SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em outubro de 2021, o diretor americano Joel Souza foi atingido pela mesma bala que tirou a vida da diretora de fotografia ucraniana Halyna Hutchins, disparada acidentalmente por Alec Baldwin.

A equipe gravava o faroeste “Rust” e a arma utilizada durante o ensaio de uma das cenas deveria estar carregada com festim, mas balas verdadeiras foram utilizadas por engano. O episódio trouxe ao filme uma fama maldita e o projeto chega aos cinemas americanos nesta sexta (2).

Em entrevista ao jornal The Guardian, o cineasta falou sobre os traumas deixados pela tragédia, a dificuldade em finalizar o projeto, e sobre sua relação com o ator protagonista, absolvido em julho de 2024 após ser julgado por homicídio culposo.

O caso se estendeu por uma série de reviravoltas, mas levou à condenação de Hannah Gutierrez, a armeira do longa -profissional responsável por revisar e supervisionar as condições das armas utilizadas em produções do tipo- por 18 meses.

“Eu gostaria de nunca ter escrito o maldito filme”, diz ele ao veículo americano ao se referir à produção como uma espécie de efeito borboleta. Ele relembra a data fatídica como um dia repleto de erros no set de filmagens. “Tivemos uma série de de eventos, decisões ruins seguidas de decisões ruins”.

Souza afirma ter crescido em um ambiente que não estimulava o uso de armas e diz não se sentir nada confortável perto delas. “O filme é sobre as consequências da violência. Existe uma natureza antiarmas nele.”

O diretor explica que o momento em que recebeu o tiro lhe pareceu não seguir as regras do tempo. “Sinto que fiquei deitado por cinco minutos. Aparentemente se passou meia hora. Não faço ideia do que estava passando pela minha cabeça quando tudo aconteceu”.

A dificuldade de retomar as gravações quase acabou com o projeto, mas Souza coloca a força da equipe e a vontade da família de Hutchins em ver a produção finalizada como as principais motivações. “Não poderia ver o filme sendo concluído pelas mãos de outra pessoa.”

O retorno foi doloroso e o diretor diz ter voltado em estado mental de completa bagunça, que se manteve mesmo quando as filmagens foram concluídas. Ele diz não ter, hoje, qualquer relação com Baldwin, seja de inimizade ou de empatia.

Souza critica o reality show lançado pelo ator em fevereiro, em que ele e sua família compartilham detalhes de sua vida luxuosa. Segundo o The Guardian, “A Família Baldwin” é uma atração desnecessária e de muito mau gosto. “Acho que na noite em que o programa estreou eu estava ocupado batendo com uma panela contra a minha cabeça”, afirma o cineasta.

Ele acredita que o acidente não foi suficiente para mudar certos comportamentos por parte da indústria. “Existe um sentimento nos sets de que esse tipo de acidente jamais aconteceria com eles. As pessoas não estão mudando. Elas só acreditam que nós tivemos muito azar.”