SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma foto em preto e branco mostra a palavra amor, toda em letras maiúsculas, tatuada no lado direito do peito desnudo de um detento. A imagem de Rosângela Rennó, um sopro de vida na existência dura dentro da cadeia, ilustra o sentimento em torno do qual a atual exposição na galeria Galatea, em São Paulo, se organiza.

O curador e sócio da galeria, Tomás Toledo, reuniu obras de coleções particulares de vários estados e pegou outras emprestadas de galerias parceiras para montar a sua narrativa visual sobre o amor, “essa linguagem que passa muito mais pela reminiscência, pela memória, por aquilo que marca”, ele diz, do que pelo que é falado.

São trabalhos de 55 artistas -em formatos distintos como pintura, escultura, fotografia, vídeo e instalação-, distribuídos nas três salas da sede da rua Oscar Freire da galeria, organizados por eixos temáticos que versam sobre a atração dos corpos quando surge o desejo e a visão romântica do amor.

Logo na primeira parede, Toledo enfileirou obras acerca do poder magnético do desejo, nas quais vemos corpos se tocando e se aproximando até se amalgamarem. Aqui, um dos destaques é um óleo de Nonê de Andrade, filho do modernista Oswald de Andrade, na qual a silhueta de um corpo feminino entrega uma maçã à companheira.

“Parece um Adão e Eva, só que são duas mulheres, então são duas Evas”, observa o curador sobre a pintura do início da década de 1960.

Também nesta leva inicial de trabalhos há uma xilogravura rara, de 1978, de Hudinilson Jr. -conhecido pelos xerox eróticos de partes do corpo masculino- próxima a uma imagem recente de Mayara Ferrão feita com inteligência artificial que mostra o amor entre mulheres negras. Como se vê por estes exemplos, a exposição mistura obras e artistas de períodos históricos diferentes.

Na segunda sala, a temperatura esquenta. Uma fotografia em preto e branco do americano Robert Mapplethorpe com dois braços em riste faz alusão a um tipo de sexo gay, o “fist fucking” -melhor o leitor procurar por conta a definição-, enquanto um retrato ao lado, de Bauer Sá, mostra um homem segurando um grande falo esculpido em madeira.

Há também uma obra menos lembrada de Amelia Toledo, dos anos 1970, em que ela faz “uma crítica ácida ao estereótipo do homem heterossexual bem-sucedido”, diz o curador. Chamado “O Sonho do Executivo”, o trabalho consiste de uma série de telas com ícones associados ao sucesso, como um par de alianças brilhantes em ouro e uma poltrona reservada para cargos de chefia na empresa.

Abaixo das pinturas, uma mala de executivo aberta revela dentro uma calcinha semitransparente esticada de ponta a ponta.

A exposição conclui num tom mais melancólico, numa sala com obras que fazem alusão ao coração, seja diretamente, como no caso de uma fotografia da coleção de corações-objeto que pertenceram à artista Rochelle Costi, morta em 2022, ou metaforicamente.

Num dos trabalhos mais tocantes da exposição, duas amigas idosas rememoram com alegria, uma para a outra, as suas histórias de amor –o vídeo é do artista de Fortaleza Sérgio Gurgel. Como diz o curador, “o que fica do amor são as memórias, as lembranças que as pessoas não esquecem”.

CARVÕES ACESOS

Quando Até 24 de maio. Ter. a qui., das 10h às 19h; sex., das 10h às 18h, e sáb., das 11h às 17h

Onde Galeria Galatea – r. Oscar Freire, 379

Preço Grátis

Link https://galatea.art/exhibitions/95-carvoes-acesos/