SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em uma década, a desigualdade racial no aprendizado escolar se acirrou no Brasil. A diferença de desempenho entre estudantes brancos e pretos, pardos e indígenas (PPI) aumentou entre 2013 e 2023 em todas as etapas avaliadas pelo Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
A conclusão é de um estudo feito pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) e pelo Todos Pela Educação com base nos microdados do Saeb, do Ministério da Educação. A análise foi divulgada nesta segunda-feira (28), em que é comemorado o Dia da Educação.
Segundo o relatório, desigualdades educacionais que já eram evidentes antes da pandemia não apenas persistiram no país nos últimos anos, como ainda foram aprofundadas. É o caso das disparidades de aprendizagem por raça.
Historicamente, o conjunto de estudantes pretos, pardos e indígenas têm desempenho menor na avaliação do que os brancos. Essa diferença se acentuou no período analisado, aponta o relatório.
Os dados mostram que as diferenças são evidentes já nos primeiros anos da vida escolar. No 5º ano do ensino fundamental, 61,7% dos estudantes brancos atingiram o nível de aprendizado considerado adequado em língua portuguesa em 2023. Entre os estudantes PPI, 53,5% atingiram esse nível. Em relação a 2013, houve um aumento de 0,3 ponto percentual na diferença de desempenho entre esses dois grupos.
O mesmo aconteceu em matemática, área na qual 41,3% dos estudantes pretos, pardos e indígenas alcançaram o nível adequado, enquanto entre os brancos a taxa foi de 50,8%. A diferença é 0,9 ponto maior do que em 2013.
Com poucas estratégias para mitigar essa desigualdade, a diferença de desempenho entre esses dois grupos de estudantes aumenta ao longo do ensino fundamental, chegando ao maior patamar no 9º ano.
Em 2023, 45,6% dos alunos brancos e amarelos alcançaram o nível adequado em língua portuguesa, enquanto entre pretos, pardos e indígenas esse índice foi de 31,5% -uma diferença de 14,1 pontos percentuais. Em 2013, essa distância era 9,6 pontos. Em matemática, a diferença entre os dois grupos cresceu 2,4 pontos.
No 3º ano do ensino médio, a diferença entre os dois grupos em língua portuguesa aumentou de 11,1 para 14 pontos. Apenas em matemática houve uma redução da desigualdade, passando de 4,4 para 3,9 pontos de distância.
A diminuição da disparidade de rendimento nessa disciplina, no entanto, se explica mais pela queda de rendimento dos estudantes brancos do que pela melhora dos PPI.
Em 2013, 8,5% dos brancos atingiram o nível adequado em matemática. Em 2023, esse índice caiu para 7,6%. Já entre os pretos, pardos e indígenas, o percentual foi de 4,1% para 3,7% nesse período.
As desigualdades também se refletem no nível socioeconômico. No 5º ano, 61% dos alunos mais ricos atingem aprendizagem adequada em língua portuguesa, frente a 45% dos mais pobres. Em matemática, os percentuais são de 52% e 32%, respectivamente.