WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Pesquisas divulgadas ao longo da última semana apontam uma queda nos índices de aprovação de Donald Trump ao longo dos cem dias do segundo mandato. O republicano, que já ostentava o pior índice do período entre os presidentes da história moderna, acentuou essa marca.

Trump tem imprimido um ritmo acelerado na tomada de decisões e provocado transformações importantes em diversas áreas do governo nestes primeiros meses do ano. As ações passam por desde realizar demissões em massa em órgãos do governo federal, passando pelo endurecimento nas políticas de imigração, e mudanças na diplomacia americana, bem como na economia e na ordem comercial global.

Segundo o Pew Research Center, a aprovação dele caiu de 47% para 40% de fevereiro a abril. Isso seria impulsionado pela aplicação do tarifaço, que tem uma desaprovação de 54% segundo o mesmo levantamento.

De acordo com pesquisa da ABC News em parceria com o The Washington Post, o republicano tem 39% de aprovação -seis pontos a menos do que no início do governo- e 55% de desaprovação. No primeiro mandato, ele tinha 42% de aprovação nessa época.

O levantamento do Post aponta que, nessa mesma época, Joe Biden tinha 52% de aprovação do governo, e Barack Obama, 50%, no seu segundo mandato. Depois de Trump, os piores índices ficam com George W. Bush, que tinha 47% de aprovação nessa época. Gerald Ford e Richard Nixon tinham 48%.

O que tem chamado atenção de analistas é que a visão dos americanos sobre economia e imigração, temas em que Trump encontrava maior apoio, também tem piorado. A aprovação de Trump na condução da economia caiu para 39%, enquanto a desaprovação subiu para 61%, de acordo com o Washington Post. Dois meses atrás, antes do anúncio de novas tarifas comerciais impostas a diversos países, Trump registrava 45% de aprovação e 53% de desaprovação na área econômica.

Trata-se do pior índice de aprovação econômica registrado para o ex-presidente nesse levantamento, e o mais alto nível de desaprovação desde que ele voltou à Casa Branca.

Michael Traugott, professor emérito de pesquisa em estudos políticos no Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan, diz que geralmente os presidentes vivem uma espécie de “lua de mel” com o eleitorado, mas que isso foi embora muito rapidamente nesse mandato. O sinal negativo é o índice de desaprovação ao trabalho de Trump ficar maior do que o de aprovação em todas as principais pesquisas de opinião.

“A melhor palavra para descrever os primeiros cem dias é caótico, em parte porque a administração assinou todas esses decretos, tentando agir sem consultar o Congresso e tomando algumas ações de legalidade duvidosa”, avalia Traugott.

De acordo com pesquisa divulgada pelo The New York Times, 55% dos entrevistados desaprovam a condução da política econômica da Casa Branca, enquanto 43% a aprovam. Em relação à imigração, 51% desaprovam as ações do governo, contra 47% que demonstram apoio.

Para Traugott, as deportações sumárias conduzidas pelo governo Trump no último mês, com voos para El Salvador, sem que os atingidos tivessem a possibilidade de recorrer da ordem, têm impactado a avaliação sobre a imigração.

“Não é tanto ganhar controle da fronteira sul, reduzindo pessoas que cruzam, são as ações que eles tomaram sobre deportação e estão mandando pessoas embora sem oferecer-lhes o devido processo legal, uma chance de se defender perante o tribunal sobre por que não deveriam ser mandadas embora. Ele deportou crianças. Ele deportou cidadãos americanos.”

A forma como Trump tem imposto suas políticas é também alvo de insatisfação da população. Segundo pesquisa do Pew Research Center, 51% dizem acreditar que o republicano está exagerando na edição de decretos. Outros 27% dizem que ele está assinando as ordens na medida certa, e 5%, que ele está editando poucos decretos.

Presidente do Brazil Institute, Bruna Santos, avalia que mais do que o uso desenfreado de decretos, há um problema com o escopo delas. “Essa estratégia tem invadido, com frequência, competências tradicionalmente atribuídas aos estados”, avalia. “O uso abusivo de atos infralegais, medidas que contrariam a legislação ordinária ou a ordem constitucional, configura uma prática preocupante de ‘infralegalismo autoritário’. Todos os sinais apontam para uma crise constitucional iminente”, diz.

Trump já disse mais de uma vez que poderia tentar um terceiro mandato, algo vedado pela Constituição. Da última vez, em março, afirmou que não estava brincando. Segundo professores ouvidos pela reportagem, a única maneira de ele fazer isso seria alterando ou violando a Constituição, que veda inclusive que um presidente em segundo mandato concorra depois ao cargo de vice-presidente.

Para mudar a Constituição, Trump precisaria da aprovação de dois terços da Câmara e do Senado dos EUA. Se eventualmente aprovada pelas duas Casas, ao menos 38 dos 50 estados americanos (três quartos do total) precisariam também concordar com a mudança por meio de votações nos Legislativos locais.