SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A COP30, 30ª conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, que acontece em novembro deste ano em Belém, precisa avançar nos mecanismos de implementação dos compromissos firmados pelos países em edições anteriores do evento para que seja considerada um sucesso.

A conclusão é de especialistas que participaram de um debate promovido pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade) na manhã desta segunda-feira (28). O evento foi realizado virtualmente para jornalistas.

“[A COP de] Belém será um sucesso se conseguir mudar o ritmo e a escala da implementação do Acordo de Paris. Por outro lado, o grande risco é que Belém normalize a lentidão, enquanto o planeta ferve”, disse Natalie Unterstell, especialista em políticas públicas e mudança do clima e presidente do Instituto Talanoa, think tank dedicado à política climática.

“O Acordo de Paris está funcionando, temos evidências disso. Tivemos muitos avanços na redução do desmatamento, na adoção de energias renováveis e vemos fluxos de investimento cada vez mais interessantes”, afirmou Unterstell.

Para ela, “Paris deve ser considerada ponto de partida, e Belém deve ser o ponto de virada”.

A pesquisadora de ciências da Terra Thelma Krug, líder do conselho científico da COP30, reforça que saímos da fase dos acordos e entramos na fase da implementação.

Segundo ela, a ciência que demonstra as mudanças climáticas causadas pela ação humana é clara. É essa ciência que deve alimentar as decisões políticas, embora os cientistas possam, muitas vezes, se sentir frustrados nesse processo.

“O nível atual de aquecimento climático, que engloba a atmosfera, o oceano e a biosfera terrestre, já é sentido no mundo inteiro e está levando a eventos [climáticos] extremos, como os que sentimos no Brasil —as secas na amazônia, as fortes chuvas no Rio Grande do Sul [em 2024] e o aumento das queimadas no pantanal”, disse.

Para enfrentar esse cenário, é necessário que os países persigam metas cada vez mais ambiciosas de redução das emissões de gases do efeito estufa, que agravam o aquecimento do planeta, e que a cooperação entre as nações seja fortalecida, diz a cientista.

“Espera-se maior liderança dos países desenvolvidos, demonstrando maiores ambições na redução de suas emissões e ajudando os países em desenvolvimento”, afirmou.

Outro caminho para acelerar a adoção das pautas climáticas é tornar os investimentos sustentáveis mais lucrativos, segundo Jorge Arbache, professor de economia da UnB (Universidade de Brasília).

“Investimentos verdes precisam ser rentáveis, além de entregarem benefícios sociais e para o clima. Eles devem dar esse passo adiante. Comércio e investimentos são fundamentais para acelerar a descarbonização e fazer a transição justa, gerando emprego, renda e impostos”, afirmou.

De acordo com Arbache, essa seria uma maneira de manter a agenda climática avançando em meio às adversidades econômicas, como as que surgem neste ano. Segundo ele, as previsões de uma eventual redução do crescimento econômico mundial têm reflexo negativo nos objetivos climáticos ao criarem mais espaço para os combustíveis fósseis e diminuírem o ímpeto na direção dos investimentos verdes.

Há ainda o movimento de diversos países que reorganizam suas finanças, investindo mais em defesa militar diante de ameaças de guerra e despriorizando orçamentos de sustentabilidade que teriam impactos positivos sobre o clima.

“Gostaria de ver o comércio se tornando uma ferramenta para promover a descarbonização em nível global, com investimentos que não estejam sujeitos ao protecionismo. Precisamos aprender a converter a agenda de capital natural em uma agenda de negócios”, disse Arbache.

Os debatedores também destacaram o papel de liderança da China no cenário atual. O país tem feito avanços em tecnologias de energia renovável e no mercado de veículos elétricos, além de demonstrar ambições robustas na redução de emissões.

Em evento virtual realizado no dia 23 de abril pela ONU (Organização das Nações Unidas) para tratar da agenda climática, o presidente chinês Xi Jinping defendeu a cooperação entre os países no combate ao aquecimento global e a ajuda financeira aos países vulneráveis.

O mandatário também anunciou que o país asiático divulgaria sua meta climática (conhecida como NDC, sigla em inglês para contribuição nacionalmente determinada) para 2035 antes da COP30. A China, assim como outras nações, está atrasada na entrega do compromisso.

A posição da China se opõe à do presidente norte-americano Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e lançou instabilidade sobre o multilateralismo na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.