SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Baratas-d’água gigantes são verdadeiros predadores em ambientes de água doce espalhados pelo mundo. A espécie, inclusive, pode devorar presas bem maiores do que ela, como peixes, cobras e até tartarugas.

A barata não é bem uma barata. Diferentes das espécies convencionais que a maioria das pessoas conhece, elas, na verdade, são percevejos gigantes aquáticos que pertencem à família Belostomatidae.

Criatura ganhou destaque em 2018. Na ocasião, o entomologista Shin-ya Ohba, professor da Universidade de Nagasaki, no Japão, publicou um estudo no periódico Entomological Science, no qual revela detalhes surpreendentes sobre o comportamento e o papel ecológico desses insetos.

Estudo compila anos de registros sobre mais de 150 espécies distintas de baratas-d’água. Entre elas, destacam-se as gigantes Lethocerus grandis e Lethocerus maximus, encontradas na América do Sul, que podem ultrapassar dez centímetros de comprimento.

“Entomologistas japoneses gostam das baratas-d’água gigantes porque elas têm uma morfologia interessante”, disse Shin-ya Ohba, ao National Geographic.

Pesquisador afirma que as patas dianteiras da “barata” lembram os braços do Popeye. O método de caça das baratas-d’água gigantes impressiona. Diferente da maioria dos insetos que se limitam a presas menores, elas vão além: caçam peixes, sapos, cobras e, em um caso registrado pelo próprio Ohba, uma dessas baratas foi flagrada devorando uma tartaruga jovem.

Segundo os cientistas, a espécie se camufla em meio à natureza. Assim, ela pode ser confundida com plantas, facilitando o ataque a suas presas. Quando um “alimento” em potencial passa por sua área de alcance, a barata-d’água gigante fecha suas patas dianteiras e agarra a criatura com as outras patas.

Ela perfura o corpo da presa, injetando enzimas e alguma substância anestésica para imobilizá-la. “A composição das toxinas da barata-d’água ainda não está bem clara, nem se são realmente venenosas”, explicou o professor da Universidade Trinity College, Charles Swart, ao National Geographic.

O inseto gigante ainda decompõe o tecido e, em seguida, o suga. Em presas maiores, o processo é mais demorado e pode levar algumas horas, além disso, pode ser que a vítima ainda esteja viva durante o processo.

REPRODUÇÃO E EQUILÍBRIO AMBIENTAL

Reprodução das baratas-d’água gigantes chama a atenção dos pesquisadores. Nessa espécie, quem cuida dos ovos são os machos. As fêmeas depositam os ovos nas costas deles, e cabe a eles garantir que tudo corra bem até a eclosão. Porém, o estudo realizado por Ohba revelou que algumas espécies do inseto, como a K. deyrolli, possuem fêmeas que procuram machos que comam ovos de outras fêmeas.

“Ao destruir os ovos da concorrente, uma fêmea pode copular com o parceiro da outra e se certificar de que o macho tome conta de seus ovos”, disse Shin-ya Ohba.

As baratas-d’água gigantes são peças-chave nos ecossistemas onde vivem. O ambiente aquático tende a ser saudável, já que elas ajudam a controlar populações de outras espécies. Mas, como muitas criaturas da vida selvagem, enfrentam ameaças como a poluição das águas e a introdução de espécies invasoras.