SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Moradores da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, voltaram a protestar contra a pressão de corretores, que se apresentam em nome de incorporadoras e construtoras, por venda de casas. Pelo bairro, diversas residências têm na fachada uma placa com a frase “esta casa não está à venda”.

A conduta estaria sendo aplicada no quadrilátero entre as ruas Bartolomeu Gusmão, Dona Avelina, Dona Brígida e Dona Inácia Uchôa, segundo os moradores.

Zysman Neiman mora há 25 anos no quadrilátero e diz que precisou se mudar há cinco anos após seus vizinhos aceitarem uma proposta de uma incorporadora. Com a “venda forçada”, diz, ele comprou uma casa duas quadras ao lado. Isso não afastou os corretores, que voltaram a bater em sua porta após a revisão do Plano Diretor da cidade, mesmo após múltiplas negativas.

Um jeito de lidar com a pressão é o grupo de resistência formado no bairro. Patricia Fox, que mora em uma das ruas, diz que 35 residências aderiram aos protestos. Também há um grupo de WhatsApp onde moradores relatam se de fato aceitaram alguma proposta, para se proteger contra o assédio dos corretores.

Já no Instagram, foi criado o perfil Chega de Prédios, com mais de 1.200 seguidores.

Patricia também reclama de placas instaladas anunciando que haveria um lançamento. A incorporadora colocou anúncios em casas estratégicas da rua, conta a moradora, dando a impressão de que quase tudo foi vendido.

A reportagem também achou placas nas ruas Dona Carolina, Mantiqueira, Juaracê e Dona Inácia Uchôa.

Procurada, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento afirmou que não consta, até o momento, pedido de alvará de aprovação ou execução de obra nova nos locais das placas. Também não foi localizado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente pedido de manejo arbóreo.

Ocorrências como essa se tornam mais comuns com o mercado imobiliário aquecido, afirma a advogada Viviane Chu Porcel, integrante da Ibradim (Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário).

“Proprietários vêm reclamando muito de ligações indesejadas quando seus imóveis nunca estiveram à venda. Isso infringe questões como sigilo de dados e [configura] até assédio, mesmo”, diz.

No caso da Vila Mariana, Porcel diz que, diante da insistência, por ter parentes contatados sem a permissão e devido aos boatos espalhados, tudo isso pode ensejar uma “ação por danos morais, com pedido de liminar de suspensão de contatos dos corretores sob pena de multa diária”.

O Secovi-SP (sindicato da habitação), o SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil de Grandes Estruturas) e a Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) afirmam que não oferecem qualquer cartilha ou código de ética para orientar seus representados sobre como corretores devem lidar com proprietários de imóveis.