porque os filhos do economista são brasileiros.
Lançada em novembro de 2024, a vinícola tem, até o momento, quatro rótulos. Um rosé, um branco, um tinto e um tinto reserva. Tudo passa por Michael. A vinícola conta com apoio de alguns enólogos da região, mas ele participa de todos os testes de avaliação, escolhe o perfil aromático e acompanha a colheita das uvas para garantir que as bebidas sigam a proposta original.
Todos são vinhos de corte, ou seja, usam mais de um tipo de uva na produção. Isso faz parte da identidade da marca, que visa destacar as características do terroir brasileiro -solo, clima, minerais- e evitar comparações com outros vinhos produzidos com a mesma uva em outros locais, em especial no chamado Novo Mundo.
“O que fizemos foi evidenciar o terroir único que tem o Brasil. Você prova com base no que é, e não com base no que você acha que deveria ser o sabor de um merlot ou de um outro tipo de uva”, afirma Michael.
O vinho branco (Ilé Amo) apresenta notas cítricas e florais. O rosé (Ilé Amogo) tem aroma de frutas vermelhas. Ambos são leves e refrescantes. O tinto (Ilé Amora) tem médio corpo e 13% de álcool. Também traz no paladar toques de frutas vermelhas, mas com notas de baunilha. Uma garrafa de qualquer um deles sai por R$ 131.
Já o tinto reserva, vinho mais elaborado da vinícola, é encorpado. Apresenta aromas de chocolate e no paladar tem toques de frutas negras e especiarias. Uma garrafa custa R$ 199.
Nos próximos meses, a vinícola deve lançar o seu primeiro espumante, ainda sem data para chegar ao mercado, e começar a produzir sucos de uva.
Todos os rótulos trazem um mapa do Brasil. Os nomes escolhidos para as bebidas usam palavras em iorubá. A proposta é valorizar a interação cultural.
Michael diz que busca interagir com a comunidade de Monte Belo do Sul e que quer fazer parcerias com pequenos produtores da região. Ele também está aprendendo a falar português.
Por enquanto, os vinhos podem ser comprados online, no site da vinícola. As equipes estão sendo integradas e começarão a trabalhar para que os rótulos sejam encontrados em pontos de venda como São Paulo.
Exemplares foram enviados para serem avaliados em premiações, e a vinícola pretende exportar os produtos. Em 10 de fevereiro, a marca inaugurou a sua presença internacional em um evento em Londres
“Passamos pelo processo regulatório para começar a vender nos EUA, vamos vender no Reino Unido, vamos lançar em Dubai e vamos lançar em várias cidades dentro do Brasil”, afirma Michael.
“Claro que as pessoas darão um foco no fato de sermos uma vinícola de um homem negro. Mas nossa perspectiva é: Olha, nós apenas fizemos algo divertido. Venha se juntar a nós.”