SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O crescimento de uma nova concentração de usuários de drogas na alameda Barão de Piracicaba, no bairro dos Campos Elíseos, centro de São Paulo, tem trazido medo para vizinhos do local —que temem que o ponto se torne uma nova cracolândia.

Moradores que conversaram com a reportagem narraram uma série de problemas, incluindo a venda e o consumo de entorpecentes a céu aberto e ataques a outras pessoas que passam na rua.

Oficialmente, o principal ponto da cracolândia atualmente fica a cerca de 600 metros do local, na rua dos Protestantes. É nesse trecho que a Prefeitura de São Paulo faz uma contagem diária para identificar o número de usuários.

A análise tem indicado uma redução da concentração. Na quinta-feira (24), por exemplo, a média foi de 104 pessoas na rua dos Protestantes pela manhã e 194 a tarde. Há um ano o mesmo lugar foi frequentado em média por 345 pessoas de dia e 479 no período vespertino.

Ao mesmo tempo, porém, o número de usuários no novo trecho da Barão de Piracicaba tem aumentado, de acordo com vizinhos, especialmente nos últimos dias.

Segundo essas pessoas, o que antes era a reunião de um grupo pequeno para consumir drogas, já se tornou um ponto de venda, com crimes sendo cometidos a luz do dia.

Os moradores dizem que atualmente funciona no local uma espécie de feira da droga, com traficantes oferecendo seus produtos aos gritos. Eles relatam ainda consumo de crack em frente a crianças, brigas entre os usuários, saques e intimidações aos moradores do entorno.

Uma das vítimas da violência na região foi o motorista de uma van responsável por abastecer um mercadinho que funciona dentro de um condomínio no local. Uma câmera de segurança registrou quando os usuários de droga saquearam o veículo por volta das 9h do último dia 17.

Em um outro episódio recente, dependentes químicos furtaram a bateria de um carro de uma concessionária de telefonia que estava estacionado na rua.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse acompanhar permanentemente as movimentações de usuários de drogas e atuar com ações estratégicas para coibir o tráfico.

“As forças de segurança realizam ações constantes para impedir o comércio de entorpecentes, com patrulhamento, abordagens, prisões em flagrante e operações integradas para enfraquecer a atuação de traficantes”, diz o texto.

Também através de nota, a gestão Ricardo Nunes (MDB) afirmou que monitora as cenas de uso de drogas no bairro da Luz com auxílio de voos diários de drones desde agosto de 2023. “O ‘Painel de Monitoramento’ mapeia os locais com concentração acima de cem pessoas, orientando o direcionamento para os diversos serviços da gestão municipal à essa população”.

Segundo a prefeitura, “a presença de pessoas em situação de rua, usuários ou não de drogas, é registrada ocasionalmente em outras regiões, sem representar grupos volumosos”.

A reportagem conversou com três vizinhos da nova cracolândia. Todos pediram para não ter seus nomes divulgados por temerem represálias.

Uma moradora contou ter visto um menino correr pela rua para não ser assaltado. A mesma mulher disse que precisou fazer um empréstimo para ter dinheiro para instalar uma janela acústica. O equipamento custou R$ 5.000. Segundo ela, a ação foi necessária para que ela consiga dormir em meio ao barulho. Mesmo assim, classifica a situação como terrível e desanimadora.

Além da gritaria de traficantes que oferecerem seus produtos e a algazarra promovida pelos usuários, os vizinhos dizem sofrer com o som alto que emana de caixas de som de bares e cortiços ao longo da alameda Barão de Piracicaba. Um outro morador disse que não consegue dormir devido ao barulho na madrugada

O problema resulta em diversas ligações para o 190 da Polícia Militar. Mas, segundo os moradores, o problema não é resolvido.

Uma outra moradora disse ter observado uma multiplicação de dependentes químicos nas últimas semanas no local. Ela cita as brigas, o barulho e a sujeira como os maiores problemas.

Segundo a mulher, a presença dos usuários era mais pacífica até pouco tempo atrás, mas se tornou um incômodo a partir do momento que os dependentes passaram a abordar e intimidar os moradores com pedidos de dinheiro. De acordo com ela, quem nega acaba sendo cercado.

A mulher também afirma que de noite não há policiamento no local.

Conforme a prefeitura, a Subprefeitura Sé realiza serviços de limpeza na região central, incluindo varrição e lavagem de vias, todos os dias. Sobre o barulho dos comércios localizados na alameda Barão de Piracicaba, o município disse que o Psiu (Programa de Silêncio Urbano) incluiu a área na programação de fiscalização.

De acordo com a pasta da segurança estadual, no primeiro bimestre de 2025, as forças policiais apreenderam 36,2 toneladas de drogas em todo o estado, sendo 7,1 toneladas na capital. “Esse volume representa um aumento de 3,7 toneladas nas apreensões realizadas na cidade em comparação com o mesmo período do ano passado, resultado da intensificação do combate ao tráfico”.